Quatro reais e 0,50

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Me mandou comprar um pacote de pregos na São José. Eu não acreditei quando vi as moedas de um real e as duas de 25 dispostas quase simetricamente na minha mão magrinha. Costume da casa: nada que vinha dela ficava desalinhado.

Foi nesse dia que eu entendi o sentido de uma construção. Claro, não era a primeira vez que presenciava a cena: poucos dias antes, o dinheiro ganhado do avô no meu aniversário foi todo desviado para a compra de uma pedra de mármore para cada janela. Tudo, absolutamente tudo de dinheiro que entrava naquela casa, exceto para bancar contas costumeiras, era para a obra: terninho novo para Solange, obra; vestido de madrinha pra Telma, obra; mais uma saia para as entojadinhas da Rose, obra. Toda a clientela bancava tijolo, cimento e esquadria. Até a bainha da calça, que ela cobrou R$ 4,50. Esperei recomendação de pães e mortadela, uma criança que pensa com a barriga, como quase todas, olhos espichados para as moedas. Mas ela me mandou comprar um pacote de pregos.

Fosse ela pedreira além de costureira, teria ela mesma levantado as paredes. Sabia de cor o que queria, cada material, cada cartela de cor. Moramos em casa sem janelas, até que se pudesse comprá-las no modelo pretendido. Antes disso: moramos em casa sem banheiro e sem portas. Um dos dias mais felizes da vida, ela retirando as escoras que apoiavam a laje e nós já ajeitando o espaço pra viver. Eis que ela vira um latão de tinta e põe o aparelho de telefone em cima. "Primeiro móvel", disse, aos sorrisos de quem dormiria a primeira noite na casa própria.

Foi com a minha mãe que eu entendi o sentido da palavra construção. Construir é tomar decisões pra sempre todo dia. 

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Ana Blue

Blue Light

O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.

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