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Como se fosse hoje
Para começo de conversa, amado leitor, nós dois só estamos nessa relação sagrada de todos os sábados graças às tias maricotas da vida, que nos ensinaram a ler. Tia Maricota: era assim que o Lecy, professor de matemática, chamava todas as tias da 4ª série do mundo. Posso apostar que, em qualquer lugar do mundo, qualquer pessoa sempre se lembrará do nome de seu primeiro professor. Flávia e Alessandra, os nomes das minhas mestras, lá no Jardim Escola Quem-me-quer. De lá, lembro até das margaridas brancas no uniforme vermelho, da cartilha Sonho de Talita, dos lanches da tarde com a tia Arlece. Como se fosse hoje.
Quando o Dia do Professor foi chegando, eu fui entrando em pânico. Toda semana me prometo escrever outra história, ser outro alguém, dar outra ótica para as crônicas que não seja sempre a minha velha visão sobre infância e afins. Mas como exaltar o personagem professor, sem lembrar daqueles maravilhosos que tive?
Não há clichê maior do que dizer que o professor é importante porque ensina a leitura aos alunos, como eu mesma fiz agora há pouco; mas como não ser clichê? Entrei em pânico justamente por ter tido professores demais e lembranças demais sobre eles. Quando falo de um, lembro de outro, e outro, de outra série, de outra escola. Vejo-os como uma legião formada com o objetivo único de me fazer vencer na vida.
Talvez os professores sejam exatamente isso. A figura do mestre para a formação de uma criança é muito maior que ensinar habilidades gramaticais: a escola constrói cidadãos, não apenas sujeitos letrados e diplomados. Uma pena que essa figura seja tão desfeita justamente por aqueles que deveriam lhe dar amparo, poder. Respeito. Alguém faça o favor de avisar aos governantes que eles estão fazendo tudo errado?
Hoje, voltando para o jornal, já em vias de terminar a minha primeira tentativa de "crônica para professores”, vi um carro estacionado em frente ao Itaú da Alberto Braune. Era o Jorge, da 6ª série. Jorge, que se tornou meu professor preferido, junto com o Olney, de matemática, e a Lady Catherine, de inglês, que era casada com outro Jorge — o professor de ciências. Catherine, com os cabelos vermelhos, que eu me prometi pintar igual quando adulta fosse. Com tantas lembranças boas e tanta gente boa pra lembrar, não vi motivo algum para inventar uma história do zero.
Se eu fechar os olhos, lembro de muitos nomes, muitos rostos. Como se fosse hoje, há dez minutos, há meia hora. Tânia Schettini, geografia, primeira nota vermelha no bimestre (não em prova: no bimestre! Marcada para sempre na minha cadernetinha azul!). Dorô, biologia, minha primeira apresentação para a classe bem-sucedida. Eveline, linguística, o primeiro sorriso que recebi quando entrei no curso de letras da UFF. Quantos Olneys, quantos Jorges, quantas Talitas nos olhos meus?
Ana Blue
Blue Light
O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.
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