Eduardo Rodrigues

sábado, 25 de novembro de 2017

Pinçado da internet

 “A única coisa tão inevitável quanto a morte é a vida..”

Eduardo Rodrigues

Peço licença aos leitores para falar de Eduardo Rodrigues, o Eduardinho. Para os mais velhos, simplesmente, Dudu.

O menino nascido em um distrito de Cachoeiras de Macacu e que iniciou sua trajetória como torneiro mecânico ao lado do pai, sr. Antônio, no Bairro Ypu, quando chegou a Nova Friburgo. Em pouco tempo, o jovem, com seu olhar estético, já se destacava na profissão.

Inquieto, iniciou seus estudos em dança no final dos anos 60, pelas mãos da “maitresse” Regina Branco Wilkes e participou de diversos espetáculos de ballet. Destacou-se como estilista, figurinista talentoso que criava novas formas para velhos costumes e mergulhava nos desenhos dos bordados em tule, criando noivas e levando à passarela, por diversas vezes, coleções que abusavam de capas esvoaçantes e fendas profundas em saias, destacando bordados sobrepostos em passamanarias, feitas  manualmente, só vistas em peças de alta costura.

Naqueles anos da década de 70, Eduardo Rodrigues conquistou a “Agulha de Ouro”, prêmio concedido aos grandes criadores de moda do Brasil, pela famosa Fábrica de Tecidos Bangu. Muitas das mulheres elegantes da sociedade friburguense faziam questão de encomendar, pessoalmente, seus vestidos de festa ao mestre. Por isso, Eduardo criou o troféu “Mulheres de Ouro”. Eram dez, escolhidas, anualmente, por uma comissão composta por colunistas sociais e personalidades, em noite de gala, nos salões do Nova Friburgo Country Clube – tempos glamourosos e elegantes, que movimentava o comércio e era divulgado pelos jornais locais.

O troféu, era uma criação sua, em ferro, confeccionado um a um, mostrando seus dotes artísticos para além da alta costura: Dudu (assim era conhecido), tornou-se artista plástico, brilhante escultor. Mesmo circulando entre a sociedade elitista e aristocrata, freqüentava o samba, os ensaios das agremiações, adorava o carnaval. Não a toa, à convite do friburguense Clóvis Bornay, desfilou no concurso de fantasias do Clube Tamoio em São Gonçalo, chegando a pisar na passarela do famoso concurso do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ousadia que lhe rendeu reconhecimento e convites no Rio de Janeiro. Mas Eduardo recuou.

Em 1974, integrou como ator o Gama – Grupo de Artes, Movimento e Ação - e, pelas mãos do mestre Jaburu, viveu a personagem Pôncio Pilatos, em “Jesus Cristo Orbis Opus 74”, de Conceição Aor, e viajou pelo Brasil, participando de diversos festivais.

Coreografou, ensaiou e vestiu as musas dos Jogos Florais por mais de uma década. Era uma espécie de padrinho das meninas. Cuidava dos trajes, dos penteados e maquiagens e lotava os salões da SEF – Sociedade Esportiva Friburguense, em noites de trovas e beleza. Auxiliava o saudoso Francis também nos concursos de Miss Nova Friburgo e Charm Girl, assinando a cenografia, mas com o mesmo parceiro de produção, digladiava na passarela dos concursos municipais de fantasia em busca do primeiríssimo lugar na categoria luxo masculino, na qual chegou a “hors concours”.

Assinou os estandes da Fábrica de Rendas Arp e foi consultor de estilo nas Fenits – Feira Nacional da Indústria Têxtil, que acontecia em São Paulo, por anos, onde pode conhecer e trocar experiências com nomes consagrados como Gerson Paiva, Clodovil Hernandez, Ney Galvão, Madame Boriska, Guilherme Guimarães entre outros. Tornou-se, inclusive, amigo do mestre das modelagens Gil Brandão, que, por seu intermédio, residiu em Nova Friburgo até a morte.

Carnavalesco, figurinista, de inteligência rascante, Eduardo Rodrigues fez de tudo no carnaval. Foi “piranha”, destaque, passista, aderecista, assinou enredos para a Vilage no Samba, seguidas vezes para a Acadêmicos das Braunes, mas foi como mestre sala da Unidos da Saudade que se revelou e ganhou notoriedade, levando ao delírio o público com seus pivôs precisos, sua ginga, sua elegância e seu sorriso largo e contagiante.

Integrou e coreografou o primeiro espetáculo friburguense a seguir para Suíça, na década de 80, no intercâmbio internacional proposto pelo engenheiro Ariosto Bento de Mello. Ao lado da dançarina friburguense Gisele Márcia, brilhou em espetáculos, convenções, shows e na passarela do samba friburguense. Sua cidade era ali. Seu palco, sua vida.

Foi funcionário da Prefeitura de Nova Friburgo, onde atuou em eventos e certames, chefe de cerimonial da Câmara de Nova Friburgo, decorador de casamentos, festas, vitrinista de boutiques, consultor de moda, amante da música, em especial da banda Campesina Friburguense, amigo da Marinha do Brasil, amigo de Nova Friburgo, sobretudo, cidade que amava e pela qual abriu mão de tantos convites.

E foi no carnaval que conseguiu traduzir-se. O torneiro mecânico preciso em suas formas, o bailarino, o ator, o estilista, o decorador, o passista, o gênio que no final da vida escolheu observar o mundo em sua solidão sentida. Em seu silêncio. Enlaçando fio a fio os paetês e pedrarias em camuchões indescritíveis. Verdadeiras obras de arte, ofício que não se furtou a ensinar a várias gerações. 

O mestre que despertou tantos talentos. Que só queria uma cidade mais alegre, mais cuidada, mais bonita. Como a cidade que encontrou quando aqui chegou menino. O menino Dudu que fez da sua trajetória o mais lindo enredo. O amigo Eduardinho, o mestre Eduardo Rodrigues que não pode e não deve ser reduzido apenas a um cidadão do carnaval. Era o próprio carnaval! Capaz de tomar nossa alma e nos arrebatar tirando-nos o chão com sua arte preciosa e despretensiosa. Na sua simplicidade e grandeza, Eduardo – plural e singular. Descansa, agora, em paz! Estrela a nos guiar!      

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David Massena

David Massena

David estreou nas colunas sociais ainda na década de 70. É jornalista, cerimonialista, bacharel em Direito, escritor e roteirista. Já foi ator, bailarino, e tantas coisas mais, que se tornou um atento observador e, às vezes, crítico das coisas do mundo.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.