Gal Costa faz show impecável com participação de Milton Nascimento

quarta-feira, 09 de dezembro de 2015

“Melhor que Led Zeppelin” — essa frase pulou da minha boca como se fosse inevitável na noite do último domingo, na praia de Copacabana, durante o evento em comemoração aos 10 anos do Festival Natura Musical. Exagero? Fanatismo? Não sei. Na verdade não poderia afirmar isso sem — infelizmente — nunca ter visto a banda inglesa ao vivo. Mas posso garantir que depois desse show de Estratosférica não sinto tanta necessidade de ver o Led no palco.

Já havia assistido Gal Costa ao vivo em outra ocasião. Após muita luta consegui ir ao seu show no último inverno, em Nova Friburgo. Um privilégio que, infelizmente, muitos moradores da região não conseguiram ter, pela dificuldade no acesso aos poucos ingressos disponibilizados ao público para o show gratuito. Nessa apresentação, Gal nos presenteou com o elogiadíssimo show Espelho D’água. Mais intimista, acompanhada somente por Guilherme Monteiro (violão e guitarra), a cantora tocou músicas lindas como “Baby”, “Tigresa”, “Você Não Entende Nada” e, surpreendentemente, “Tuareg”.

Estratosférica é um show totalmente diferente. Se Espelho D’água já é incrível sendo uma apresentação basicamente de violão e voz, o concerto da sua última turnê é algo ainda maior. Acompanhada por sua banda, formada por Maurício Fleury (teclados e guitarra), Fábio Sá (baixo), Guilherme Monteiro (guitarra e violão), e com direção musical do baterista Pupillo (também integrante da banda Nação Zumbi), Gal fez um show de rock delirante. De longe, o melhor que assisti ao vivo.

Sob chuva e sendo assistida por um público excitadíssimo, Gal tocou algumas músicas do seu último álbum, como “Quando Você Olha Pra Ela” e “Sem Medo, Nem Esperança” e muitas músicas incríveis dos primeiros anos de sua carreira. “Não Identificado”, do primeiro álbum, com arranjo lindo, ficou bem fiel à original, mas com toda a explosão de se ver e ouvir ao vivo. Também do LP de estreia da cantora, “Namorinho de Portão”, de Tom Zé, ficou em uma versão muito gostosa, de certa forma atualizada.

Momentos gloriosos de Estratosférica foram a incrível “Como Dois e Dois”; “Baby”, apenas com acompanhamento do violão; e a dupla “Mal Secreto” e “Pérola Negra”, duas músicas que eram parte do repertório de seu famoso show Fa-Tal – Gal A Todo Vapor. Como no celebrado show de 1971, o novo repertório da cantora está com uma roupagem muito mais próxima da sua fase do desbunde, sem faixas da parte mais careta de sua carreira. Apesar de sua voz não ser mais tão impecável quanto nos anos 1970, Gal ainda mantém o título de melhor cantora brasileira, aos 71 anos.

Participação especial

Mais ou menos na metade do show, Gal recebeu no palco Milton Nascimento, aparentemente sentindo o peso da idade: Bituca veio andando devagarinho até o palco, com seu andar característico, se dirigindo para o lado de Gal, onde permaneceu durante toda a sua participação, sentado em um banquinho. A dupla cantou, nesse primeiro momento, entre outras músicas, “Paula e Bebeto”, parceria de Caetano e Milton do primeiro disco do mineiro, Minas (1975).

Mais para o final do show, Milton voltou e cantou “Fé Cega, Faca Amolada”, em uma versão elétrica da banda de Gal, que gravou a canção quando era do grupo Doces Bárbaros, em 1976. Para finalizar, Bituca presenteou o público com a lindíssima “Travessia”, seu primeiro sucesso, gravado em 1967. Os que assistiram o show foram para casa em estado de graça, depois de viverem um dos momentos mais incríveis que a praia de Copacabana já sediou.

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