Colunas
Pula a fogueira
Fábula
Palilias – festas em honra da deusa Pales; ofereciam nos seus sacrifícios milho e outros grãos e se faziam andar os rebanhos em volta do altar para pedir que os multiplicasse e preservasse das doenças e dos lobos. Era uma das cerimônias essenciais à festividade por fogo a alguns molhos de palha, por cima dos quais os pastores passavam de salto.
(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – com argumentos tirados da história poética – Ed. Garnier – Paris)
Festas juninas – tradição x modernidade
Há muitos anos, as festas juninas possuíam um caráter fortemente religioso, repetindo anualmente as tradições vindas de Portugal e que preenchiam o imaginário popular com manifestações que variavam das procissões e rezas a uma gastronomia e folguedos típicos variados, como as fogueiras, queima de fogos, pau de sebo, leilões de prendas e outras. Os tempos mudaram e hoje as festas carregam, também, um forte apelo comercial com vendas de um variado cardápio que foge às manifestações originais.
Hoje, tradição e modernidade se confundem num misto de entretenimento e fé religiosa. O que era deslumbramento foi substituído pela cultura de massa, deixando na memória, apenas, os bons tempos que passaram.
Os santos, segundo folcloristas e historiadores
Santo Antônio
Não há exagero na quadrinha popular que diz:
“São João a vinte e quatro
São Pedro a vinte e nove
Santo Antônio a treze
Por ser o santo mais nobre”
Na realidade, Fernando Bulhões nasceu do casal Marins-Bulhões Taveira, da nobreza de Portugal. Mas o que ficou dessa nobreza, para os fiéis foram as graças sobrenaturais que frei Antônio espalhou pelo caminho terreno e que o fez galgar a glória celeste sob a invocação de Santo Antônio. A sua intercessão miraculosa é reclamada sob inúmeros aspectos.
O maior de seus milagres foi, sem dúvida, o que se deu quando, já famoso orador, pregava em Pádua (Itália). Avisado durante um sermão de que, em Portugal, o seu pai, condenado, caminhava para a forca, pousou por momentos a mão sobre a fronte e, milagrosamente desdobrou-se, foi à Lisboa e salvou-o. Daí, a dupla invocação do seu nome Santo Antônio de Lisboa, para aquele que nasceu em Lisboa em 1195, e Santo Antônio de Pádua, porque aí faleceu em 1232.
O prestígio do milagre de Santo Antônio alcançou as Índias, chegou ao Brasil e a todos os pontos onde existe um católico.Santo Antônio, porém, sempre foi o santo do lar, dos nichos e barraquinhas. Adorado com fervor é o protetor das povoações, dos soldados, o santo familiar, o desvendador de perdidos, o protetor dos casamentos que o sincretismo das religiões populares levou aos candomblés da Bahia, confundindo com Ogum, santo guerreiro dos negros.
É festejado em 13de junho, dia de preceito em toda a América por determinação da bula de 1722, do papa Inocêncio XVIII. Os devotos de Santo Antônio pintam sua figura em objetos de barro, de louça, de madeira, trazem-no em bentinhos e breves e antigamente até por cepilhos da sela. Daí o aviso ao meu cavaleiro: "Segura-te no Santo Antônio!"
A confiança em Santo Antônio é ilimitada. Mas o seu maior prestígio é entre as moças que querem casar. A filosofia popular retrata esses anseios na quadrinha pitoresca:
"Santo Antônio me case já
Enquanto sou moça e viva
Porque o milho colhido tarde
Não dá palha nem espiga"
(Marisa Lira. ‘Folclore carioca; Santo Antônio no folclore brasileiro’. Correio da Manhã, 18/08/1950)
São João
São João é o mais popular dos santos juninos. À exceção da Virgem Maria e do Menino Jesus, é o único santo comemorado no dia do seu nascimento: 24 de junho. Filho de Zacarias e Isabel, prima de Maria, mãe do filho de Deus. Seu nascimento e missão foram anunciados pelo anjo Gabriel e, quando nasceu, esse fato foi comunicado, conforme combinação, por uma fogueira.
Também chamado de o Batista, pois batizou Jesus no Rio Jordão foi, também, seu precursor, pregando antes dele, anunciando-o. Morreu degolado, por ordem de Herodes Antipas, a pedido de sua enteada Salomé.
Nenhuma festa mais popular entre os brasileiros do que a de São João, especialmente nas cidades e povoados do interior, onde se mantém melhor o culto das velhas tradições religiosas da raça.
Entretanto, nas capitais como o Rio de Janeiro, apesar do cosmopolitismo, das posturas proibitivas da municipalidade e de outros entraves, a data famosa não é de todo desprezada. E quem andar pelos subúrbios e pelas ruas afastadas do centro, na segunda quinzena de junho, ouvirá de todos os lados o estrondar dos fogos, verá em todas as esquinas as lanternas vermelhas das pequenas lojas de madeira em que os garotos vendem bichas e busca-pés, bombas e rojões, chuveiros e rodinhas, estrelinhas e pistolas; e, se erguer os olhos para o céu, avistará os globos luminosos dos balões, perdendo-se no espaço.
No sincretismo religioso, São João é o orixá Xangô. Segundo uma das muitas lendas, São João deve permanecer dormindo na noite de 23 para 24, apesar de toda a festança e foguetório aqui na Terra, pois, do contrário, provocaria o fim do mundo por fogo...
São Pedro
São Pedro é festejado em 29 de junho. Foi um dos 12 apóstolos escolhido por Jesus para ser o fundador da Igreja Católica. "Segue-me e farei de ti um pescador de homens." Foi o primeiro papa da Igreja Católica Romana. Nasceu na Galiléia e foi pescador. Também conhecido por Simão, Simão Pedro e Simão Barjona.
Morreu crucificado, pregado de cabeça para baixo, a seu pedido, por se considerar indigno de morrer como Jesus Cristo.
Nos cultos afro-brasileiros tem um correspondente nos orixás Exu ou Legbá. Popularmente é o chaveiro do céu, aquele que recebe as almas dos recém-falecidos. É o protetor dos pescadores e das viúvas, por ter tido este estado civil.
Há, por parte do povo, uma certa irreverência e liberdade no tratamento com São Pedro. Chover é obra de São Pedro. Quando os trovões começam a aturdir e as crianças, amendrontadas choram, as mães as consolam: "é a barriga de São Pedro roncando" ou "ele está mudando de lugar os móveis"...
Para se entrar no céu é necessário que o chaveiro – chaviculário-santo – abra as portas. Embora simbolizado como velho, não o respeitam devidamente. De maneira impiedosa e desrespeitosa é pábulo de milhares de anedotas, algumas inocentes, outras picantes. Serve para comparar e justificar os erros humanos: "Até São Pedro errou, posso errar também".
São Paulo
Também, é festejado no dia 29 de junho. Cidadão romano, Saulo foi um perseguidor ferrenho e cruel dos primeiros cristãos, até o dia em que, na estrada de Damasco, ouviu a voz de Jesus, convertendo-se, então. Foi decapitado por uma espada.
(ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional) / (BARROSO, Gustavo. O sertão e o mundo)
Alguns quitutes e bebidas das festas juninas
Das festas religiosas brasileiras de tradição européia, aquelas que mais se caracterizam por apresentar quitutes e bebidas típicas, são as dos mês de junho: Santo Antônio, São João e São Pedro, especialmente as duas primeiras.
Quitutes
Bolo de fubá
Broa de fubá
Doce de cidra (furundum ou furrundu)
Pé-de-moleque
Doce de abóbora seca
Bolo de farinha de milho
Paçoca de amendoim
Pipoca de milho vermelho
Bebidas
Quentão
Licor de aniz
Rosa sol
Cabreúva
Roxo-forte
(Japur, Jamile. "Alguns quitutes e bebidas das festas juninas". A Gazeta. São Paulo, 23 de junho de 1956)
Músicas juninas
Festa Junina
(Luiz Gonzaga)
Prá dançar quadria no sertão é mais mió
sanfoneiro e violeiro tomam conta do forró
não precisa orquestra pra animar a festa
o fungado da sanfona vai-se até o nascer do sol
Piriri piriri piriri
Toca o fole na palhoça
piriri piriri piriri
como é bom São João na roça
Chegou a hora da fogueira
(Lamartine Babo)
Chegou a hora da fogueira
É noite de São João
O céu fica todo iluminado
Fica o céu todo estrelado
Pintadinho de balão
Pensando no caboclo a noite inteira
Também fica uma fogueira
Dentro do meu coração
Quando eu era pequenino
De pé no chão
Eu cortava papel fino
Pra fazer balão
E o balão ia subindo
Para o azul da imensidão
Hoje em dia o meu destino
Não vive em paz
O balão de papel fino
Já não sobe mais
O balão da ilusão
Levou pedra e foi ao chão
Isto é lá com Santo Antônio
(Lamartine Babo)
Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio
São João disse que não!
São João disse que não!
Isto é lá com Santo Antônio!
Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio
Matrimônio! Matrimônio!
Isto é lá com Santo Antônio!
Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
São João ficou zangado
São João só dá cartão
Com direito a batizado
Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
Matrimônio! Matrimônio!
Isso é lá com Santo Antônio!
São João não me atendendo
A São Pedro fui correndo
Nos portões do paraíso
Disse o velho num sorriso:
Minha gente, eu sou chaveiro!
Nunca fui casamenteiro!
São João não me atendendo
A São Pedro fui correndo
Nos portões do paraíso
Matrimônio! Matrimônio!
Isso é lá com Santo Antônio
Pula a fogueira
(Getúlio Marinho (Amor) / João Bastos Filho)
Pula a fogueira, Iaiá!
Pula a fogueira, Ioiô!
Cuidado para não se queimar
Olha que a fogueira
Já queimou o meu amor!
Nesta noite de festança
Todos caem na dança
Alegrando o coração
Foguetes, cantos e troça
Na cidade e na roça
Em louvor a São João
Nesta noite de folguedo
Todos brincam sem medo
A soltar seu pistolão
Morena flor do sertão
Quero saber se tu és
Dona do meu coração
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