Disseram que a Era dos Heróis não voltaria

A frase título da coluna de hoje foi dita pela Mulher-Maravilha (Gal Gadot) no trailer do filme Liga da Justiça. Tal fala ficou de fora do corte final que chegou aos cinemas. O resultado daquilo a que assistimos nas salas de cinema não foi de responsabilidade daquele que assina a direção, Zack Snyder, mas sim dos produtores e do cineasta Joss Whedon. No total são 23 cenas apresentadas nos trailers que ficaram de fora. Estipulam-se que mais outras dez estão na gaveta dos produtores. Inclusive a cena tão esperada do Superman com uniforme preto. Um novo filme foi concebido e os heróis são outros, Batman faz piada e Superman virou o zumbi da esperança.

O cinema tem a potência de se incomodar com o mundo e questioná-lo, cria sua própria realidade para que possamos refletir. Liga da Justiça, um dos filmes mais esperado do ano, aglomera os super-heróis mais conhecidos do planeta numa tentativa de finalmente se estabelecer no mercado de fetiche aos sujeitos de colante colorido. Fracasso monumental de bilheteria. Precisamos de heróis de marketing?

Em que momento histórico vivemos? Imigrantes fogem de seus países em guerra e tentam a vida num lugar estranho, de língua diferente e supostamente mais próspero. Ao chegarem, são recebidos de braços fechados e muros são construídos para impedir seus avanços. Precisamos de heróis políticos? O mundo não é mais o mesmo após 11 de setembro de 2001, os EUA se tornam cada vez mais egocêntricos e rechaçam tudo o que seja diferente deles. Tendo como referência o caso da tomada de decisão unilateral do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. Com isso, sujeitos sem perfil político e de ideia de humanidade questionável se espelham no atual presidente americano e assumem o poder das grandes potências econômicas ao redor do mundo; ou mesmo surgem como fortes candidatos, também conhecidos como políticos excêntricos da extrema direita. Precisamos de heróis comunistas?

No filme, e na vida pós imigração dos refugiados, o perigo vem de fora. Fala uma língua diferente e vem de um lugar que não nos interessa. No caso do filme, chama-se Lobo da Estepe, o irmão mais novo de Heggra, e o tio de Uxas (Darkseid). Fala uma língua diferente e vem de um lugar que não nos interessa. Para o Lobo, o planeta possui materiais naturais delicadas que seus comparsas necessitam para armamento. Ouro, prata ou pau brasil? Também pode ser aquele que chega nas americanas de navio e retiram a matéria prima como bem entende por ser mais poderoso. Precisamos de heróis militares?

O filme teve concepção criativa do cineasta Zack Snyder, o mesmo de O Homem de Aço (2013) e Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) e, infelizmente, passou por grande desastre familiar e teve que abandonar o filme no final. Antes, o mesmo era rechaçado pelos fãs e teve que passar por uma petição pedindo sua saída. Agora que o filme ficou insosso, frio e degradante, pedem para ver o seu corte. O resultado que chegou aos cinemas foi feito por aquele que foi contratado no final, o cineasta Joss Whedon, responsável pelos filmes com tom infantil da Marvel Estúdio. Me refiro aos Vingadores. Tudo que está ruim pode piorar. Precisamos de heróis cineastas?

A Era dos Heróis invadiu as salas de cinema da mesma maneira dos Westerns americanos no século passado, a fase dos heróis coloridos vai acabar um dia, e por fim, vamos descobrir que a maioria dos filmes gastou mais de US$ 300 milhões e vai deixar pouco legado. Liga da Justiça será um exemplo: estipula-se um gasto entre a união de pré-produção, produção, pós-produção e marketing que tenha chegado a US$ 750 milhões. Para se ter uma ideia do tamanho desse montante, o PIB da cidade de Nova Friburgo gira em torno de R$ 500 milhões. A apresentação dos novos super-heróis são rápidas e simples, todos precisam se unir para combater o vilão (o estrangeiro). Um roteiro mais apertado (preguiçoso), objetivo (correria), com muitas piadas (sem graça) e frio (sem impacto). Que mundo é esse de Hollywood que precisa de tantos heróis?