Caetano e Gil: avisa lá que eu fui!

sábado, 24 de outubro de 2015
Foto de capa

Eu vivi um sonho no último dia 16, sexta-feira. Posso dizer até que vivi dois. Você provavelmente já deve ter sonhado em algum momento da vida ver seus super-heróis favoritos, certo? Eu vi os meus.

Eles estavam no Metropolitan, no Rio de Janeiro. Sentei à mesa, acompanhado da minha namorada, meia hora antes de eles aparecerem iluminados, impecáveis e imbatíveis. Meu coração batia no peito como Muhammad Ali. Quinze minutos depois do esperado eles apareceram por trás de uma capa preta que cobria o palco. Sob uma chuva de aplausos, eles surgiram: Caetano Veloso e Gilberto Gil, a poucos metros de mim.

A estreia carioca do show "Dois Amigos Um Século de Música" foi impecável. Com produção simples, um cenário minimalista e cativante, o show é um momento histórico na carreira dos baianos. Já com mais de 70 anos, ambos continuam sendo os grandes artistas de sempre, cantando e tocando com sua sutileza e sensibilidade de sempre.

Caê e Gil abriram o show que comemora seus 50 anos de carreira com “Back In Bahia”, clássico de Gil de 1972, escrito após ele e Caetano retornarem do exílio, em Londres. Como há pouco voltaram de turnê da Europa, a canção foi uma escolha muito feliz para a abertura.

A primeira sessão de músicas foi só de ataques no emocional do público que lotou a casa. A terceira música foi “Tropicália”. Literalmente, caí em lágrimas. Os dois baianos já me deixaram emocionados com menos de dez minutos no palco. Nos refrões, o público batia palmas no ritmo da música, mostrando que o show não precisava de mais nenhum instrumentista além dos dois mestres e seus violões.

O momento mais inesperado foi o seguinte: Gil resgatou de seu primeiro disco tropicalista a música “Marginália 2”, letrada por Torquato Neto. Nessa música, bem pouco conhecida e incomum em seu repertório, Gil fez uma interpretação belíssima, sem o acompanhamento de Caetano. Juntos, pouco depois, cantaram “Nine Out Of Ten”, do incrível Transa (1972), do Caê. Foi a prova definitiva de como os dois estão conseguindo adequar muito bem suas canções à proposta do show. Outros exemplos foram “São João, Xangô Menino”, do repertório de Doces Bárbaros, a baianíssima “Nossa Gente”, com o refrão cantado em coro pela plateia e “Andar Com Fé”.
Outros momentos maravilhosos vieram em seguida: Caetano sendo lindo em “Sampa”, “Terra”, e “Odeio”. Gil roubando a cena em “Coração Vagabundo”, “Drão”, e na fantástica “Não Tenho Medo Da Morte”, transformada em um monólogo em que o cantor batuca o violão no ritmo de um batimento cardíaco. Meu coração batia na mesma velocidade que os dedos daquele senhor vestido todo de branco, como um anjo. O finalzinho do show foi chegando e saímos de nossas cadeiras para ficarmos mais próximos dos mestres. Ali, juntos, pertinho do palco, assistimos as últimas músicas do espetáculo.

Mesmo sem Os Mutantes e sem orquestra, “Domingo No Parque”, só no violão e voz, ficou lindíssima, de tirar o fôlego. Gil mostrou que continua sendo um grande violonista na faixa. Antes do bis, puxaram “A Luz de Tieta”, cantada por toda a plateia. No último refrão da música, abandonaram seus violões e fizeram a dancinha que já se tornou conhecida na turnê. Um momento memorável. Dançando, saíram do palco para voltarem no bis.

"Dois Amigos Um Século de Música" terminou com “O Leãozinho” e “Aquele Abraço”, uma despedida ideal. “Alô, Rio de Janeiro, aquele abraço!”, eles cantaram. Foi mais um momento mágico, que encerrou com nossos heróis muito aplaudidos de pé. Como resumir esse show em uma palavra? Histórico!

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