O adeus ao quinto Beatle

sexta-feira, 18 de março de 2016

O caminho que um produtor deve fazer é o de entender e ajudar a pôr as ideias de um artista em prática e deixa-las ainda melhores. É isso que George Martin, falecido no último dia 8, fez com os Beatles. Com todo o seu conhecimento de música erudita, o londrino conseguiu transformar o som dos Beatles em um dos mais importantes registros da história da música pop, com muito experimentalismo e criatividade.

Martin começou a trabalhar com os Beatles em 1962. Contratado pelo empresário Brian Epstein, para trabalhar na gravadora Parlophone, foi ele quem trouxe Ringo Starr para o grupo, substituindo Pete Best. Anos depois, o produtor confessaria que não achava a banda muito boa. Era ainda muito estridente e desafinada, ele diria.

Mas acontece que com o apoio de George Martin, os Beatles viraram o fenômeno que foram. George soube reconhecer o potencial do grupo e trabalhar em cima de suas falhas, deficiências. Junto dele, os Beatles conseguiram avançar da fase iê-iê-iê até à psicodelia experimental que teve início em Revolver (1966).

Nesse álbum, a produção de George é bem ousada. Tem desde a beleza das cordas melancólicas de “Eleanor Rigby” até a experimentação de “Tomorrow Never Knows”, com guitarras gravadas de traz para frente gerando timbres psicodélicos. Mas Revolver foi só o começo.

George Martin também estava em Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band (1967), o clássico eterno dos Beatles. É impossível negar a importância que efeitos e sons até então incomuns na música pop exercem no álbum. Ouve-se uma plateia na faixa título, um clima de sonho em “Lucy In The Sky With Diamonds” e muitas orquestrações no LP, dando perfeitamente a sensação de que uma banda marcial está gravando um disco de rock.

Mas o ápice de George Martin no disco está no arranjo de “A Day In The Life”. O produtor conseguiu transformar a música de John e Paul em algo totalmente cinematográfico. Desde o som de um despertador até a ideia de transformar o caos em música, colocando uma orquestra de quarenta músicos para tocar de forma toda descoordenada, gerando uma sonoridade única na virada da canção.

Martin teve essas e muitas outras sacadas geniais, como o arranjo de “I’m The Walrus” que, além da orquestração que deu muito mais energia a música, teve mais uma vez o caos, dessa vez de 16 vozes dizendo frases diferentes. O quinto Beatle catapultou a banda do status de banda de música para um verdadeiro espetáculo de arte.

O currículo de George conta com mais de 700 discos produzidos. Além de ter feito parte de toda a carreira dos Beatles, Martin trabalhou com Bob Dylan, Rolling Stones, Elton John, entre outros gigantes da música. Ele fez do estúdio seu habitat e dominou as mesas e a tecnologia como nenhum outro produtor, chegando inclusive a dobrar o número de pistas de um gravador quando o selo possuía apenas aparelhos de quatro canais. Com George Martin, o mundo da música – e, principalmente os Beatles --  aprenderam a ousar. Entenderam que desde o som de uma gaivota até a alteração da velocidade de um instrumento pode ser música. George Martin morreu aos 90 anos, no último dia 8, terça-feira, e a causa da morte ainda é desconhecida. 

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