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Três filmes, três modelos
Filmes sobre as guerras modernas sempre fizeram parte do cinema. Mas suas narrativas ficam por conta da perspectiva do país de origem da obra, por isso, se tornaram dúbios ao longo do tempo por distorcer e empobrecer inúmeras histórias. Com a chegada da mais nova obra cinematográfica Dunkirk, ganhamos um novo caminho para retratar a guerra. Acredito que seja uma terceira via fílmica que se junta aos filmes O Resgate do Soldado Ryan (1998), de Steven Spielberg, e Além da Linha Vermelha (1998), de Terrence Malick.
Começamos por Steven Spielberg e seu O Resgate do Soldado Ryan. O cineasta nos entregou uma das melhores sequências de guerra da história do cinema, 40 minutos iniciais eletrizantes lhe valeram o segundo Oscar de direção. Embora este filme não seja a clássica pipoca com a família, merece ser visto por todos os membros do clã familiar. A pulsação emocional da imagem, as mensagens pungentes da história e a fantástica atuação do elenco atraem você para o horror da guerra e, principalmente, entender o que os jovens soldados sentiram no dia D da Segunda Guerra Mundial.
Um dos meus cineastas favoritos, Terrence Malick, mostrou o horror da guerra de maneira introspectiva no filme Além da Linha Vermelha. Por muitas vezes se torna doloroso de assistir por causa da justaposição realista da humanidade e do caos psicológico que a guerra gera. O filme não aprofunda qualquer fato histórico da Segunda Guerra, exceto a batalha aterrorizante em que os soldados vivem dentro de si. Os personagens se apresentam através da narração em off, que acompanha grande parte da ação. E falando de ação, não há muita no filme. Há a contemplação da imagem com intuito de levar o cinema a máxima potência, sem deixar o verbo atrapalhar.
Por último a mais recente obra cinematográfica de Christopher Nolan, Dunkirk. O filme de guerra que desconstrói o tempo e espaço fílmico apresenta um roteiro fora dos padrões hollywoodianos e dos manuais. Dunkirk é um filme sobre a guerra sem sangue, mas profundamente provocativa aos sentidos, um espetáculo que busca ordem no meio do caos. Nolan torna seu roteiro inabalável, transforma o exército de Hitler em uma ameaça principalmente existencial, pois nunca são mostrados os soldados nazistas, mas sentimos sua presença e poderio o tempo todo. Os nazistas, no filme, são elementos vagos, e, ao mesmo tempo, violentos como as projeções de um pesadelo.
Três filmes, três modelos de narrativa sobre a Segunda Guerra Mundial que marcam a história do cinema.
Cinema em casa
Brad Pitt estreia na Netflix com o filme War Machine, drama original da empresa que parece comédia ao assistir o trailer, só que não, é mais sobre a disfunção do governo americano do que o campo de batalha no Afeganistão. Enfoque interessante e surpreendente ao ponto de se tornar melhor do que esperado. Em certos momentos a atuação de Brad é caricata, extrapola e nos deixa em dúvida se é comédia ou drama, mas aí está o pulo do gato do filme, tudo não passa de um deboche inteligente da guerra criada e alimentada pelos EUA. O ator também é produtor. Suas produções estão recheadas de críticas ao governo americano, visto antes em O Homem da Máfia (2012), 12 Anos de Escravidão (2013) e A Grande Aposta (2015), este não poderia ser diferente.
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