A história da praça dos eucaliptos - Parte 3

quarta-feira, 11 de março de 2015

Na vereança de 1877 a 1883, o médico Carlos Éboli solicitou a presença de Glaziou na execução do projeto de paisagismo da Praça Getúlio Vargas. O segundo Barão de Nova Friburgo foi o responsável pela vinda de Glaziou, que planejou e executou os trabalhos gratuitamente. O barão despendeu dez contos de réis na praça e não quis ser ressarcido pela Câmara de tal quantia, doando-a à municipalidade. 

Carlos Éboli e Glaziou escolheram a Eucalyptus robusta pela crença de que estas árvores tinham a função utilitária de drenar o solo pantanoso e igualmente de purificar o ar, combatendo os supostos miasmas que se desprendiam do solo. Próspera em terrenos brejosos onde quase nenhuma outra espécie se desenvolveria, além de resistir muito bem a geadas, era considerada pelos botânicos da época como uma das mais belas espécies de eucalipto graças à abundância de sua folhagem e pela grande copa arredondada, de grande beleza ornamental. Anteriormente, na vereança de 1853-57, resolveu-se plantar árvores que produzissem sombra no centro da vila. A árvore escolhida foi o pinheiro (Araucaria angustifolia). No entanto, essas araucárias não sobreviveram por muito tempo na paisagem da cidade. Logo, a Eucalyptus robusta atendia as necessidades tanto de drenagem do solo do centro da vila da Nova Friburgo, que era alagadiço, como igualmente a de purificação do ar. Na ocasião, acreditava-se que doenças como a febre amarela vinham do ar, dos miasmas, e por isso incentivava-se o plantio de árvores para purificar a atmosfera. A teoria microbiana derrubou a teoria dos miasmas, ou seja, descobriu-se que as doenças provinham dos micróbios e não do ar. Entretanto, quando a Praça Getúlio Vargas foi planejada a teoria dos miasmas estava em voga, e daí a escolha desses eucaliptos. "Os eucaliptos (...) são aconselhados  para o saneamento de regiões paludosas, pelas suas propriedades febrífugas, e muitas plantações têm sido feitas exclusivamente com esse intuito. Dizem mesmo alguns autores que o clima é de salubridade notável onde abundam as florestas de eucaliptos (...), mesmo que as localidades pantanosas e doentias, onde se fizeram plantações de eucaliptos, melhorem consideravelmente, a ponto de desaparecerem completamente as febres(...) Chegam a asseverar que os eucaliptos purificam o ar pelas suas exalações balsâmicas e que, pela sombra que projetam sobre os terrenos úmidos, furtando-os a ação do sol intenso, evitam o desprendimento de miasmas paludosos.” 

As obras da Praça Getúlio Vargas têm início em 1880. O modelo utilizado era o jardim romântico, realizado segundo os moldes dos jardins franceses do século XVII. As características dos jardins românticos resumidamente são: serem marcados por extensos gramados, pequenos bosques, caminhos em curvas suaves, arbustos ou árvores isoladas, ruas amplas e cômodas, riachos e rochas artificiais e quiosques. A origem do jardim romântico vem da China, mas somente se tornou conhecido na Europa, no século XVIII.   

Continua na próxima semana. Baseado na obra de Luiz Fernando Dutra Folly. "A História da Praça Princesa Isabel em Nova Friburgo: O projeto esquecido de Glaziou.”


Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de

diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook "História de Nova Friburgo”


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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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