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Bom Jardim: um diálogo com a história de Nova Friburgo - Parte 1
quinta-feira, 07 de novembro de 2013
Nas primeiras décadas da instalação da vila de Nova Friburgo, no século XIX, muitos agricultores migraram para o vale do rio Grande em busca de terras menos frias e próprias para o plantio do café. Essa migração daria origem a um povoado nas margens do ribeirão de São José, que seria elevada em 1857, de curato a freguesia de São José do Ribeirão, pertencendo ao termo de Nova Friburgo. Pode-se afirmar que com o plantio do café em larga escala em São José do Ribeirão essa freguesia tornar-se-ia a mais próspera de Nova Friburgo. Próximo a essa freguesia está Bom Jardim, que na ocasião pertencia a Cantagalo. É provável que onde hoje se localiza Bom Jardim se estabeleceram os primeiros sesmeiros desde que a Coroa Portuguesa começou a distribuir sesmarias para a lavoura devido ao fracasso da extração de ouro nos afluentes dos rios Grande, Negro e Macuco nos Sertões do Macacu. Para ali migram continuamente muitos colonos suíços e alemães como os Monnerat, Hoeltz, Schumacker, Eller, Asth, Schotz, Gripps, Winter, Sanglard, Combat, Frotte, etc. Décadas depois, imigrantes italianos como os Caputo, Pecci, Lobosco, Magliano, Bianco, Cariello, Chiacchio, entre outros, para lá se dirigiram. Com o advento da República, São José do Ribeirão é beneficiado pelo decreto de 6 de julho de 1891 e se torna município. Entidade municipal criada apressadamente, desmembra-se de Nova Friburgo sob protestos da Câmara Municipal. Mas o pequeno burgo não possuía força coesiva para garantir-lhe uma sólida estabilidade administrativa e isso redundou na imediata revogação de seu status como município. Pelo decreto de 28 de maio de 1892 é rebaixado, voltando a pertencer a Nova Friburgo.
A mudança de regime monárquico para republicano acarreta instabilidade política no país e notadamente nessa região. Em 1892, volta a ser discutida a constituição do município de São José do Ribeirão, que, no entanto, muda de nome, passando a denominar-se Bom Jardim e ter a sede onde hoje se localiza essa mesma cidade. Em março de 1893 foi oficialmente criado o município de Bom Jardim. A perda de São José do Ribeirão para Bom Jardim gerou novos clamores e tensão entre Nova Friburgo e aquele município. Em 1911, a Lei n° 1003 desanexaria o território de Amparo de São José do Ribeirão e devolvê-la a Nova Friburgo. Mas quem estava por trás de todo esse quiproquó de disputas territoriais? Segue neste artigo uma hipótese do que provavelmente poderia estar ocorrendo naquela ocasião. Inicialmente devemos esclarecer que o governo republicano resolve punir a monarquista Cantagalo, cortando-lhe as carnes, retalhando-a, restirando-lhe territórios para enfraquecê-la. Afinal, o regime republicano era recente, os monarquistas poderiam reverter a situação política e Cantagalo abrigava inúmeros potentados barões do café. O seu peso político era significativo apesar de muitos deles estarem contrariados com o governo imperial pelo fim da escravidão. Sucessivamente as freguesias e territórios de Cantagalo vão emancipar-se para dar lugar a municípios como Carmo, Sumidouro, São Sebastião do Alto, Itaocara, Macuco, Duas Barras, Santa Maria Madalena, Trajano de Moraes, entre outros, que integram os 14 municípios do centro-norte fluminense. Voltando à indagação anterior, quem eram os atores políticos que naquela ocasião poderiam estar mediando forças entre Bom Jardim e Nova Friburgo? Em fins do século XIX, duas forças políticas se destacavam na região: coronel Luiz Corrêa da Rocha, em Bom Jardim, e coronel Galeano das Neves, em Nova Friburgo. A desanexação de Amparo de São José do Ribeirão e consequentemente de Bom Jardim, pode ter sido provocada pelos Galeano das Neves, que tinham grande propriedade rural em Amparo. Desejavam pertencer a Nova Friburgo e não a Bom Jardim. Galdino do Vale, ainda que oponente político dos Neves, igualmente advogou por essa causa. Parece-nos que o coronel Luiz Corrêa da Rocha tinha significativa representatividade junto ao governo central. Era filho de grande proprietário de terras e o seu pai chegou a possuir 25 fazendas no noroeste fluminense. A estação de trem se instala em Bom Jardim quando deveria ter sido alocada em São José do Ribeirão, já que produção de café se concentrava nessa localidade. E daí surge a lenda de que os agricultores de São José do Ribeirão temiam que as faíscas do trem queimassem suas lavouras se a linha férrea passasse por essa região. Pura lenda. Na realidade, a linha férrea e a estação de trem foram instaladas nas proximidades da Fazenda Bom Jardim, que deu nome ao município, de propriedade do coronel Luiz Corrêa da Rocha.
Continua na próxima semana.
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de diversos
livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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