A Vila de Santo Antonio de Sá

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Cristo que sangra 

Parte I

O município de Itaboraí, lugar passagem dos friburguenses que se dirigem ao Rio de Janeiro, tem a sua história intimamente relacionada com a de Nova Friburgo. A sua pobreza urbana esconde relíquias e mal nos damos conta da riqueza histórica dessa região. Lugar de trânsito das mercadorias de Cantagalo e de Nova Friburgo, sua história remonta às primeiras ocupações dos portugueses no período colonial. A região que hoje compreende Itaboraí, Magé, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, entre outros municípios, fora outrora Vila de Santo Antônio de Sá. Ganha singularidade, pois foi uma das primeiras ocupações no Brasil Colônia, pouco mais de uma década depois de instalado o Governo Geral no Brasil. A presença do clero secular, regular e de ordens religiosas torna a Vila de Santo Antônio de Sá ainda mais importante no contexto histórico nacional. A ocupação do Vale do Macacu inicia em 1567, com a distribuição de sesmarias aos fidalgos em retribuição ao auxílio prestado na expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Mém de Sá, terceiro governador-geral do Brasil, compensou os fiéis servidores com terras. Um dos primeiros a receber essa mercê foi o escrivão da Fazenda Real, Miguel de Moura, por intermédio de Cristóvão de Barros, também agraciado com uma sesmaria. Foi o início da colonização portuguesa na Capitania do Rio de Janeiro. Essa região tem a denominação de Vale do Macacu em razão de um dos seus principais rios, o rio Macacu, que como o Caceribu, foi essencial na economia local.   

Miguel de Moura, não dando destino útil às terras que recebera, como prescrevia as Ordenações do Reino, na iminência de perdê-las, doou-as aos jesuítas. A Companhia de Jesus se estabeleceu no Vale do Macacu, ficando responsável pela catequização dos índios. As tribos indígenas que ocupavam essa região foram sendo escravizadas, catequizadas ou mesmo expulsas. O clero secular recebia recursos da Coroa portuguesa e dos senhores de engenho para construção de suas igrejas. A mais antiga delas é a de N. S. da Conceição, fundada em 1595. Curiosamente, foi nessa igreja que ocorreu um milagre na década de 60 do século 20, que provocou comoção social. Durante uma missa, as chagas de uma imagem do Cristo sangraram diante dos fiéis. Desde então, essa igreja virou um lugar de peregrinação em busca de cura diante do Cristo que sangrou.   

Os jesuítas foram um suporte do governo colonial para conquistar o Vale do Macacu. Criaram o aldeamento de São Barnabé, atual Itambi, distrito de Itaboraí, e se estabeleceram igualmente na Fazenda do Colégio, hoje Papucaia, distrito de Cachoeiras de Macacu. No século 16, a atividade econômica no Vale do Macacu se restringia inicialmente à extração de madeira, utilizando-se para tanto a mão de obra indígena. Em razão de seu desenvolvimento econômico, surge em 1612 a freguesia de Santo Antônio de Macacu ou Casseribu. Região banhada pelos rios Macacu e Caceribu, seus afluentes são vias fluviais contíguas à baía da Guanabara e facilitavam o transporte de madeiras para o Rio de Janeiro. A freguesia de Santo Antônio prosperava de tal maneira que surgiu a necessidade de lhe dar foros de justiça e administração própria e acabou sendo elevada à categoria de vila. Surge, em 1697, a Vila de Santo Antônio de Sá, que teve "Sá” acrescentado ao seu nome em homenagem ao governador da capitania do Rio de Janeiro. Paulatinamente, vários povoados foram se formando e se desenvolvendo. Em fins do século 18, a Vila de Santo Antônio de Sá já era composta por diversas freguesias: Santo Antônio de Sá (a sua sede), Nossa Senhora d’Ajuda de Cernambitiba, Nossa Senhora do Desterro de Itamby; Santíssima Trindade (hoje o município de Guapimirim); São João de Itaborahy; Nossa Senhora da Conceição de Tapacorá; Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito; Nossa Senhora da Piedade de Magé e na Aldeia de São Barnabé (depois São José d’Rey). Na próxima semana, "O Convento de São Boaventura”.


Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de

diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”


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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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