A belle époque de Nova Friburgo

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Na semana do aniversário de Nova Friburgo, a historiadora Janaína Botelho publica, a pedido de A VOZ DA SERRA, detalhes da história do município, desde a sua fundação, há 197 anos, até os dias atuais. Neste artigo, ela destaca a “belle époque” da cidade.

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A morte na tenra idade dos dois filhos de Dom Pedro II, Afonso (1845-1847) e Pedro (1848-1850) consagrou o Rio de Janeiro como uma cidade, com uma atmosfera insalubre provocando a fuga dos cariocas abastados no verão. A Corte passou a se deslocar com regularidade para Petrópolis a partir da morte do primeiro filho do imperador, procurando no ambiente das montanhas o abrigo da canícula da Corte. Nova Friburgo já abrigava os que vinham se tratar da tuberculose, e para tanto, recebeu o investimento do Instituto Sanitário Hidroterápico do médico Carlos Éboli e o belíssimo prédio em estilo neoclássico, o Hotel Central, de mesmo proprietário, atual Colégio Nossa Senhora das Dores. O município receberia, como Petrópolis, veranistas cariocas que fugiam da febre amarela no verão. Permaneciam durante seis prolongados meses, chegando à cidade em novembro e retornando ao Rio de Janeiro aproximadamente em maio. 

Além de alugarem residências, os veranistas se hospedavam nos hotéis, sendo os mais importantes  o Central, Salusse, Engert e Leuenroth. Foi inaugurado o primeiro teatro na cidade, o Theatro D. Eugenia, para receber as companhias de ópera que promoviam amiúde representações na cidade. Igualmente o clou da estação eram as soirées e as representações no Theatro Dona Eugenia promovidas pelos próprios veranistas. Sob a denominação de festivais artísticos, organizavam representações teatrais nas quais os amadores distribuíam os papéis de acordo com a habilidade artística de cada um. 

A vinda habitual destes veranistas ofereceu novas formas de convivência social à elite friburguense, que foi se desvinculando cada vez mais do modelo vigente que se limitava ao círculo familiar. Influenciados pelos cariocas, europeizaram suas práticas sociais e adotaram novas formas de sociabilidade. Antes dos passeios campestres, os veranistas circulavam pelo centro da cidade, tílburis lotados tirados a parelhas robustas, com passo preguiçoso. Os rapazes de bom-tom envergavam as fatiotas domingueiras, flor à lapela, cigarretes à la maromba e bengalinha entre os dedos. No carnaval a tão esperada batalha das flores, copiando o carnaval de Nice, na França. Os veranistas foliões ornamentavam as carruagens com flores e em determinado momento se digladiavam atirando uns contra os outros as flores de suas carruagens. O final do século XIX foi, indubitavelmente, a belle époque de Nova Friburgo. 

Continua amanhã com o artigo 'De veranista à Era industrial'

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    A tradicional família Galeano das Neves

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    A Batalha das Flores em Nova Friburgo

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    Batalha da Flores. Ao fundo, outro palacete na Praça Paissandu

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    O famoso Hotel Engert

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    A elite friburguense na Fonte do Suspiro

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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