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A vida não foi nada fácil
Papai Noel deve estar mesmo de saco cheio! No mal sentido. O ano se arrasta pesado por tantos desgostos. Foi o que acumulamos, ainda que tentemos buscar lá no fundo do nosso escapulário motivos para festejar.
Sou de um tempo em que não pedíamos presentes. Ganhávamos. E satisfeitos ou não, era a gratidão que deveria descortinar-se no olhar. Fosse o que desse. O exeqüível. Mas nos rendemos de tal forma ao consumismo que presente de Natal tornou-se desfrute, bem, propriedade.
O Bom Velhinho deve estar preocupado. Sua fábrica não produz mais nada de interessante, pelo menos que agrade ou se traduza em regozijo ao querer humano. Cobiçamos demais e passamos o ano discutindo gostos, vontades, criticando os outros, fazendo má-criação nas redes sociais, batendo boca por coisas tão pequenas, que se advir pelo bom comportamento, certamente, nem crianças pequenas e nem as grandes serão merecedoras sequer de uma mariola para adoçar a vida.
Estamos no sal. E Papai Noel não tem condições de arcar com os compromissos que antes eram tão leves. Suaves e elegantes desejos. Tempo em que o gesto de presentear era um embrulho bem feito e a cordialidade do afeto. Mas uma lembrancinha já não tem mais valor. Num mundo em que nos tornamos críticos e indesejáveis, não cabem mais palavras bonitas. As mãos já não escrevem cartões de Natal. Não há firmeza no traço, a linha se desalinha e nem os Correios possuem mais a heróica missão do mensageiro de boas novas.
Papai Noel anda inconformado. São milhares de velhinhos que, como ele, sonharam um dia o merecido descanso em vida. Tiraram-lhes o sonho. O desejo de à mesa celebrar o Deus justo, o nascimento do menino que nos doou sua vida em troca de nada. Mas a vida anda difícil por aqui. Fácil, só para os ladrões encarcerados que continuam degustando ceias regadas a camarões, lagostas,espumantes e falando em celulares pós pagos ilimitados, apesar de tudo. A pesar de todos.
O Estado não merece mesmo a visita do Papai Noel, o mundo também não. Festejar o que? Fazer da festa baile, exigir que tanta gente desempregada renove esperanças em meio a pisca-piscas multicoloridos, a laços de fitas metalizadas e brilhantes que serão desmontadas no dia 6 de janeiro? E então, a vida voltará a sua dura rotina do não horizonte, a espera de mais uma absurda predileção do juízo a uma rica mulher, que foi à casa ordenar aos criados que preparem um banquete para seus filhos, gozando de plena liberdade, e ensina hoje aos mais jovens que não basta ter, é preciso roubar do povo, nem se sabe para quê. Ah... ainda bem que não conheço nenhum Papai Noel que atenda pelo nome de Gilmar.
Mas são tantos a nos enfrentar. A obscurecer nossos dias. Faz tempo não me chega uma boa notícia. Digo boa para todos. Ando achando mesmo que ao invés de investir em hospitais e escolas, o governo deverá reformar presídios, classificando-os por estrelas. Há muita gente que ainda vai descer as anáguas e afivelar malas para se hospedar num deles.
É...Papai Noel está fora de moda. Em desuso, desmotivado, e só recebeu seu décimo terceiro de 2016 dias atrás. Também não sabe ao certo como ficará a sua aposentadoria. O que ele sabe e me passou por wattsapp, porque é de graça, é que está na hora de toda gente entender que Natal é para celebrar, não para festejar.
Por isso, se tiver que pedir presente, peça um coração bom. Peça motivos para reflexão, cultive bom senso, deixe a felicidade do outro por conta dele e corra atrás da sua. Ainda dá tempo! Não ande no mundo achando que você é o único. Olhe para os lados. Há mais gente do que você pensa. E quando um sentimento ruim lhe vier à garganta, reze. Eleve seu pensamento porque a vinda do menino Jesus foi para que pausássemos nossas vidas em busca da mudança para melhor. Natal é mudança! É vicissitude. Seja a metamorfose que o mundo espera de você! E deixe Papai Noel descansar esse ano. A vida não foi nada fácil. Feliz Natal!
David Massena
David Massena
David estreou nas colunas sociais ainda na década de 70. É jornalista, cerimonialista, bacharel em Direito, escritor e roteirista. Já foi ator, bailarino, e tantas coisas mais, que se tornou um atento observador e, às vezes, crítico das coisas do mundo.
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