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As pessoas de marca
Minha avó era extremamente conservadora, sabe aquele tipo de gente que nunca vai trocar Omo por Minuano e só usa Azaleia? Lembro bem das suas opiniões eloquentes: Fagundes é melhor que Jose Mayer, beber água gelada pode te matar, você tá magrinha, tá doente? Tem que beber Biotônico, comer mais feijão, comer mais, mais...
As esposas e namoradas dos filhos e netos, então? Aparentemente, ninguém tinha jeito, ninguém era bom o bastante: dona Manuela via tudo do alto e de cima, como um deus a quem era dado o direito de escarafunchar defeitos e anomalias das pessoas e suas roupas mal-lavadas com Surf. Ela mesma não tinha defeito nenhum.
Ao neto mais novo, meu primo, o benefício da experiência e a desvantagem da idade. Bentinho (nome horroroso que a nora pôs no moleque, dona Manuela queria Antônio Mário) assistiu a muitas entradas e saídas de esposas e namoradas naquela casa, o suficiente para adestrar sua Marina, mas a idade da vovó piorava, e muito, suas opiniões catastróficas.
Marina vestiu-se com um cardigã azul cheiroso e impecável da Hering. Lavado com Omo, provavelmente. Elegante, alta, educada, sorria com alguma timidez. Um sorriso sincero, mas polido. Dentes escovados com Oral B, certamente. E Sensodine (dona Manuela era tarada num Sensodine). Comeu, elogiou, repetiu, não se levantou até que todos acabassem o jantar. Seu ator preferido? Fagundes. Uma finesse de moça.
Era o noivado de Bentinho. Deu à Marina um lindo anel de pérola da H. Stern, mas a família olhava mesmo era dona Manuela, que não disse uma vírgula sobre a moça durante todo o jantar. No fim, depois da sobremesa e de Dom Pérignon, que Marina quase não bebeu para fechar o jantar com chave de ouro, Bentinho a levou em casa. Sucesso de jantar, pensou ele. Dona Manuela parecia outra pessoa.
Ainda lembro de Bentinho, todo feliz, entrando em casa e colocando a chave da Mitsubichi na cômoda da Tok Stok de dona Manuela.
— Sua noiva não tem pai, mãe, carro, não dirige não, José Bento? Você tinha mesmo que se despencar daqui até Conselheiro Paulino a essa hora? — e antes da gente recuperar do susto, ainda decretou sua sentença — Aquela girafona!
E foi dormir, julgando-se deusa. Com cada coisa e pessoa em seu devido lugar. Foi aí que eu decidi: a minha namorada eu não vou nem apresentar.
Ana Blue
Blue Light
O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.
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