Impressões — 12/12/2015

sábado, 12 de dezembro de 2015
Foto de capa

Fábula

Cigarra – Inseto que era consagrado a Apolo; tinha-se por símbolo dos maus poetas, como o cisne se tinha pelo dos bons.
(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – com argumentos tirados da história poética – Ed. Garnier – Paris

Linha do tempo

“Quem gosta de escrever cartas para os jornais não deve ter namorada.”
Carlos Drummond de Andrade

“O importante não é dizer, é saber. Certas coisas não se dizem, porque dizendo, deixam de ser ditas pelo não-dizer, que diz muito mais.”
Fernando Sabino

Cartas – A intimidade dos pensamentos

Na última segunda-feira, 7, uma carta sem o carimbo dos Correios pousou na mesa de trabalho da presidente Dilma Rousseff e seu conteúdo não era de felicitações pelo Natal nem enviando votos de próspero Ano Novo. Nela, o remetente, o vice-presidente Michel Temer apontou episódios que demonstrariam a "desconfiança" que o governo tem em relação a ele e ao PMDB. E externou seu pensamento acerca das relações tumultuadas entre ele e a mandatária dando início à maior crise institucional da era republicana do país. "Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem), começou ele, desfiando um rosário de lamentações sobre a tumultuada convivência entre os dois políticos nos últimos cinco anos. E por aí foi. O final já estamos assistindo e o resto é história.

Mais do que levar mensagens de uma pessoa a outra, cartas se tornam especiais por transmitirem sentimentos e revelarem a intimidade de amantes, amigos e familiares. Lidas anos mais tarde, essas correspondências reconstroem tanto a biografia de destinatários e remetentes, quanto a história de uma sociedade.

As cartas caminham com a humanidade. O rei Salomão, em Provérbios 25:25 já externava a sua importância: “Como água fresca para a alma cansada é a notícia de uma terra longínqua”. A Bíblia, chamada pelos cristãos “a palavra de Deus”, em certo sentido é uma carta, cujo remetente é Deus e os destinatários são os seres humanos. A carta magna celestial sobrevive até os dias de hoje, disponível a quem desejar tê-la.

Consciente da importância das cartas como registro documental da história o Instituto Moreira Sales criou o projeto Correio IMS (www.correioims.com.br), um site que disponibiliza um acervo com cem cartas escritas desde  pessoas comuns a escritores, poetas, pintores, músicos, arquitetos e figuras da história cultural e política do país. O site apresenta o conteúdo de cartas inéditas e já publicadas do acervo do Instituto Moreira Salles e de livros. É coordenado por Élvia Bazerra. Vale a pena conhecer.

Cartas de rejeição

Que a a rejeição dói, todo mundo sabe, seja no trabalho ou em qualquer outra parte da vida. Mas levar um “não” pode ser tudo que você precisa para seguir em frente e triunfar. Veja como estas personalidades reagiram ao ouvir que não eram bons.

Madonna

Quando a rainha do pop finalmente conseguiu assinar com a Sire Records, em 1982, seu álbum de lançamento vendeu mais de dez milhões de cópias ao redor do mundo. Ela usou essa rejeição como motivação, já que esse respeitado produtor achava que ela “não estava pronta ainda”. Hoje em dia ela é a artista feminina que vendeu mais discos na história.

Andy Warhol

Em 1956, Warhol entregou uma de suas obras para o Museaum of modern art de graça, mas foi rapidamente rejeitado. Obviamente, a sorte dele mudou bem rápido. Além de ter seu próprio museu em Pittsburgh, o mesmo museu que o rejeitou hoje em dia exibe 168 dos seus trabalhos originais.

U2

Quando o U2 estreou, em 1979, a RSO Records não se impressionou nem um pouco, enviando ao grupo uma carta lacônica. Dentro de alguns meses, a banda assinou com a Island Records e lançou o primeiro single internacional, “11 O’clock tick tock.” Eles continuaram para chegar a vender 150 milhões de discos, ganhar 22 Grammy Awards (mais do que qualquer banda na história), e ter a turnê de maior bilheteria do mundo.

Gertrude Stein

No que foi provavelmente a carta mais sarcástica de todos os tempos, Arthur C. Fifield recusou o manuscrito "The making of americans" sem sequer lê-lo inteiro, e ainda zombou dela. A célebre romancista e poeta mais tarde foi mentora de Ernest Hemingway.

Edgard Rice Burroughs

Sua história foi rejeitada sem cerimônia em 1912. A obra que deu a Edgar a fama, Tarzan e os Macacos, gerou 25 sequências e inúmeras reproduções. Por sorte, uma publicação mais esperta aceitou a obra mais tarde no mesmo ano, lançando um legado que tem mais de cem anos.

Livros de cartas

- Cartas e suas histórias
Overlac Menezes - Editora Marco Zero - 128 páginas

‘Cartas e suas histórias' traz histórias sobre cartas, ou seja, por que a carta foi escrita, quando, em que circunstâncias, quais foram os motivos. Com exceção das comerciais, o autor também reproduz vários tipos de cartas - tristes, alegres, comoventes e piegas; cartas com pedidos, declarações (até as de amor) e confissões. O livro não tem a pretensão de ensinar a escrever cartas, mas de fazer com que o leitor se apaixone por essa forma de comunicação. Dedicado tanto às pessoas acostumadas a escrever como aquelas que não estão familiarizados com esse tipo de escrita.

- Cartas Extraordinárias - A correspondência inesquecível de pessoas notáveis
Shaun Usher - Companhia das Letras - 368 páginas

Do comovente bilhete suicida de Virgínia Woolf à receita que a rainha Elizabeth II enviou ao presidente americano Eisenhower; do pedido especial que Fidel Castro, aos 14 anos, faz a Franklin D. Roosevelt, à carta em que Gandhi suplica a Hitler que tenha calma; e da bela carta em que Iggy Pop dá conselhos a uma fã atormentada ao genial pedido de emprego de Leonardo da Vinci - Cartas extraordinárias é uma celebração do poder da correspondência escrita, que captura o humor, a seriedade e o brilhantismo que fazem parte da vida de todos nós. Esta coletânea de mais de 125 cartas oferece um olhar inédito sobre os eventos e as pessoas notáveis da nossa história. 

- As cartas que não chegaram
Maurício Rosencof  - Editora Record - 126 páginas

Dos campos de concentração nazistas às torturas realizadas pela ditadura uruguaia, 'As cartas que não chegaram' reúne retratos terríveis e belos da história de uma família a partir do testemunho de um menino, um jovem e um homem - uma única memória que narra realidades que ofuscam a ficção. Maurício Rosencof faz uma profunda reflexão sobre sua vida e a de seus familiares em meio a um mundo assolado por guerras e separações, mas com os vínculos mantidos que servem como alívio para a solidão e a tristeza.

- Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco
Organizado por Graça Aranha - Editora Topbooks - 254 páginas  

As cartas trocadas entre dois dos mais importantes nomes do cenário intelectual brasileiro - entre 1865 e 1908 - estão aqui reunidas e comentadas pelo amigo de ambos, e acadêmico como eles, Graça Aranha. A correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco ultrapassa o âmbito de conversa protocolar ou particular de amigos, e levanta questões importantes acerca do papel intelectual e do escritor no período compreendido entre o final do Império e os primórdios da Republica Velha. Esta terceira edição, publicada 80 anos após a primeira - e em convênio com a Academia Brasileira de Letras - traz um prefácio do historiador José Murilo de Carvalho e dois cadernos de fotos.

- Cartas a Theo
Vincent Van Gogh - L&PM Editores - 470 páginas

As cartas são de Van Gogh para seu irmão Théo, escritas entre julho de 1873 e 1890. Mostram um pintor atormentado diante das questões apresentadas pela sociedade e que confronta modelos e costumes. Suas telas eram jorros de substância incendiária, cujo ângulo de visão, ao contrário de toda a pintura com prestígio em sua época, teria sido capaz de perturbar seriamente o conformismo da burguesia do Segundo Império.

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