Bom Jardim: uma flor de cidade

quinta-feira, 08 de junho de 2017

Bom Jardim não é tão somente um município limítrofe de Nova Friburgo. Possui uma história comum pois ambos pertenceram a Cantagalo, em princípios do século 19. Já tiveram no passado momentos de tensão quando o distrito de Amparo passou a pertencer a Bom Jardim e retornou a Nova Friburgo em 1911, depois de uma queda de braço entre as lideranças políticas. Mas a maior perda foi a freguesia de São José do Ribeirão, grande produtora de café, que passou a pertencer a Bom Jardim em fins daquele século. Foi para as terras onde hoje é Bom Jardim que muitos colonos suíços e alemães se dirigiram ao abandonar o Núcleo Colonial de Nova Friburgo, a exemplo dos Monnerat e dos Erthal.

Parte da história de Bom Jardim está em um Centro de Memória que funciona na outrora residência dos Corrêa da Rocha, cuja história familiar se confunde com a formação desse município. Mathias Corrêa da Rocha foi um dos primeiros sesmeiros dos Sertões do Macacu. Sucedeu-lhe Manoel Corrêa da Rocha e Luiz Corrêa da Rocha. Na linha familiar surge o coronel Luiz Corrêa da Rocha Sobrinho, cujo grande feito foi ter emancipado Bom Jardim de Cantagalo. Casou-se com a descendente de suíços Eugênia Cantídia Boechat, com quem teve os filhos Péricles, Olga, Edith e Odete. Cafeicultor e torrefador de café, dotou Bom Jardim de iluminação elétrica, em 1917. Como ele, seu filho Péricles Corrêa da Rocha, prefeito municipal por três vezes e deputado estadual, igualmente se notabilizou nos negócios do clã Corrêa da Rocha. Deposto pela revolução getulista, em 1930, Péricles se refugiou em Itaocara, administrando o engenho de beneficiamento de açúcar da família, o Engenho Central do Rio Negro, que passou a se chamar Engenho Central Laranjeiras. Na sua gestão, no período de 1930 a 1956, daria um novo impulso econômico à empresa, colocando-a entre os maiores engenhos de açúcar do país.

O prestígio político e a situação financeira permitiu que uma estação ferroviária passasse pela propriedade dos Corrêa da Rocha para transportar o café. A maior parte do acervo do Centro de Memória pertencera aos descendentes dos Corrêa da Rocha, mas nem todas as peças expostas são da família. Muitas pessoas doaram ou emprestaram artefatos antigos para ajudar a compor o respectivo centro. A residência que serve como Centro de Memória não é a casa-sede da antiga fazenda Bom Jardim, mas uma edificação de fins do século 19. Atualmente, Bom Jardim é um município muito mais ligado a memória familiar das famílias Erthal e dos Monnerat que chegaram a ser inimigos ferrenhos dos Corrêa da Rocha no campo da política. Possivelmente pelo fato de Péricles Corrêa da Rocha não ter tido filhos, a história dessa família vinha quase desaparecendo de Bom Jardim não fosse a iniciativa da prefeitura em adquirir a residência dos Corrêa da Rocha e manter a sua memória.

Como disse antes, a trajetória dessa família é inseparável da história de Bom Jardim. As instalações da antiga torrefação de café dos Corrêa da Rocha foram transformadas em um Centro Cultural. O político friburguense Galdino do Valle Filho tinha considerável influência em Bom Jardim, sendo correligionário de Péricles Corrêa da Rocha até porque o seu pai fora acionista do Engenho Central Laranjeiras. Mais uma vez vemos como a história de Nova Friburgo e de Bom Jardim se imbricam. Vale a pena uma visita ao Centro de Memória e Galpão Cultural. Mesmo contendo mobiliário de vários estilos de época, ao menos na sala principal tenta-se recriar um ambiente do Segundo Império.  Pode-se afirmar que Bom Jardim foi o primeiro e único município do Centro-Norte fluminense a criar não um museu, que demanda uma estrutura mais complexa, mas um centro de memória que pretende dar conta de mostrar a história da formação do município.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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