O primeiro CD a gente nunca esquece

sábado, 17 de janeiro de 2015
Foto de capa

O Charada Brasileiro (2001) - Supla

Eu nunca falei diretamente na primeira pessoa na Discopédia. Então, muito prazer, Lucas Vieira, 21 anos, colunista da Discopédia, estagiário de A VOZ DA SERRA. Não repara a bagunça e desculpa qualquer coisa. Hoje não tem disco clássico, desconhecido ou lançamento. O texto de hoje é a primeira crônica que publico e que fala sobre o primeiro CD que comprei.

Em dezembro de 2001, eu estava no auge dos meus oito anos de idade, recém-alfabetizado, tinha perdido o posto de caçula da família pro Pedro um ano antes e estava convivendo bem com isso. Minha atenção era toda voltada pros episódios diários de Dragon Ball Z e pro Game Boy que meus pais haviam me dado no meu aniversário uns meses antes – tá, ok, e pra escola.

Foi nesse mesmo mês que, um dia, meus pais decidiram sair de nossa casa, em Cordeiro, para vir a Friburgo fazer as compras de Natal -- engraçado que, mesmo assim, eu ainda acreditava no Papai Noel. Eu já tinha visto várias coisas que queria e, como de costume, quando vínhamos à "cidade”, eu ganhava algum presente. Nada muito caro, mas sempre legal, como um joguinho pro meu Playstation ou mais uma miniatura de Pokémon.

Na época, uma figura exótica despertava minha atenção na TV. Em um "reality show” -- que era uma grande novidade da época, vale lembrar --, um cara loiro, de cabelos espetados e cheio de pulseiras de espinhos e jeans rasgado me fez voltar a atenção para algo que era totalmente irrelevante para as crianças de sete anos: o rock n’roll.

Supla era uma das estrelas do Casa dos Artistas, reality da emissora do Sílvio Santos. O filho dos políticos Marta e Eduardo Suplicy, que havia sido integrante da banda Tokyo, estava retornando em sua carreira solo após um hiato de dez anos e lançara um -- provavelmente, só pra mim -- memorável álbum: O Charada Brasileiro.

O disco vendeu muitas cópias na época – certamente por influência da presença do cantor na Casa dos Artistas – e teve a participação da Holy Tree como banda de apoio. Não reouvi o CD para escrever esse texto. O meu ainda com a capa original e o encarte, está guardado em uma caixa onde estão diversas recordações da minha infância. Mas, ainda me lembro de diversas músicas e passagens envolvendo o disco.

Volta à cena para o dia da compra do CD. Compact Disc aquele era o meu primeiro, mas, na época, eu já tinha uns poucos k7, como A Bandinha da Turma da Mônica e o álbum de estreia do Mamonas Assassinas. Pelo costume com o formato, eu, sempre cuidadoso com minhas coisas materiais, após ouvir o CD no som do carro, virei para o meu pai e disse: "rebobina o CD pra eu guardar?”.

O Charada Brasileiro tinha coisas que, na minha memória, são bem legais -- vocês já ouviram falar da regra dos quinze anos? Então, por isso também não vou tocar naquele CD! -- lembro que gostava muito de "Green Hair” e que cantava as partes em inglês, obviamente, todas erradas. Lembro da regravação de "Humanos”, um dos únicos hits da Tokyo e de "Rei da Mídia”, que, em um exercício da escola na época, pus como minha música favorita. 

Além dessas que me marcaram mais, lembro de outros momentos marcantes, como de minha mãe brigar comigo quando eu cantava "Qual o seu veneno?”, música que trazia em seus versos palavras de baixo calão e de uma faixa que zombava do funk, que já fazia sucesso na época. "Punk Funk”, que trazia os ilustres versos: "Não tem Tigrão, não tem tchutchuca, pra mim são todos uns filhos da [bip de censura].” e que, logo depois dela, entrava uma faixa bônus chamada "São Paulo”.

Sem O Charada Brasileiro eu provavelmente não teria descoberto o Acústico MTV do Charlie Brown Jr, depois os álbuns da Legião Urbana e tão pouco os discos Tropicalistas, que foram as rédeas dos meus ouvidos. Provavelmente, sem O Charada Brasileiro, você não estaria lendo essa coluna e eu poderia estar estudando para ser outra coisa, não um jornalista. Obs.: semana que vem voltamos com a programação normal, trazendo uma resenha! 

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