Aconteceu no ônibus

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Hoje eu estava
Dormindo
Com a cabeça encostada no bolsinho de fora da mochila
(aquele em que a gente guarda o que precisa, o que não precisa

ou o que mais precisa, pra ficar à mão 
isqueiro, moeda, caneta, escova, cartão e batom) 
E sonhei com as nossas daminhas de roxo 
À beira do altar do padre

Não completamente de roxo, apenas um laço ou 
Uma guirlanda de flores roxas

(Não dizem que amor é flor roxa que nasce do coração do trouxa?)

E nossos pajens de preto, mas com as gravatas amarelinhas

Será que você vai gostar das guirlandas roxas de nossas daminhas? 
No meu sonho, os garçons, imponentes

Fugiam das investidas indiscretas das minhas 
Tias coroas solteiras 
Das suas tias coroas solteiras 
E de dois ou três encachaçados 
(Sei lá qual é 
O certo dessas nomenclaturas)

Eles serviam camarões empanados
E um molho numa travessinha 
Que não pude sentir o gosto, meu amor, não deu tempo

Aliás, será que você vai comprar camarões para o nosso casamento?

Eu sonhei, e no altar você chorava 
Igual a criança que sei que é
Nessa imagem bruta 
De homem 
E serena 
De anjo

Você dizia, voz tão doce 
"Sim, sim, meu amor 
Vida minha
Minha Blue, 
Vamos casar
Toma que esse coração é
Todo seu: artérias, pulsação, veias saltitantes, coronárias"

E eu chorava, tal criança que sou 
Os pajens de gravatas amarelas 
As damas, nos colos das mães: 
Era a felicidade, o meu sonho, no ônibus...

Mas o ônibus fez uma puta curva
Eu acordei, quase já no meu ponto 
Desci do dito-cujo
E fui pro jornal trabalhar

Será que você vai ler minha poesia? 
Será que os garçons um dia
Vão fugir de nossas tias
Coroas
Loucas 
Varridas

Querendo casar?

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Ana Blue

Blue Light

O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.

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