Colunas
Bidu Sayão: o pequeno rouxinol
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
1ª parte
Nascida em 11 de maio de 1902, no Rio de Janeiro, Balduína de Oliveira Sayão, a Bidu Sayão, foi uma das mais célebres cantoras líricas no século 20. Sua relação com Nova Friburgo decorre do fato de seus ancestrais terem sido alguns dos seus primeiros habitantes da então vila: sua bisavó era a suíça Marianne Joseph, que veio com os colonos suíços para Nova Friburgo, em princípios do século 19. Marianne casou-se com o francês Guillaume Marius Salusse, que viera para Nova Friburgo curar-se de uma doença. Naquela época, acreditava-se que o clima frio e seco de Nova Friburgo favorecia a cura de diversas doenças, a exemplo da tuberculose. Guillaume Salusse abriu um hotel, inicialmente para receber doentes, que se tornaria um dos mais importantes da cidade: o Hotel Salusse. O casal Salusse, através de arranjos matrimoniais, casou suas filhas com homens ricos a exemplo dos Braga, Neves e Teixeira da Costa, tornando-se todo o clã uma das famílias mais abastadas e influentes na localidade.
Bidu Sayão, nesse tronco familiar, era filha de Maria José Teixeira da Costa de Oliveira Sayão, mais conhecida como Mariquinhas, e Pedro Luiz Oliveira Sayão, falecido quando Bidu era ainda criança. De família tradicional, chocou a mãe quando declarou sua intenção de ser atriz. Curiosamente, quando Bidu alcançaria a fama, sua mãe seria a sua eterna companheira, aparecendo sempre ao seu lado em suas apresentações. Como provavelmente Bidu Sayão demonstrara pendores artísticos, o seu tio Alberto Teixeira da Costa encaminhou-a a uma professora de canto. Médico e musicista, Alberto comporia futuramente várias músicas para a sobrinha, entre elas: O Canto da Saudade e O luar de minha terra, numa referência a Nova Friburgo. Musicou igualmente com belíssima melodia o célebre soneto de seu primo Júlio Salusse, O Cisne. A formação de Bidu Sayão se inicia com aulas de solfejo e impostação de voz com a professora romena Elene Theodorini. Aos 17 anos, fez sua estreia profissional em Roma, em O Barbeiro de Sevilha, de Rossini. Pelas mãos dessa professora, com 18 anos de idade, cantou no palácio da rainha da Romênia, em Bucareste, numa recepção a Hirohito, então príncipe herdeiro do Japão. Bidu Sayão declarou em uma entrevista a revista O Cruzeiro que esse fora um grande momento em sua vida. Em Roma, ainda no princípio de sua carreira, se recordaria com emoção da récita de gala na noite de casamento do príncipe italiano Umberto com a princesa Maria José, da Bélgica. Nessa ocasião cantou Don Pasquale, de Donizzetti, e nada menos que Mussolini estava presente nessa cerimônia. Estudou canto na França com o célebre tenor Jean de Reszke, um dos mais competentes e requisitados mestres do "bel canto”. Foi ele quem descobriu que ela era uma soprano-ligeira extraordinária. Desde então, a carreira de Bidu Sayão, que duraria 44 anos, foi intensa e ininterrupta, representando inúmeros papéis importantes da arte lírica. Entre as décadas 20 e 30 do século 20, se apresentou no Opera em Paris, Milão, Roma, Buenos Aires e Nova York, no Town Hall. Como soprano lírica, Bidu Sayão cantou nas maiores produções de ópera: As Bodas de Fígaro, La Traviata, Lucia di Lammemoor, O Barbeiro de Sevilha, Don Giovanni, Dom Pasquale, La Serva Padrona, L´Elisir d`Amore, Sonambula, O Guarani, entre outros. Favorita de Heitor Villa Lobos, estabeleceram uma parceria artística onde ela cantou, entre outras obras, Floresta do Amazonas e Bachianas Brasileiras. Na ópera, pôde realizar seu sonho antigo de interpretar papéis cênicos. Em Rigoletto, de Verdi, foi Gilda; em La Bohème, de Puccini, foi Mimi e em 1931 foi convidada pela Opera de Paris para ser Juliete em Romeu de Julieta, numa adaptação operística de Charles Gounod sobre a obra de Shakespeare. Declarou que a personagem que mais gostava de representar era Mélisande em Pelléas et Melisande, de Debussy. Em entrevista, Bidu Sayão revelou que detestava fazer papéis de camareirazinhas infelizes, sofredoras, meninotas apaixonadas e frágeis. Seu desejo era cantar Tosca e Butterfly, ambas de Puccini. Diferentemente de outras cantoras, especializou-se somente em vinte óperas, para preservar a sua voz. Miúda, delicada e elegante, jamais se conformaria com a ditadura da gordura: achava mentirosa a lenda de que a obesidade era proporcional ao tamanho da voz. Para se ter uma ideia da importância dessa cantora lírica, no Metropolitan Opera House, em Nova York, na galeria dos grandes nomes de cantores de ópera de várias épocas, encontra-se um quadro a óleo da brasileira Bidu Sayão. Integrou o cast do Metropolitan entre 1937 e 1952. Os críticos chamavam-na de "o rouxinol do Brasil.” A leveza e a pureza do timbre de sua voz, a sua maneira de cantar faziam dela a intérprete ideal para papéis nas óperas de Rossini, Verdi e Puccini. Declarou que outro momento importante em sua carreira foi quando cantou Demoiselle Élue, no Carnegie Hall de Nova York.
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de
diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário