Colunas
Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira
O cinema brasileiro passou por turbulência ano passado, e tudo movido ao caos político em que o país viveu e ainda vive. O filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, com a atriz Sônia Braga, concorreu à palma de ouro no Festival de Cannes, e no dia da sua première a equipe, ao subir as escadas do tapete vermelho, abriu o smoking e mostrou ao mundo a imagem da presidenta Dilma e afirmou que o país estava sofrendo um golpe. Logo em seguida, o filme sofreu boicote de parte da mídia brasileira que apoiava o impeachment e políticos de Brasília.
Meses depois, chegou o momento de escolher o filme que representaria o Brasil na corrida pelo Oscar na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira, e o selecionado foi Pequeno Segredo, de David Schurmann. Naquele momento o caos no mundo do cinema se instaurou, porque se tratava de um filme de menor orçamento e sem a repercussão mundial conquistada por Aquarius, mas com a mesma qualidade. Muito foi dito sobre retaliação política, visto que a escolha da produção cinematográfica, até o ano passado, era integralmente coordenada pela Secretaria do Audiovisual (SAv) do MinC.
Tive o privilégio de conversar com o cineasta David Schurmann durante o Festival de Cannes desse ano sobre o assunto. Muito tranquilo, o cineasta mencionou que entre ele e Kleber está tudo bem, são grandes amigos e não se envolveram nesse caos político. Aceitaram a escolha e mantêm a amizade, na qual David fez questão de frisar que, durante o festival de 2016, assistiu Aquarius ao lado do cineasta e adora o filme, e é um grande admirador de sua obra.
Devido ao mal-estar em 2016, o MinC divulgou no dia 15 deste mês, em portaria no Diário Oficial da União, a composição da Comissão Especial responsável pela seleção do longa-metragem brasileiro que irá concorrer a uma vaga entre os cinco indicados ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 2018. A convite do ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, a Academia Brasileira de Cinema (ABC) passou a fazer a indicação dos integrantes da comissão do Oscar. Presidida por Jorge Peregrino, a comissão será composta por 10 integrantes, sendo sete titulares – David Schurmann, Iafa Britz, João Daniel Tikhomiroff, Luiz Felipe Loureiro Comparato, Miguel Faria Jr. e Paulo Roberto Mendonça – e três suplentes – André Carreira, Marcelo Siqueira e Paulo Wenceslau Duarte.
O MinC, por meio da SAv, fará apenas o acompanhamento do processo da escolha do filme e das inscrições por parte dos interessados. Dessa vez, profissionais do cinema farão a escolha, sem vínculo e sem temer retaliação política, pois não haverá participação de membros do governo vigente.
Cinema em Casa
Beasts of No Nation certamente é um dos filmes autorais mais impactantes da Netflix. O cineasta Cary Fukunaga nos apresenta o horror que nós, seres humanos, somos capazes de fazer. Tudo a partir das experiências de Agu (Abraham Attah), uma criança-soldado lutando na guerra civil de um país africano sem nome. Uma experiência imersiva, alcança e puxa você, ativa a nossa vergonha cavernosa de ser uma pessoa que vive num mundo onde esta história realmente acontece. Por isso o filme merecia ser feito tendo o foco na degradação total da moral, representada pela prática de transformar as crianças em soldados. A atuação de Idris Elba e demais elenco é impressionante, torna a submersão mais forte. Um filme para refletir sobre a nossa humanidade, baseado no notável romance homônimo de Uzodinma Iweala.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário