Mulher-Maravilha

segunda-feira, 12 de junho de 2017

“A humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele: ela não é considerada um ser autônomo”.

Simone de Beauvoir

Finalmente o cinema acerta em filme de heroína. “Mulher-Maravilha” é uma história de origem forte, divertida e envolvente. A atriz Gal Gadot é a escolhida para dar vida a super-heroína, e não decepciona. Antes coadjuvante no filme “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”, agora protagonista em seu filme solo.

O roteiro de Allan Heinberg é redondo, os arcos de personagens funcionam perfeitamente. Somos apresentados à origem das Amazonas e à reclusão destas mulheres. Didaticamente explicado, mas sem ser cansativo, vai da infância de Daiana Prince até a fase adulta, passando pelo treinamento secreto com a tia Antíope (Robin Wright), a descoberta de sua força superior e culmina na chegada de Steve Trevor (Chris Pine), que por sua vez leva o contexto da trama para a Primeira Guerra Mundial.

O cinema se inspira no mundo real para criar sua ficção, seja ela como reprodução do que vivemos ou na desconstrução das crenças e valores. Desta maneira, a representação da mulher no cinema sempre ficou aquém até a chegada da diretora Patty Jenkins; anteriormente ninguém havia ousado em deixar os protagonistas masculinos de lado.

A personagem Etta (Lucy Davis) é o contraponto da Diana, a representação de uma mulher sem autonomia, comandada pelos homens e classificada pela protagonista como ”escrava”. Simone de Beauvoir disse: Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. O conceito de Mulher, para Beauvoir, não é definido por uma questão biológica, mas social, ou seja, a mulher é uma criação social que deve seguir um determinado modelo, um padrão que deve responder a determinadas expectativas impostas pela sociedade na qual ela vive. É o exato oposto da heroína do filme, que é uma mulher independente, autônoma, que não segue nenhum modelo imposto, mas cria seu próprio modo de viver.

A história do cinema está sendo reescrita, o filme Mulher-Maravilha altera o lugar da mulher nos filmes e se torna fundamental para reorganizarmos nosso pensamento sobre gênero. Foi preciso esperar nove anos para contemplar outro filme baseado em HQ que vai além das roupas coloridas.

O livro “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir, lançado em 1949, estuda a hierarquia social do gênero masculino sobre o feminino.

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