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Polícia Federal: A Lei é Para Todos
O Brasil vive sob um novo caos político desde quando a Polícia Federal deflagrou a operação Lava Jato. A ação que começou com investigação a doleiros, chegou aos donos de empreiteiras e políticos de Brasília, descobriu grande esquema de corrupção envolvendo dinheiro público. Junto ao caos se busca heróis e vilões, e assim, se configurou uma linha tênue e perigosa denominada Nós e Eles, direita e esquerda, condenações atreladas a etapas de acusações e ódio invés de amor. Vivemos um momento delicado no Brasil, período histórico e necessário de reflexão e questionamento sobre tudo que acontece, e, em meio a isso, surge o filme Polícia Federal: A Lei é Para Todos, do cineasta Marcelo Antunez.
Obra cinematográfica sobre os bastidores do começo da operação Lava Jato, uma exposição dos fatos para que possamos entender melhor o que acontece no nosso Brasil. Lançado no feriado de 7 de setembro, o filme registrou nos quatro primeiros dias em cartaz 470 mil ingressos vendidos, tornando-se assim a maior abertura do ano de um filme nacional, segundo dados estimados pelo Filme B, que analisa o mercado de cinema.
O lançamento do primeiro trailer criou muita expectativa, finalmente seriam desvendados os bastidores da operação, aquilo que estamos sedentos para saber. A trama se desenvolve com o propósito de apresentar em como os fatos das investigações se deram; os roteiristas Thomas Stavros e Gustavo Lipsztein fizeram a escolha de não questionar o que representa para o país a operação policial, se omite e consequentemente reafirma o pensamento vigente sobre as escolhas políticas e partidárias.
O roteiro fica em cima do muro no quesito político, não define seu local de chegada, seu propósito. Existe um esforço para se ter um discurso isento e apartidário, mas essa escolha tende a gerar um vazio em vez da reflexão. Parece que assistimos uma colagem das reportagens jornalísticas em vez de um filme; são as mesmas perspectivas e palavras. Caso você acompanhe as notícias dos desdobramentos da operação policial, dificilmente será apresentado a algo novo. Constantemente os atores dizem frases de efeito expositivas e soam muito artificiais, algo questionável quando se trata de policiais em cumprimento do dever.
Os filmes americanos criaram de maneira egocêntrica e reducionista e ideia de Nós (americanos) e Eles (muçulmanos), e, agora no Brasil, este filme inicia a mesma ideia a partir do viés político de Nós (direita) e Eles (esquerda). Escolha muito delicada. Uma expressão cultural tem a potência de levar os espectadores a reflexão e questionamento da realidade, e esta obra cinematográfica consiste em mais um elemento para agregar valores neste momento confuso em que o país vive.
A estética do filme está pautada em cortes rápidos e pulos temporais para abordar os supostos fatos mais importantes da operação de acordo os roteiristas. A construção do tempo fílmico apressa a história e deixa furos, não decide o que quer entregar ao espectador. O filme carece de mais tempo de duração para desenvolver as personagens, visto que uma das intenções é humanizar o juiz responsável pela operação e os agentes da Polícia Federal a partir de subtramas - o que não deu certo, pois ficaram rasos e falsos. Por fim, o filme se demonstra um híbrido documental e ficcional da operação policial que redireciona a política brasileira.
Cinema em Casa
Em 2016 a Netflix produziu um dos melhores documentários do ano, quiçá da década. O filme “A 13ª Emenda”, de Ava DuVernay, tem a precisão de um argumento infalível, rastreia a criminalização dos negros americanos desde o fim da Guerra Civil até o presente dia, atacando um sistema de prisão equivocado e estilhaçado e outros exemplos de viés racial institucionalizado com um olhar calculado. O amplo escopo da história é feito pelo brilhantismo de sua diretora, e a raiva coletiva que ela representa.
O ingrediente principal do filme é o testemunho de pessoas que sabem claramente do que estão falando. Evitando a distração de ativistas de celebridades, DuVernay se volta para explicações astutas de especialistas em lutas negras. Uma enorme pesquisa apresentada ao longo de 1 hora e 40 minutos consolida cerca de 150 anos de história americana para mostrar como os problemas atuais do país com etnias não aconteceram da noite para o dia. O filme explora o passado e presente não como momentos separados, mas como um único caminho fluido carregado de lutas, e sempre avançando.
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