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Radar — 05/03/2016
A produção industrial brasileira cresceu 0,4% em janeiro em relação a dezembro de 2015, interrompendo um período de sete meses de quedas consecutivas, quando acumulou perdas de 8,7%. Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal Produção Física Brasil (PIM-PF), divulgada ontem. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados da pesquisa indicam que, quando comparada a janeiro de 2015, a indústria, no entanto, caiu 13,8%, a vigésima terceira taxa negativa consecutiva e a mais intensa desde os -14,1% de abril de 2009. Já a queda de 9% no resultado acumulado nos últimos doze meses (a taxa anualizada) foi a mais intensa desde novembro de 2009, mantendo uma trajetória descendente iniciada em março de 2014 (2,1%).Segundo o IBGE, o setor industrial, em janeiro de 2016, "volta a mostrar um quadro de maior ritmo produtivo, expresso não só no avanço de 0,4% na comparação com o mês imediatamente anterior, que interrompeu sete meses consecutivos de queda, mas também no predomínio de taxas positivas entre as grandes categorias econômicas e as atividades investigadas”.
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Mesmo tendo fechado dezembro com uma pequena expansão de 0,4%, o parque fabril do país acumula em janeiro deste ano, na comparação com janeiro de 2015, uma queda de 13,8%. A retração tem perfil generalizado de resultados negativos, alcançando as quatro grandes categorias econômicas, 23 dos 26 ramos, 70 dos 79 grupos e 77,9% dos 805 produtos pesquisados. Entre as atividades, figuram veículos automotores, reboques e carrocerias (recuo 31,3%) e indústrias extrativas (-16,8%). No primeiro caso, exerceram as maiores influências negativas automóveis, caminhões, veículos para transporte de mercadorias e carrocerias para ônibus e caminhões e, no caso da indústria extrativa, minérios de ferro e óleos brutos de petróleo. Ainda na comparação com janeiro de 2015, produtos do fumo (21,5%) e celulose, papel e produtos de papel (1%) foram as duas atividades que aumentaram a produção.
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A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) disse que o recuo do Produto Interno Bruto (PIB) é responsabilidade governo, e não pode ser atribuído ao contexto internacional. “Deve-se aos erros cometidos nas decisões políticas e na condução da economia: temos um governo caro, pesado e intervencionista, que não toma medidas para controlar seus gastos e deseja aumentar os impostos”, diz nota distribuída na noite de anteontem, 3. A Fiesp credita à crise política o desempenho ruim do PIB. “É preciso resolver a crise política e tomar as medidas necessárias para que a economia entre num ciclo virtuoso de crescimento do consumo, de investimento, de emprego e de renda”. A retração da economia em 2015 reflete queda em praticamente todos os setores da economia, com destaque para investimento em bens de capital, com queda de 14,1%. Os números divulgados indicam quedas significativas na indústria (6,2%) e nos serviços (2,7%). O único setor registrou crescimento foi a agropecuária (1,8%).
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Para a Força Sindical, o resultado implicará resistência ao aumento real no salário no próximo ano. A segunda maior central sindical do país prevê enorme impacto negativo no poder de compra dos trabalhadores e aposentados, conforme nota divulgada nesta quinta-feira. “Não haverá aumento real de salário mínimo para milhões de trabalhadores e aposentados no ano que vem, além de ser uma trava nas campanhas salariais neste ano. Ou seja: ao permitir que a economia ande para trás, o governo prejudica os menos favorecidos e impede uma justa distribuição de renda”, disse em nota.
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O consumo das famílias, assim como a economia brasileira - medida pelo Produto Interno Bruto - teve desempenho negativo em 2015, em comparação com o ano de 2014. O indicador caiu 4% no ano e, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esta é a maior queda desde o início da série histórica do PIB, em 1996. "No ano anterior tinha tido alta, e aí foi um conjunto de efeitos. A gente está com inflação mais alta, está com juros mais altos também, crédito caindo em termos reais, a gente está com deterioração do indicador de emprego e renda, então, tudo isso afeta negativamente o consumo das famílias. E tem a desvalorização cambial, mas aí reflete no preço, na inflação, porque as famílias também consomem produtos importados", analisou Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE. A coordenadora ressaltou que a queda do consumo das famílias tem peso muito relevante sobre o resultado da economia como um todo no ano passado, e que a contração reflete uma mudança em relação aos anos anteriores.
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O comércio teve o segundo pior desempenho no Produto Interno Bruto (PIB) em 2015. Segundo os dados do IBGE, o comércio registrou queda de 8,9% na atividade comercial do ano passado, ficando atrás apenas da indústria de transformação, que registrou -9,7% em sua atividade. A atividade comercial registrou, ainda, seu pior desempenho anual desde o início da contabilidade nacional, em 1948. “As adversidades inéditas enfrentadas pelo setor em 2015 já haviam sido sinalizadas através das quedas recordes nas vendas, no nível de ocupação no setor, além do fechamento inédito de 95 mil pontos de vendas”, afirmou o economista da CNC, Fabio Bentes. Com este resultado, o comércio passou a responder por 10,5% do PIB – menor participação desde 2008 (10,4%).
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O consumo das famílias, agregado que representa 63% do PIB, recuou 4% no ano passado, apresentando, portanto, a maior queda desde o início deste tipo de levantamento, em 1991. O mesmo ocorreu no nível de investimentos medidos através da formação bruta de capital fixo (-14,1%) que, diante da crise de confiança verificada no setor produtivo em 2015, registrou seu pior resultado dos últimos 24 anos. O aprofundamento da recessão econômica no quarto trimestre de 2015 (-5,9% sobre o mesmo período do ano anterior) levou a CNC a revisar de -3,2% para -3,4% sua previsão de desempenho da economia em 2016. Para o comércio, a Confederação projeta nova queda de valor adicionado neste ano (-8,0%), bem como para o consumo das famílias (-2,4%).
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