Pula a fogueira

sábado, 11 de junho de 2016

Fábula

Palilias – festas em honra da deusa Pales; ofereciam nos seus sacrifícios milho e outros grãos e se faziam andar os rebanhos em volta do altar para pedir que os multiplicasse e preservasse das doenças e dos lobos. Era uma das cerimônias essenciais à festividade por fogo a alguns molhos de palha, por cima dos quais os pastores passavam de salto.

(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – com argumentos tirados da história poética – Ed. Garnier – Paris)

Festas juninas – tradição x modernidade

Há muitos anos, as festas juninas possuíam um caráter fortemente religioso, repetindo anualmente as tradições vindas de Portugal e que preenchiam o imaginário popular com manifestações que variavam das procissões e rezas a uma gastronomia e folguedos típicos variados, como as fogueiras, queima de fogos, pau de sebo, leilões de prendas e outras. Os tempos mudaram e hoje as festas carregam, também, um forte apelo comercial com vendas de um variado cardápio que foge às manifestações originais.

Hoje, tradição e modernidade se confundem num misto de entretenimento e fé religiosa. O que era deslumbramento foi substituído pela cultura de massa, deixando na memória, apenas, os bons tempos que passaram.

Os santos, segundo folcloristas e historiadores

Santo Antônio

Não há exagero na quadrinha popular que diz:

“São João a vinte e quatro

São Pedro a vinte e nove

Santo Antônio a treze

Por ser o santo mais nobre”

Na realidade, Fernando Bulhões nasceu do casal Marins-Bulhões Taveira, da nobreza de Portugal. Mas o que ficou dessa nobreza, para os fiéis foram as graças sobrenaturais que frei Antônio espalhou pelo caminho terreno e que o fez galgar a glória celeste sob a invocação de Santo Antônio.  A sua intercessão miraculosa é reclamada sob inúmeros aspectos.

O maior de seus milagres foi, sem dúvida, o que se deu quando, já famoso orador, pregava em Pádua (Itália). Avisado durante um sermão de que, em Portugal, o seu pai, condenado, caminhava para a forca, pousou por momentos a mão sobre a fronte e, milagrosamente desdobrou-se, foi à Lisboa e salvou-o. Daí, a dupla invocação do seu nome Santo Antônio de Lisboa, para aquele que nasceu em Lisboa em 1195, e Santo Antônio de Pádua, porque aí faleceu em 1232.

O prestígio do milagre de Santo Antônio alcançou as Índias, chegou ao Brasil e a todos os pontos onde existe um católico.Santo Antônio, porém, sempre foi o santo do lar, dos nichos e barraquinhas. Adorado com fervor é o protetor das povoações, dos soldados, o santo familiar, o desvendador de perdidos, o protetor dos casamentos que o sincretismo das religiões populares levou aos candomblés da Bahia, confundindo com Ogum, santo guerreiro dos negros.

É festejado em 13de junho, dia de preceito em toda a América por determinação da bula de 1722, do papa Inocêncio XVIII. Os devotos de Santo Antônio pintam sua figura em objetos de barro, de louça, de madeira, trazem-no em bentinhos e breves e antigamente até por cepilhos da sela. Daí o aviso ao meu cavaleiro: "Segura-te no Santo Antônio!"

A confiança em Santo Antônio é ilimitada. Mas o seu maior prestígio é entre as moças que querem casar. A filosofia popular retrata esses anseios na quadrinha pitoresca:

"Santo Antônio me case já

Enquanto sou moça e viva

Porque o milho colhido tarde

Não dá palha nem espiga"

(Marisa Lira. ‘Folclore carioca; Santo Antônio no folclore brasileiro’. Correio da Manhã, 18/08/1950)

São João

São João é o mais popular dos santos juninos. À exceção da Virgem Maria e do Menino Jesus, é o único santo comemorado no dia do seu nascimento: 24 de junho. Filho de Zacarias e Isabel, prima de Maria, mãe do filho de Deus. Seu nascimento e missão foram anunciados pelo anjo Gabriel e, quando nasceu, esse fato foi comunicado, conforme combinação, por uma fogueira.

Também chamado de o Batista, pois batizou Jesus no Rio Jordão foi, também, seu precursor, pregando antes dele, anunciando-o. Morreu degolado, por ordem de Herodes Antipas, a pedido de sua enteada Salomé.

Nenhuma festa mais popular entre os brasileiros do que a de São João, especialmente nas cidades e povoados do interior, onde se mantém melhor o culto das velhas tradições religiosas da raça.

Entretanto, nas capitais como o Rio de Janeiro, apesar do cosmopolitismo, das posturas proibitivas da municipalidade e de outros entraves, a data famosa não é de todo desprezada. E quem andar pelos subúrbios e pelas ruas afastadas do centro, na segunda quinzena de junho, ouvirá de todos os lados o estrondar dos fogos, verá em todas as esquinas as lanternas vermelhas das pequenas lojas de madeira em que os garotos vendem bichas e busca-pés, bombas e rojões, chuveiros e rodinhas, estrelinhas e pistolas; e, se erguer os olhos para o céu, avistará os globos luminosos dos balões, perdendo-se no espaço.

No sincretismo religioso, São João é o orixá Xangô. Segundo uma das muitas lendas, São João deve permanecer dormindo na noite de 23 para 24, apesar de toda a festança e foguetório aqui na Terra, pois, do contrário, provocaria o fim do mundo por fogo...

São Pedro

São Pedro é festejado em 29 de junho. Foi um dos 12 apóstolos escolhido por Jesus para ser o fundador da Igreja Católica. "Segue-me e farei de ti um pescador de homens." Foi o primeiro papa da Igreja Católica Romana. Nasceu na Galiléia e foi pescador. Também conhecido por Simão, Simão Pedro e Simão Barjona.

Morreu crucificado, pregado de cabeça para baixo, a seu pedido, por se considerar indigno de morrer como Jesus Cristo.

Nos cultos afro-brasileiros tem um correspondente nos orixás Exu ou Legbá. Popularmente é o chaveiro do céu, aquele que recebe as almas dos recém-falecidos. É o protetor dos pescadores e das viúvas, por ter tido este estado civil.

Há, por parte do povo, uma certa irreverência e liberdade no tratamento com São Pedro. Chover é obra de São Pedro. Quando os trovões começam a aturdir e as crianças, amendrontadas choram, as mães as consolam: "é a barriga de São Pedro roncando" ou "ele está mudando de lugar os móveis"...

Para se entrar no céu é necessário que o chaveiro – chaviculário-santo – abra as portas. Embora simbolizado como velho, não o respeitam devidamente. De maneira impiedosa e desrespeitosa é pábulo de milhares de anedotas, algumas inocentes, outras picantes. Serve para comparar e justificar os erros humanos: "Até São Pedro errou, posso errar também".

São Paulo

Também, é festejado no dia 29 de junho. Cidadão romano, Saulo foi um perseguidor ferrenho e cruel dos primeiros cristãos, até o dia em que, na estrada de Damasco, ouviu a voz de Jesus, convertendo-se, então. Foi decapitado por uma espada.

(ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional) / (BARROSO, Gustavo. O sertão e o mundo)

Alguns quitutes e bebidas das festas juninas

Das festas religiosas brasileiras de tradição européia, aquelas que mais se caracterizam por apresentar quitutes e bebidas típicas, são as dos mês de junho: Santo Antônio, São João e São Pedro, especialmente as duas primeiras.

Quitutes

Bolo de fubá
Broa de fubá
Doce de cidra (furundum ou furrundu)
Pé-de-moleque
Doce de abóbora seca
Bolo de farinha de milho
Paçoca de amendoim
Pipoca de milho vermelho

Bebidas

Quentão
Licor de aniz
Rosa sol
Cabreúva
Roxo-forte
(Japur, Jamile. "Alguns quitutes e bebidas das festas juninas". A Gazeta. São Paulo, 23 de junho de 1956)

Músicas juninas

Festa Junina

(Luiz Gonzaga)

Prá dançar quadria no sertão é mais mió

sanfoneiro e violeiro tomam conta do forró

não precisa orquestra pra animar a festa

o fungado da sanfona vai-se até o nascer do sol  

Piriri piriri piriri

Toca o fole na palhoça 

piriri piriri piriri

como é bom São João na roça

Chegou a hora da fogueira

(Lamartine Babo)

Chegou a hora da fogueira

É noite de São João

O céu fica todo iluminado

Fica o céu todo estrelado

Pintadinho de balão

Pensando no caboclo a noite inteira

Também fica uma fogueira

Dentro do meu coração

Quando eu era pequenino

De pé no chão

Eu cortava papel fino

Pra fazer balão

E o balão ia subindo

Para o azul da imensidão

Hoje em dia o meu destino

Não vive em paz

O balão de papel fino

Já não sobe mais

O balão da ilusão

Levou pedra e foi ao chão

Isto é lá com Santo Antônio

(Lamartine Babo)

Eu pedi numa oração

Ao querido São João

Que me desse um matrimônio

São João disse que não!

São João disse que não!

Isto é lá com Santo Antônio!

Eu pedi numa oração

Ao querido São João

Que me desse um matrimônio

Matrimônio! Matrimônio!

Isto é lá com Santo Antônio!

Implorei a São João

Desse ao menos um cartão

Que eu levava a Santo Antônio

São João ficou zangado

São João só dá cartão

Com direito a batizado

Implorei a São João

Desse ao menos um cartão

Que eu levava a Santo Antônio
Matrimônio! Matrimônio!

Isso é lá com Santo Antônio!

São João não me atendendo

A São Pedro fui correndo

Nos portões do paraíso

Disse o velho num sorriso:

Minha gente, eu sou chaveiro!

Nunca fui casamenteiro!

São João não me atendendo

A São Pedro fui correndo

Nos portões do paraíso

Matrimônio! Matrimônio!

Isso é lá com Santo Antônio

Pula a fogueira

(Getúlio Marinho (Amor) / João Bastos Filho)

Pula a fogueira, Iaiá!

Pula a fogueira, Ioiô!

Cuidado para não se queimar

Olha que a fogueira

Já queimou o meu amor!

Nesta noite de festança

Todos caem na dança

Alegrando o coração

Foguetes, cantos e troça

Na cidade e na roça

Em louvor a São João

Nesta noite de folguedo

Todos brincam sem medo

A soltar seu pistolão

Morena flor do sertão

Quero saber se tu és

Dona do meu coração

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