Os homenzinhos

O pai, de nem um metro e meio de altura, entra no ônibus com a garotinha emburrada de cabelos cacheados. O ônibus dá a partida e vai chacoalhar no morro, que é pra mostrar que missão de pobre na vida é chacoalhar, mas a emburradinha insiste em ficar de pé. 

— Tem que sentar, Patrícia! O ônibus vai encher e você não vai conseguir se equilibrar.

— Mas eu quero ficar em p...

— Senta, cacete!

A garotinha, então, magoada e melancólica, senta no banco do canto, o pai na beirada, onde Gabriela confessou seu amor por Edmilson com liquid paper e Jeffinho perdeu a dignidade aos olhos do Bonde da Menagi no banco pichado da lotação. Assim mesmo, Menagi — o ônibus devia estar chacoalhando no momento da pichação.

Daí entra uma peituda gostosona no busão. Peito grande que, modéstia à parte, só não era páreo pro meu. O pai, mezzo embasbacado mezzo tarado nojento, oferece o lugar para a moça sentar.

Peituda que é peituda não cai nesse golpe não, meu amigo. A moça negou a gentileza, entre muitas aspas. Nós duas nos entreolhamos, pensando dele o mesmo que as menagis pensam do Jeffinho. Ele não parava de olhar o decote da moça.

— Tem que sentar sim! — berra a garotinha, de repente, levando pra diante o que a vida ensinou pra ela, a autoridade masculina — Se não sentar, você vai se desequilibrar.

— Senta, sim — o pai sorri, um metro e meio de puro nojo da humanidade.

— Tem que sentar não, meu amor. A gente só senta quando quer e a tia só gosta de banco decente — disse a moça para a menina emburradinha, fuzilando o pai com o olhar. 

Tive um ataque de riso e todos eles olharam pra mim. Aí peguei o celular e fingi escrever, porque é feio rir assim das pessoas, ainda mais os homens baixinhos. Seguimos chacoalhando morro acima, os cabelinhos cacheados da garotinha balançando na janela do busão.