Amparo: circuito de turismo rural

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O atual distrito de Amparo, na fundação de Nova Friburgo, fazia parte da Freguesia de São José do Ribeirão. Em 1857, essa freguesia possuía uma população de mil pessoas onde se cultivava o café com um significativo plantel de escravos. No entanto, Amparo foi anexado a Bom Jardim no início da República. Isso não agradou a população local e depois de incessantes reivindicações conseguiu-se reverter a situação e tornar a anexar-se, em 1911, a Nova Friburgo. Esse distrito dá tanta importância à reintegração a Nova Friburgo que todo ano, em outubro, promove uma grande festa celebrando tal acontecimento.

Nesse ano foi mais especial: lançaram o circuito de turismo rural envolvendo boa parte da comunidade. Amparo não obstante ser considerado um distrito agrícola do município contribui com muito pouco na produção de verduras e legumes. Mas no passado, não era assim. Foi o que hoje é o distrito de Campo do Coelho. Na primeira metade do século 20, Amparo produzia café, milho e cana de açúcar. Gradativamente foram sendo introduzidas a horticultura, a fruticultura e a floricultura. Abastecia o Rio de Janeiro e Niterói com produtos de sua lavoura como batata inglesa, tomate, cenoura, arroz, ervilha, repolho, nabo, aipo, batata doce, feijão e mandioca. Na floricultura exportava cravo, rosa, margarida, palma, lírio e saudade.

Quanto à fruticultura, Amparo produzia caqui, lima, tangerina, laranja, banana, pera, uva, maçã, pêssego e ameixa. Foi um importante distrito agrícola de Nova Friburgo até aproximadamente a década de 50, do século 20. O acesso ao centro da cidade era feito pela estrada “zigue-zague”, saindo no bairro das Braunes. Mas na década de 60, veio a decadência da lavoura na região. O que possivelmente provocou o seu declínio foi a migração de filhos dos agricultores para o emprego nas grandes indústrias recém-estabelecidas na cidade.

Outro fator foi os filhos dos prósperos agricultores se tornarem profissionais liberais como médicos, veterinários, advogados, professores, dentistas, engenheiros, etc., abandonando o amanho da terra. Aquele antigo sonho do agricultor em ver o filho bacharel!

Na década de 60, já não se viam mais os cafezais e sua produção agrícola foi desaparecendo aos poucos de seus morros. Mas Amparo deu a volta por cima. A comunidade local se reuniu e criou o Circuito de Turismo Rural de Amparo, com inúmeras atividades envolvendo artesãos, comerciantes e produtores rurais. O distrito que produz cachaça, rapadura, geleia, linguiça artesanal, produtos orgânicos, cerâmica e artesanato comercializa tudo isso no Empório Mió de Bão ou direto com alguns produtores.

Amparo entrou ainda na onda da cerveja artesanal e tem a sua própria cerveja, a cerveja Amparo que somente poderá ser consumida por quem for visitar o distrito. Dois sítios de produtos orgânicos se propõem a dar aulas de educação alimentar no projeto vivência no campo. No sítio de Davi Sorrentino, por exemplo, há uma trilha incrível por dentro de sua propriedade com guias credenciados.

Tive uma experiência curiosa em seu sítio. Ele espetou uma vara em um formigueiro de formiga capelão. Retirou o graveto e cheirou. Segundo ele, o cheiro dessa urina cura doenças respiratórias. Era um remédio no passado. No Alto do Schuenck pode ser feito voo livre na rampa do Sítio Pedra dos Gatrus. No caso, consiste em voo duplo, ou seja, a pessoa salta em companhia de um profissional credenciado.

 Quem for a Amparo não deve perder a oportunidade de fazer uma deliciosa refeição de comida caseira no restaurante do Valtair, com verduras e legumes orgânicos dos sítios da região. Os moradores de Amparo tem a vantagem de ser um distrito que ainda conserva um casario antigo de mais de um século no centro da vila. Sua quietude mansa e preguiçosa é um deleite para quem curte a vida rural. 

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    Amparo se reintegra em 1911 a Nova Friburgo

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    Dois sítios de produtos orgânicos participam do projeto vivência no campo

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    No sítio de Davi Sorrentino uma trilha incrível com guias credenciados

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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