Todo o inferno está contido numa única palavra: solidão

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Victor Hugo, você precisava conhecer os dias de solidão high tech que vivemos hoje, sabia?

Com todas as portas, janelas e fendas gigantescas para falar ao mundo que habita fora de nós, as definições de solidão foram atualizadas. 

Victor Hugo definitivamente não conhecia o poder da companhia de todos os aplicativos de internet quando visualizou na solidão, o Inferno. 

O Inferno de Victor Hugo anda mais ameno. Anda mesmo?

Eis aqui uma bela indagação.

Ser sozinho hoje, seja morar sozinho, ter poucos amigos no convívio cotidiano ou interagir quase nada no meio de muitos (fisicamente falando), pode ser uma das experiências mais povoadas de sua vida. Depende de seu grau de imaginação e de sua banda larga.

Mas ainda há um medo enorme da solidão. 

Um incômodo de não ter companhia pra dormir, pra dividir os afazeres domésticos, pra socorrer num sufoco, pra rir juntos, pra tocar.

Esse medo é real e secular. 

Medo de solidão física, de falta de par, falta de afeto, falta de aceitação, falta de experiência - a real angústia do isolamento.

O mais curioso, como toda a companhia da vida virtual e seus habitantes, a cada três pessoas no Ocidente, uma delas se sente solitária, sozinha mesmo. 

A solidão sempre foi um entrave à felicidade, desde os tempos antigos de filósofos amargurados. Hoje ela é epidêmica. Muitos se sentem absolutamente sós - eis um quadro da contemporaneidade.

É a solidão em tempos líquidos: a sensação de estarmos num deserto sem fim ou numa ilha perdida mesmo em meio à urbis e ao caos. Fato incontestável.

E por que ainda há tanto receio de se estar sozinho? 

Temos tantas conexões: amigos reais, virtuais, desconhecidos, todos em voz, video, chat. Sozinho, sozinho ninguém fica mais, certo? 

Mas a angústia parece aumentar entre as pessoas. O preço desse sentimento que mistura medo, melancolia e até pânico de ser e estar sozinho, leva-nos a níveis de carência e aceitação quase absurdos.

Em nome de convivermos, habitarmos, passarmos tempo, dividimos nossa vida com alguém, abandonamos até nossos sonhos e partimos para o abraço. 

Abraço literal.

Não julgo. Compreendo o sentimento. 

Mas então aquele Inferno de Victor Hugo não está mais light com a populosa vida virtual?

Sim, a solidão foi inegavelmente relativizada pelos recursos da Internet, ajudando para que esse tal Inferno seja um lugar de trocas e de novas amizades. Quase um Paraíso.

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Bia WIlcox

Bia Wilcox

Bia Willcox sempre escreveu.Professora e advogada por formação, sua grande paixão é conteúdo, texto, assuntos diversos pra trocar e enriquecer.assina a coluna Amores Cariocas na Rádio Bandnews e um blog sobre cultura e entretenimento no Portal R7

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