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Oscar democrático
Oscar democrático
Aconteceu no último domingo a cerimônia de premiação mais importante, glamourosa e, a partir deste ano, a mais política do cinema mundial, o Oscar. O filme de fantasia “A Forma da Água” se consagrou o grande vencedor da noite: levou para casa quatro estatuetas douradas. Além do prêmio de Melhor Filme, o longa da Fox Searchlight ganhou nas categorias Melhor Direção (Guillermo del Toro), Melhor Design de Produção ( Paul D. Austerberry, Jeffrey A. Melvin e Shane Vieau) e Melhor Trilha Sonora Original (Alexandre Desplat).
A 90ª edição do Oscar fez história. A direção do evento inseriu em vários momentos clipes com cenas marcantes de Hollywood. Muito se disse sobre a necessidade de mais oportunidades para as mulheres e minorias. A atriz e diretora Greta Gerwig foi apenas a quinta mulher a ser indicada na categoria Melhor Direção; Rachel Morrison se tornou a primeira mulher a ser indicada na categoria Melhor Direção de Fotografia. Ela é responsável pela fotografia do filme “Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi”; Jordan Peele se tornou o primeiro negro a vencer a categoria Melhor Roteiro Original; as atrizes Ashley Judd, Salma Hayek e Annabella Sciorra, três mulheres que acusaram Harvey Weinstein de abuso, subiram ao palco para um momento dedicado ao Time's Up, movimento de artistas da indústria para lutar contra o assédio; o Chile levou para casa a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro com “Mulher Fantástica”, que teve a atriz transgênero Daniela Vega no papel principal; o diretor de fotografia Roger A. Deakins finalmente conseguiu ganhar seu Oscar, após 14 indicações; o jogador de basquete Kobe Bryant levou para casa a estatueta de Melhor Curta de Animação com o filme “Dear Basketball”, baseado em seus poemas; Lupita Nyong'o e Kumail Nanjiani são atores bem-sucedidos em Hollywood e fizeram discurso em homenagem aos imigrantes - ela nasceu no México e foi criada no Quênia e ele é oriundo do Paquistão.
Uma cerimônia para não esquecer. Viva o cinema!
Em tempos de intolerância contra os imigrantes nos EUA, a arte se posicionou contra a política da Casa Branca, o mexicano Guillermo del Toro se juntou aos amigos compatriotas Alfonso Cuarón e Alejandro G. Iñárritu como vencedor na categoria Melhor Direção, sem contar o diretor de fotografia, Emmanuel Lubezki, que já venceu três vezes. Os mexicanos estão mais do que nunca presentes no desenvolvimento da arte nos EUA e exporta para o mundo a ideia de que a imigração não é um problema político como Donald Trump acredita. ¡Que viva Mexico!
O ator, roteirista e diretor Jordan Peele será lembrado para sempre: marcou a história no último dia 4 com seu filme “Corra!”. Primeiramente, conseguiu o feito de ser indicado nas categorias Roteiro, Direção e Melhor Filme numa película de estreia. Tornou-se o quinto negro em 90 anos a ser indicado na categoria Melhor Direção e, agora, o primeiro negro a vencer a categoria Roteiro, seja ele original ou adaptado. No total, seu filme foi indicado a quatro Oscars, se somar a categoria Melhor Ator (Daniel Kaluuya). O filme chegou aos cinemas em fevereiro de 2017 com um custo de produção de aproximadamente US$ 4,5 milhões e arrecadou US$ 253 milhões ao redor do mundo. Viva Peele!
O esperado aconteceu: as mulheres se fizeram presentes e fortes, muito discurso em favor da igualdade no tapete vermelho e, principalmente, com a atriz Frances McDormand em cima do palco ao receber o prêmio de Melhor Atriz pelo filme “Três anúncios para um crime”. Frances em certo momento arrepiou a todos dizendo o seguinte: "Se eu puder ter a honra de ter todas as mulheres indicadas em todas as categorias aqui em pé comigo nesta sala esta noite". Todas as mulheres ficaram de pé e foi emocionante: dificilmente Hollywood será a mesma após tal momento de demonstração de poder. Viva a igualdade!
A premiação deste ano foi democrática. Não tivemos um filme que levou todas as categorias para casa. Por fim, “A Forma da Água” ficou com quatro estatuetas e “Dunkirk” com três em categorias técnicas. Nas demais será lembrada como um evento que pode representar a mudança real de como Hollywood e o mundo fazem cinema, principalmente quando se trata de oportunidade de trabalho igualitária para ambos gêneros. Viva a democracia!
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