O lado que todos tem

quarta-feira, 14 de março de 2018

Passei um bom tempo de minha vida acreditando que não precisávamos ter um lado ou, mais difícil ainda, que devíamos lutar para não ter um lado, lutar pela imparcialidade e isenção, como se pessoas imparciais e isentas valessem mais no mercado. 

Acreditei que não seria possível escolher um lado a cada embate de opiniões contrárias. Entendia que não se meter era mais do que só ser conveniente e discreto: era realmente não tomar partido de ninguém.

Hoje sou mais realista e autêntica. Todo mundo tem um lado, mesmo que o lado escolhido, ou seja aquele que a gente escolheu como o mais justo e certo, seja guardado a sete chaves e vestido de neutralidade ou isenção.

Não que não possamos ser realmente neutros num embate intelectual, ou até mesmo numa briga de família, de festa ou botequim. Podemos. Mas quando a neutralidade acontece é fruto de algo indisfarsável: a indiferença. Ou seja, você não está nem aí para os envolvidos, tem mais o que fazer e, sinceramente, nem vai perder tempo de opinar ou escolher. Danem-se eles que discutem, brigam ou se afastam.

Aí sim falamos de neutralidade ou imparcialidade possível e autêntica. Mas a verdade é, como somos juízes prontos a exercer nosso oficio o tempo todo, julgamos e damos nossas sentenças, externando-as ou não. 

Mesmo sem verbalizar, tomamos um partido. Seja o partido dos mais oprimidos, seja o argumento mais convincente ou seja porque com um dos lados envolvidos temos uma relação de afeto maior. Há horas em que o juiz que mora dentro de cada um de nós age com a isenção necessária ao cargo, há horas em que ele se abstém como a Gloria Pires em opinar. 

E tem aquelas horas em que dizemos não poder escolher um lado porque estamos impedidos, seja porque são dois amigos ou duas pessoas de quem muito gostamos. Nesses casos a gente engole o que pensa e fica quietinho pousando de neutro. Mas aquele juiz interior em miniatura tem opinião e já escolheu quem tem a melhor razão. A gente então decide sufocá-lo, calar a sua boca porque é o melhor a se fazer.

Muitas vezes nos abstemos simplesmente para sermos politicamente corretos ou elegantes. O fato é que vemos tudo e optamos internamente. Aparentemente não há neutralidade possível entre humanos que não sejam de pedra ou indiferentes ao caso.

Oscar Wilde era genial e radical. E tinha muitas opiniões. 

Para muitos uma pessoa dificil e complicada, para mim, uma inteligência admirável. E foi ele quem disse que o homem que vê os dois lados de uma questão, não vê absolutamente nada. Ninguém precisa ser tão radical ou sair comprando brigas e escolhendo lados, mas que muitas vezes mesmo sem brigar ou falar nada já escolhemos, Ah isso já!

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Bia WIlcox

Bia Wilcox

Bia Willcox sempre escreveu.Professora e advogada por formação, sua grande paixão é conteúdo, texto, assuntos diversos pra trocar e enriquecer.assina a coluna Amores Cariocas na Rádio Bandnews e um blog sobre cultura e entretenimento no Portal R7

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