Impressões — 01/11/2015

sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Foto de capa

Roça moderna

"O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude.”
Confúcio

“A maioria dos homens vive uma existência de tranquilo desespero.”
Henry David Thoreau

Quando se fala do meio rural, o saudosismo logo salta aos olhos. Casarões coloniais, “coronéis”, maria-fumaça, chapéu de palha, viola e a pacata vida do campo, quebrada apenas pelo canto das cigarras, o cacarejar das galinhas, broa de milho e fogão a lenha. Bem, quase tudo isso é verdade, porém há mais coisa no campo que o passado pode nos levar a imaginar. Saudosismos à parte, o campo não é mais o mesmo. A roça hoje é moderna.
Com uma excelente qualidade de vida, o meio rural absorveu as tendências da modernidade, substituindo o manual pelo motor, a carroça pela motocicleta e o trator, incorporou novas tecnologias, como o celular, a internet, o GPS; ingressou na sociedade de consumo com o uso do cartão de crédito, as compras on-line; acompanha a economia, conhece as commodities; criou a cultura do lazer e do entretenimento com a música sertaneja, abriu os horizontes, uniu o campo e a cidade.

Juventude rural
Ao contrário do que alguns teóricos previram, o mundo rural não chegou ao fim. Presenciamos a reordenação de categorias construindo identidades e disputando espaço enquanto atores sociais. A “juventude rural” reaparece nos diferentes contextos rurais da atualidade como uma categoria chave para a própria reprodução social do campo e em especial da produção familiar. Exemplo disso é a fazenda-escola Rei Alberto I, situada na localidade de Salinas, distrito de Campo do Coelho. Fundada em parceria com o Instituto Ibelga (Instituto Bélgica Nova Friburgo) em 1994, ela é destaque em ensino agrícola, oferecendo um tipo diferenciado de ensino — a Pedagogia de Alternância —, promovendo a integração entre a comunidade agrícola e a escola, além da inclusão dos estudantes ao principal meio profissional da região: a agricultura. Parte dos produtos agrícolas que abastece o Estado é resultado do trabalho das famílias da região que têm as plantações como fonte de renda.

Campo sem colonos
A própria imagem do produtor rural muda drasticamente com os novos sistemas produtivos. A agricultura familiar cultiva a maior parte dos alimentos que chegam ao consumidor in natura, mas mesmo em pequenas propriedades quem produz está cada vez mais próximo da rede de distribuição, do comércio, do consumidor. O campo fica mais urbano. A população mundial urbana ultrapassou a rural em 2007. No Brasil, isso aconteceu no início dos anos 1970. Em 2010, a relação era de 30 milhões de brasileiros (16%) no campo contra 161 milhões nas cidades (84%). Em 2050, essa diferença pode ser de 16 milhões (6%) para 238 milhões (94%). Mas quem ficar na lavoura deverá operar máquinas controladas por computador em atividades cada vez mais automatizadas.

O peso do agronegócio
Moderno, eficiente e competitivo, o agronegócio brasileiro é uma atividade próspera, segura e rentável. Com um clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta, o Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados. Esses fatores fazem do país um lugar de vocação natural para a agropecuária e todos os negócios relacionados a suas cadeias produtivas. O agronegócio é hoje a principal locomotiva da economia brasileira e responde por um em cada três reais gerados no país.

Permacultura
“Permanent Agriculture” em inglês, nasceu com Bill Mollison, ex-professor universitário australiano, na década de 1970, que percebeu que nem os cantos remotos do interior australiano onde morava seriam poupados de um colapso planetário iminente. “Resolvi”, falou Mollison na sua passagem pelo Brasil, “que, se voltasse para o mundo, voltaria com uma coisa muito positiva”.
Foi assim que nasceu a ideia, juntamente com David Holmgren, de criar sistemas de florestas produtivas para substituir as monoculturas de trigo e soja, responsáveis pelo desmatamento mundial. Observando e imitando as formas de florestas naturais do lugar, revelou-se possível a criação de sistemas altamente produtivos, estáveis e recuperadores dos ecossistemas locais. Depois de dez anos implantando tais sistemas, Mollison, Holmgren e seus colaboradores perceberam que não adianta concentrar-se em sistemas naturais sem considerar os outros sistemas: monetários, urbanos (arquitetura, reciclagem de lixo e águas), sociais e de crenças.

Modernização
O bom desempenho das exportações do setor e a oferta crescente de empregos na cadeia produtiva não podem ser atribuídos apenas à vocação agropecuária brasileira. O desenvolvimento científico-tecnológico e a modernização da atividade rural contribuíram igualmente para transformar o país numa das mais respeitáveis plataformas mundiais do agronegócio. O país é um dos poucos do mundo onde é possível plantar e criar animais em áreas temperadas e tropicais. Favorecida pela natureza, a agricultura brasileira pode obter até duas safras anuais de grãos, enquanto a pecuária se estende dos campos do Sul ao Pantanal de Mato Grosso — a maior planície inundável do planeta.

Salvando a lavoura
O PIB do agronegócio recuou 0,12% em março, mas encerrou o primeiro trimestre de 2015 com leve alta de 0,04%, mostra levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Com os resultados, a renda do agronegócio brasileiro é estimada em R$ 1,212 trilhão, dos quais R$ 819,16 bilhões (67,6%) do setor agrícola e R$ 393,1 bilhões (32,4%), do pecuário. Para este ano, o PIB do agronegócio do Brasil deve crescer 2,8%.  

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