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Partiu mudar de bando
O PMDB é um partido interessante, para usar uma expressão educada. Foi o único a eleger mais de mil prefeitos nas últimas eleições municipais, em 2012, arregimentando quase 17 milhões de votos. É o que tem mais filiados, quase dois milhões e meio de pessoas. Elegeu o maior número de governadores nas últimas eleições, sete, sendo quatro no primeiro turno.
Com números tão expressivos, deveríamos estar falando do maior partido do país. Mas a grandiosidade dos números não resiste ao confronto com a mediocridade da postura. Sucessor do antigo MDB, famoso por combater a ditadura, o PMDB trocou a luta pelos acordos de bastidores, a garra pelo conchavo e a ideologia pelo poder. Nunca assumiu o papel de maior partido, optando sempre por ficar à sombra do poder, colhendo migalhas dos mandatários, em troca de cargos.
Aliás, para não ser injusto, o PMDB ousou assumir o comando sim... sempre desastrosamente. O Rio de Janeiro é um exemplo disso, com sucessivos governos do PMDB que afundaram o estado. A concessão de isenções fiscais para empresas amigas, que alcançou a fabulosa quantia de R$ 138 bilhões e as insistentes acusações de propinas e corrupção não deixam dúvida: quando quer governar, o PMDB consegue ser pior do que já é ficando à sombra do poder.
Desde que o país retomou a plenitude democrática o PMDB sempre foi aliado do poder. Sempre. E não importa se a cabeça do poder for o PSDB, PRN, PT... qualquer um... ao seu lado, como fiel escudeiro, posando para as fotos, estará o PMDB.
Nesta semana, um episódio que ficará registrado na história como mais um retrato típico deste partido e da política brasileira: depois de ser aliado desde o primeiro governo Lula, o PMDB desembarcou da carona no governo. O PT está enrolado como nunca com a incompetência administrativa, denúncias de corrupção, crise financeira e moral, um deserto de ideias e um rio de problemas.
E, neste contexto, o aliado preferencial, PMDB, desembarca cheio de marra, cuspindo no prato em que comeu (e muito!), preferindo assistir de longe a nau afundar. E não o faz por reconhecer a lambança do governo atual. Faz por uma questão de sobrevivência, sem se importar com o preço que pagará por escrever (mais uma) página tão indigna em uma instituição que já teve como expoentes pessoas como Tancredo Neves e Ulisses Guimarães, que devem estar quicando, respectivamente, no túmulo e no fundo do mar, com as peripécias dos seus sucessores.
Algum incauto poderia imaginar que o PMDB deixou o governo por vislumbrar os erros, praticou um ato de grandeza, olhou para os interesses do país etc. Nada. Bobagem. Há poucos dias, a cúpula do partido chegou ao cúmulo de almoçar com o governo e jantar com a oposição. Sabe a história de um olho no gato e outro no peixe? E o partido já está à caça do próximo aliado. E do próximo governo. E da volta ao poder. E o aliado da vez, até então inimigo, é o partido de falsa oposição ao PT, o PSDB, liderado por quadros a quem ninguém confiaria sequer para cuidar de um par de chinelos velhos, quanto mais de um país.
Mais uma vez o Brasil se vê protagonista de uma enorme novela mexicana, incorporando um dramalhão patético, com um enredo recheado de conchavos, acordos de bastidores, traições, cafonice, desvios, crimes, dramas e muita, muita falsidade.
E para cúmulo do ridículo, na reunião miojo, de três minutos, em que aprovou o divórcio do governo, os adeptos do PMDB, esquecendo-se de que foram aliados por mais de dez anos, gritavam a plenos pulmões: "Fora, PT" (!?). Três minutos. Foi o tempo que o PMDB levou para sacramentar o fim de uma união de muito tempo com o PT. Eu disse união? Desculpe. Três minutos foi o tempo que o PMDB levou para acabar com um conchavo de muito tempo com o PT. Sei não, mas talvez já tenha passado da hora de o país começar a gritar: "Fora, PMDB".
Repetindo o passado e mantendo a escrita, o PMDB já se prepara para embarcar no nosso futuro, como fiel escudeiro de outro amo. Este é o futuro que nos espera. Não é bonito. Não é legal. Não é justo. Mas é o Brasil que temos. Com os partidos que temos. Com os políticos que temos. Merecíamos mais sorte.
Alzimar Andrade
Alzimar Andrade
Alzimar Andrade é Analista Judiciário do Tribunal de Justiça, Diretor Geral do Sind-Justiça e escreve todas as quintas-feiras sobre tudo aquilo que envolve a justiça e a injustiça, nos tribunais e na vida...
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