Goles de vinho

sábado, 22 de outubro de 2016

Fábula
Baco - filho de Júpiter e de Semele. Foi considerado, depois de Júpiter, como o mais poderoso dos deuses. Foi representado com um copo em uma mão e na outra um tirso, do qual se servira, para fazer brotar fontes de vinho. 
(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – Ed.Garnier – Paris) 

Linha do Tempo
“O segredo para aproveitar um bom vinho: 1- Abra a garrafa para permitir que respire; 2 - se parecer que não respira, faça respiração boca à boca.”
“Dinheiro não compra felicidade, mas compra vinho, que é quase a mesma coisa”

Breve história do vinho
O cultivo da videira e a elaboração do vinho remonta a mais alta antigüidade. As viníferas tiveram origem na Ásia Menor, mais especificadamente entre a Pérsia e a Armênia, de onde se propagaram para o Egito.
As inscrições encontradas nas tumbas egípcias nos dão certeza que este povo cultivava a videira uns 8 a 10.000 anos antes de nossa era. Do Egito a viticultura propagou-se para o norte da África, Grécia, Itália, França e Espanha.
Por seu poder inebriante, o vinho sempre esteve associado a divindades e ao sobrenatural e, logicamente, envolvido em lendas. Dos costumes cartagineses e romanos e citados pela própria Bíblia, o vinho passou a fazer parte da vida do Homem.
Devido à natureza seguir seu curso espontaneamente, originou a fermentação dos frutos, surgindo assim o vinho. Tido como um alimento, uma vez que era a forma de conservar a uva, preciosa comida na época, portanto a mais antiga bebida após a água.
Em 1857 os memoráveis estudos de Pasteur davam a explicação científica da fermentação alcoólica, do envelhecimento dos vinhos e de suas enfermidades, abrindo uma luz para os primeiros processos enológicos.
O início do cultivo da parreira no Brasil data de 1532, na capitania de São Vicente, introduzido por Martim Afonso de Souza que trouxe as primeiras mudas da Europa. No Rio Grande do Sul data de 1875, com a chegada dos primeiros imigrantes italianos, principalmente na Serra Gaúcha.
Dos tempos de nossos ancestrais aos dias em que vivemos certamente vai uma gigantesca distância. Porém se analisarmos a magia que esta nobre bebida exerce sobre as pessoas, não encontraremos muitas diferenças.

Goles de vinho
Que o vinho é muito apreciado, e precisa-se de muito tempo para entendê-lo, todos sabem, no entanto, ele também possui uma história muito antiga, e cheia de curiosidades pouco conhecidas. Selecionamos algumas delas, um tanto pitorescas:
1 - A expressão “brindar” originou-se na Roma antiga, quando o Senado ordenou ao imperador Augustus que fosse homenageado com um brinde a cada refeição. O costume começou com um pedaço de pão tostado, chamada pelos romanos de “tostus”, que eles colocavam na taça de vinho, para mascarar eventuais sabores desagradáveis da bebida. Virou costume, assim, que todo mundo em uma refeição levantasse sua taça, para uma pessoa que estivesse sendo homenageada.
2 - A garrafa de vinho mais antiga do mundo data do ano 325 a.C. e foi encontrada perto da cidade de Speyer, na Alemanha, em 1867. Acredita-se que é a garrafa não aberta mais velha do mundo. Ela possui cerca de 1,5 litro de bebida e foi descoberta durante uma escavação dentro de uma tumba de um homem pertencente à elite romana do século IV, que possuía dois sarcófagos, um com o corpo de um homem e o outro com o de uma mulher. É provável que o vinho tenha sido produzido na mesma região, diluído com uma mistura de ervas e preservado com uma grande quantidade de azeite espesso adicionado ao frasco para vedar o vinho, juntamente com um selo de cera quente.
3 - Embora não seja algo muito comum, muitas pessoas possuem medo de vinhos, esse transtorno é chamado de “oenophobia”, que caracteriza-se como “medo de vinho; ansiedade relacionada ao vinho”.
4 - Quando chegaram a América do Norte, os “vikings” nórdicos (exploradores) nomearam ocontinente como “wine land”, ou seja, “terra do vinho”, devido à grande quantidade de videiras que acharam no local.
5 - O ato de falsificar vinhos é ilegal desde 1.754 a.C., na antiga Mesopotâmia. O código de leis chamado de “Código de Hamurabi” é um dos mais antigos já decifrados atualmente. Ele possui 282 leis, uma das quais afirma que qualquer pessoa que fosse flagrada vendendo vinho fraudado deveria ser afogada em um rio, como meio de punição.
6 - Em 1922, descobriu-se na tumba do menino-rei Tutancâmon, morto entre 1320-1330 A.C. , várias garrafas de vinho tinto, rotuladas com o nome, safra, local e até o produtor dos vinhos. Os rótulos eram tão detalhados que podem ser comparados com os de hoje em dia.
7 - O termo simpósio teve origem na Grécia antiga e significa, literalmente, “beber juntos”, refletindo o costume dos gregos de misturar vinho e discussões intelectuais. Simpósios geralmente eram realizados nas casas das pessoas, servia-se comida e vinhos, ao mesmo tempo em que ocorria uma discussão sobre política e filosofia. Eles eram frequentemente realizados para comemorar a introdução de jovens na sociedade aristocrática. Um simpósio era supervisionado por um “symposiarch”, uma versão antiga de um sommelier, que iria decidir  qual vinho seria servido na noite.

O vinho no cinema

– A Festa de Babette, Oscar de melhor filme estrangeiro de 1988. A festa, na realidade um jantar servido para poucas pessoas de um vilarejo, é um belo passeio pela alta gastronomia e enologia. O termo “Festa de Babette” tornou-se um sinônimo de boa cozinha.
– Sideways - Entre umas e outras, Oscar de melhor roteiro adaptado de 2005. Dois amigos decidem sair num passeio de uma semana pela Califórnia para comer e beber.
– Mondovino, documentário produzido por Argentina, França, Itália e Estados Unidos, dirigido por Jonathan Nossiter e exibido na competição do Festival de Cannes em 2004.
– Bottle Shock, filme norte-americano de 2008, baseado em fato real acontecido nos anos 1970, na Califórnia. 
– In Vino Veritas, documentário de 1982, dirigido por Ítala Nandi, sobre a colonização italiana e a vinicultura no Rio Grande do Sul.
– El vino y otras bebidas, documentário espanhol de 1944, dirigido por Arturo Ruiz Castillo.

“Soneto do Vinho”
Jorge Luis Borges

Em que reino, em que século, sob que silenciosa 
Conjunção dos astros, em que dia secreto
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
E singular idéia de inventar a alegria?

Com outonos de ouro a inventaram. 
O vinho flui rubro ao longo das gerações
Como o rio do tempo e no árduo caminho
Nos invada sua música, seu fogo e seus leões.

Na noite do júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E a exaltação nova que este dia lhe canto

Outrora a cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver minha própria história 
Como se esta já fora cinza na memória.

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