Amparo: berço da doutrina espírita

quinta-feira, 13 de julho de 2017

O Centro Espírita São João Batista de Amparo foi um dos primeiros a se instalar no Brasil. A doutrina espírita surge com Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec. Nascido em Lyon, na França, em 3 de outubro de 1804, foi um dos pioneiros a pesquisar cientificamente os fenômenos paranormais, notadamente a mediunidade. Faleceu em Paris, em 31 de março de 1869, tendo deixado uma vasta legião de seguidores.

O Centro foi fundado em 2 de agosto de 1888, por uma descendente de colonos suíços, Marie Hortence Bardy Curty. Casou-se com Jorge Gripp, descendente de colonos alemães, os Grieb, nome que sofreu uma corruptela para Gripp, e passou a chamar-se Hortência Gripp. Sua adesão à doutrina espírita se deu quando perdeu um bebê, seu 14° filho, que faleceu com poucos dias de nascido. Visitando a irmã Francisca Marchon após a perda de seu bebê em Aldeia Velha, distrito de Indaiassú, hoje Casimiro de Abreu, encontrou conforto nas palavras da irmã, já adepta do espiritismo. Retornando ao Amparo levou consigo um livro em francês sobre os ensinamentos de Allan Cardec dado pela irmã. Parece ter encontrado campo fértil para a doutrina espírita entre os moradores dessa localidade, notadamente entre os descendentes de colonos suíços e alemães que para Amparo se dirigiram em busca de terras férteis, abandonando as datas de terras do Núcleo Colonial. As primeiras reuniões de estudo da obra de Allan Kardec foram efetuadas na residência de Hermano Hermsdorff, que seria o primeiro presidente do Centro Espírita São João Batista.

Em 1890, tiveram início as sessões práticas tendo como médium João Lamblet, psicografadas do espírito de Paulo Lamblet, esses últimos descendentes de colonos suíços. A primeira diretoria foi constituída por Hermano Hermsdorff, Eugênio Gripp, Pedro Alberto Gripp, Jorge Augusto Gripp, Hermenegildo João Gripp, Guilherme Luiz Gripp, Fernando Lamblet, Pedro Lamblet, João Borel, Honorato Alberto de Souza, João Berçot e Avelino Carlos de Oliveira Castilho. Curiosamente o jornal “A Noite” publicou em março de 1925 que o distrito de Amparo tinha aproximadamente três mil habitantes e que todos eram adeptos do espiritismo. Exagero à parte, de qualquer forma ilustra como essa doutrina encontrara muitos seguidores nessa localidade, um dos mais importantes distritos agrícolas de Nova Friburgo.

Mas, nem tudo eram flores! O município de Nova Friburgo já vivia em longa data um conflito religioso entre católicos e protestantes e agora, somava-se a doutrina espírita, que escolhera como nome do centro o santo padroeiro da cidade. No pensamento da Igreja Católica seria uma provocação? Em 1891, o delegado Augusto Braga recebeu a notícia-crime de que a família Gripp praticava feitiçaria. Se dirigindo ao Amparo para efetuar uma investigação, foi convidado a assistir a uma sessão e lhe foi ofertado o livro “O Evangelho segundo do Espiritismo”. Na conclusão de seu inquérito policial relatou ser infundada a denúncia de feitiçaria e consentiu a continuidade dos encontros no Centro Espírita.

Como Amparo fazia parte da Freguesia de São José do Ribeirão, foi anexado a Bom Jardim, no início da República. Só retornou a pertencer a Nova Friburgo em 1911, por ser reduto de Galdino do Valle Filho, importante político do município. No período em que pertenceu a Bom Jardim, o Centro Espírita São João Batista sofreu novamente perseguição por parte da autoridade policial e seus membros passaram a reunir-se clandestinamente. O Centro Espírita de Amparo continua até hoje na mesma sede, do século 19. Mas no município outros centros dessa doutrina foram criados ao longo do século 20. Como as primeiras edições do evangelho segundo o espiritismo foram editadas em francês, encontrou entre os descendentes de suíços, que possivelmente conheciam o idioma, um verdadeiro campo fértil.

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    Marie Hortence Bardy Curty casou-se com Jorge Gripp

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    Marie Hortence Bardy Curty, depois Hortência Gripp, encontrou campo fértil em Amparo disseminando a doutrina espírita

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    O jornal A Noite publicou em março de 1925, que o distrito de Amparo tinha três mil habitantes e que todos eram adeptos do espiritismo

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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