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O som instrumental de fortaleza
Menino Sereia (2015) – Astronauta Marinho
O Astronauta Marinho é uma banda instrumental que surgiu em Fortaleza, no Ceará, em 2011. Em seu mais novo álbum, Menino Sereia, lançado em 2015, o grupo entrega uma música leve, sem muitos virtuosismos ou variações. Dá para ouvir no disco influências do rock progressivo, bandas alternativas e também muitas referências recentes.
Com uma capa que mistura os álbuns progressivos viajantes dos anos 1970 com a estética e as cores de Tarsila do Amaral, Menino Sereia abre com “Intro”, simplesmente uma abertura sem muito apelo que no final cresce como se homenageasse a abertura de Dark Side Of The Moon (1973).
Apesar de um caráter experimental, as músicas do álbum não têm muito brilho. “Negord!”, a segunda faixa, por exemplo, parece que tudo está sendo tocado de forma muito contida. Até no momento em que as guitarras ficam mais pesadas falta ânimo para contagiar.
A seguinte, “Mar Muleres”, parece ter vindo da abertura de um fliperama antigo. A guitarra parece ter saído de uma música regional e muito bem adaptada ao estilo mais eletrônico da canção. A bateria e o baixo tentam alcançar alguma voracidade, porém, a mixagem parece ter deixado ambos muito de background no disco.
Quem se destaca mesmo em Menino Sereia é o teclado, nas mãos de Chagas Neto. Em “Nas Gruta”, enquanto baixo e bateria mantém seu caráter de base e as guitarras seguem parecendo um sampler, o órgão e o piano elétrico, numa onda bem jazz fusion, vão ganhando sempre mais espaço. Em dado momento a faixa entra em uma onda mais prog, e quem ganha a cena mesmo são os sintetizadores e os efeitos, incluindo vocais. É uma grande faixa de teclado.
O momento mais contagiante do disco surge em “Kumbia #5”, uma faixa mais dançante, mais percussão. A guitarra tem a mesma característica que os integrantes conseguem manter com firmeza no disco: pouco distorcida e fazendo dedilhados. Os timbres de sintetizador que encerram a faixa continuam na música seguinte, “Javalee Myia”.
Essa é uma canção que persiste no grande erro do álbum. Como se trata de um disco totalmente instrumental, o número pequeno de variações nas músicas faz com que fiquem um pouco enjoativas, mesmo com a duração das faixas não sendo muito grandes.
As duas faixas finais são as mais longas. “Xote Para Goya” dá uma sofisticação no gênero nordestino e deixa bem com a cara da viagem instrumental da banda, com direito a um final bem dramático. Por fim, “Crazyneide” parece realmente estar mostrando a tela escrito “The End” e os créditos. Nessa os instrumentos estão um pouco mais agressivos. Há uma guitarra distorcida e com efeito de eco, a bateria parece uma percussão marcial e ainda há uma base de guitarra bastante repetida durante a faixa.
A nova aposta do Astronauta Marinho consegue bem manter uma unidade, no geral, com timbres e estilo de composições. É um registro coeso, existem momentos criativos, interessantes. A questão maior no disco é que ainda não há um peso, um elemento que faça as músicas serem mais viciantes, que dê vontade de pôr o álbum no repeat. É um disco calmo e monótono, como uma tarde olhando o mar, mas faltam os momentos hipnotizantes, como o canto de um menino sereia.
Menino Sereia (2015)
Artista: Astronauta Marinho
Músicos: Chagas Neto (teclados e sintetizadores), Rafael Viana (guitarra), Guilherme Alvez (bateria e samplers), Caio Cartaxo (baixo), Felipe Lima (guitarra) e Daniel Lima (guitarra e sintetizadores)
Produção: Astronauta Marinho
Faixas:
Intro
Negord!
Mar Muleres
Nas Gruta
Kumbia #5
Javalee Miya
Xote Para Goya
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