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HQ's – do submundo à consagração
Fábula
Fábula – divindade alegórica. Filha do Sono e da Noite. Diz-se que desposara o Engano e que seu contínuo entretenimento era contrafazer a história. Representa-se com uma máscara no rosto e magnificamente vestida.
(Dicionário da Fábula – Ed. Garnier – Paris)
Linha do Tempo
Os príncipes são sapos numa festa à fantasia.
Kléber Novartes
HQ's – do submundo à consagração
Os comics, como são conhecidas nos países de língua inglesa, surgiram na mesma época do cinematógrafo, mas diferente do que aconteceu com o cinema, que desde sua estreia foi considerado a sétima arte, os quadrinhos não receberam da crítica a devida importância, sendo até mesmo considerados como uma má influência para crianças e adolescentes. Isso aconteceu em virtude das temáticas abordadas, que fugiam às narrativas convencionais, pois se nem a disposição no papel era convencional, por que a linguagem o seria? Essa inovação provocou grande estranhamento e as impressões iniciais sobre as HQ's transportaram a arte sequencial para o submundo das artes, onde permaneceu até a década de 60, quando invadiu o universo acadêmico e ganhou a simpatia de estudantes e professores.
As histórias em quadrinhos mais famosas são aquelas que retratam a vida de super-heróis, eternizados na arte sequencial e transportados para a linguagem cinematográfica, ganhando projeção internacional e povoando o imaginário de leitores do mundo inteiro. Mas nem toda HQ fica restrita a narrar as peripécias de personagens dotados de superpoderes: artistas como Marjane Satrapi e Art Spiegelman utilizaram as histórias em quadrinhos para narrar suas histórias de vida. Persépolis, livro de Marjane Satrapi publicado em quatro volumes, narra a infância da escritora iraniana durante a Revolução Islâmica. Já o livro Maus, do americano de origem judia Art Spiegelman, conta a história de seus pais, sobreviventes dos campos de concentração de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial. Maus recebeu, em 1992, o primeiro prêmio Pulitzer destinado a um livro de história em quadrinhos.
Seleção com alguns dos principais nomes dos quadrinhos desde o início do século 20:
Alan Moore – integrante da geração de autores que despontou nos anos 80, ele conseguiu criar um universo fantástico recheado de personagens e histórias com heróis bem humanos envolvidos em atmosferas sombrias e caóticas. Entre suas principais criações estão a série “Watchmen”, o personagem John Constantine e as graphic novels “V de Vingança” e “A Liga Extraordinária”.
Alex Raymond – criador de alguns dos maiores clássicos da primeira era de ouro dos quadrinhos nos anos 30, como “Flash Gordon” e “Jim das Selvas”, o nova-iorquino Raymond foi uma espécie de Júlio Verne das historinhas, graças a sua criatividade visionária e aos seus desenhos futuristas.
Bill Watterson – entre 1985 e 1995, ele produziu as historinhas de “Calvin & Haroldo”, que mostram a rotina de um garotinho e seu tigre de pelúcia, envolvidos com a família, a escola e as brincadeiras. O que tinha tudo para ser um tema banal transformou-se em um fenômeno graças à capacidade de Watterson de fazer de Calvin um garoto com imaginação e sarcasmo surpreendentes.
Bob Kane – ele criou o Batman (1939), o Homem-Morcego, logo após o surgimento do Super-Homem. Também como o Homem de Aço, Batman tinha uma dupla identidade — era o milionário Bruce Wayne antes de se transformar no vingador noturno — e uma metrópole para proteger: Gotham City.
Charles Schulz – ele se tornou um dos autores mais bem remunerados das histórias em quadrinhos graças à criação da turma do “Minduim” (Peanuts), liderada pelo garoto Charlie Brown e seu cachorrinho Snoopy. O melancólico, derrotado e preocupado Charlie Brown tem como companheiro em suas desventuras na vizinhança e na escola o filosófico e extrovertido beagle Snoopy.
Frank Miller – ele revolucionou os quadrinhos ao lançar em 1986 a mini-série “O Cavaleiro das Trevas”, uma releitura que deu a Batman uma personalidade complexa, cheia de conflitos psicológicos e traumas, vivendo em uma Gotham City soturna. Miller criou também outras graphic novels cultuadas como “Sin City”, “Elektra” e “Os 300 de Esparta”.
Hergé – o belga Georges Remi, que usava o pseudônimo Hergé, criou Tintin em 1929, um herói ao estilo escoteiro que se aventurou mundo afora. Começou com missões anticomunistas e colonialistas, sempre acompanhado do seu fox terrier Milou, e avançou por outras partes do planeta numa tentativa de retratar, a partir da visão europeia de seu criador, as realidades culturais locais.
Jerry Siegel e Joe Shuster – a dupla criou o Super-Homem em 1938. O sucesso do repórter Clark Kent — que veio bebê do planeta Kripton para a Terra, foi adotado por um casal sem filhos e cresceu descobrindo seus poderes especiais para salvar Metrópolis — inaugurou a era dos super-heróis nos quadrinhos. O Super-Homem virou um mito moderno. Seu sucesso e dos outros supers, que vieram a seguir, revelaram que para o homem comum encarar as frustrações e as dificuldades da vida contemporânea somente é possível com super poderes, tais como correr mais rápido do que um trem, parar uma bala na mão e ter visão de raio X.
Maurício de Sousa – o mais importante autor de quadrinhos no Brasil começou a criar nos anos 60 os personagens e as historinhas da “Turma da Mônica”, que têm como principais protagonistas uma menina baixinha, dentuça e forte o suficiente para bater em todos da rua, um menino troca letras, o Cebolinha, e um que não gosta de tomar banhos, o Cascão.
Neil Gaiman – um dos principais protagonistas da revolução nos quadrinhos nos anos 80 apresentou um mundo onírico e fantástico a partir da releitura de “Sandman”, um antigo conto infantil criado por Hans Christian Andersen. A imaginação e o talento de Gaiman, que vai dos quadrinhos ao cinema, passando pela literatura, o transformaram num dos ícones da chamada alta cultura pop.
Quino – esse argentino criador das historinhas da garotinha “Mafalda” é, junto com Maurício de Sousa, um dos expoentes dos quadrinhos latino-americanos. “Mafalda” é uma tagarela crítica que surge nos anos 60 para comentar de forma ácida o mundo a sua volta.
Robert Crumb – “papa” dos quadrinhos undergrounds, carregados de críticas sociais e comportamentais principalmente à sociedade americana dos anos 60 e 70. Entre suas criações mais conhecidas está “Fritz, the cat”, um gato drogado, lascivo e anarquista, que se tornou um ícone da juventude envolvida em protestar contra a sociedade de consumo, a guerra do Vietnã e pelas liberdades sexuais.
Stanley Martin Lieber – mais conhecido como Stan Lee, é um escritor, editor, publicitário, produtor, diretor, empresário norte-americano e ator que, em parceria com outros importantes nomes dos quadrinhos criou, a partir do início dos anos 1960, super-heróis complexos e problemáticos, dando ao gênero um tom mais “humano”, “verídico”, na contramão da principal editora de HQ's de super-heróis da época, DC Comics, detentora dos direitos de personagens famosos como Superman, e Mulher-Maravilha, que seguiam no tom de super-heróis “invencíveis”, “insuperáveis”, revolucionando o gênero. Seu sucesso foi fundamental para transformar a Marvel Comics, de uma pequena editora de HQs, para uma das maiores corporações multimídia de entretenimento do mundo.
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