Enterro dos ossos das eleições

quinta-feira, 06 de outubro de 2016

As eleições acabaram. E Friburgo continua. Assim como o Brasil, cambaleando, respirando por aparelhos, mas continua. Depois do longo período de políticos abraçando, beijando e fingindo simpatia por crianças que tentavam fugir desesperadamente, tudo voltou ao normal. Ou ao anormal, no caso do Brasil.

Depois das eleições, sempre tenho uma sensação de déjà vu, um quê de deprê, porque sempre parece que já vi esta cena antes. A começar pelos nomes que ouvimos no pós-eleição. Entra ano, sai ano, entra eleição, sai eleição e muitos nomes se repetem. Durante a disputa, claro, todos os vivos, com ou sem trocadilho. E, no resultado final, ainda pulula um Bornier aqui, um ACM Neto, um Íris Rezende... e assim a matilha vai mantendo o controle sobre a caça.

E, como em toda eleição, teve de tudo, aqui e no Brasil todo: alguns mortos-vivos que retornam. Outros mortos-vivos que surgem do nada. E outros mortos-vivos que são finalmente enterrados, nem que seja por quatro anos, porque o povo não aprende e adora ressuscitar gente mal enterrada. Pelo menos, teremos quatro anos com algumas garras a menos sobre o erário. Ou, pelo menos, algumas garras diferentes, em alguns casos.

Em Friburgo, a vitória de Renato Bravo acabou com um recorde de Rogério Cabral, que ostentava jamais ter perdido uma eleição. Está provado que sempre há uma primeira vez. Mostrou também que a Dra. Grace possui força, porque ter o número de votos que obteve, saindo da administração do município e disputando pelo PMDB, partido recheado de falcatruas, e ainda com o fato de ter quebrado o Estado do Rio, não é para qualquer um. Teve mais sorte que o depenado espancador de mulheres do Rio, Pedro Paulo, que, mesmo com o largo e mal disfarçado uso da máquina e inaugurações a rodo, amargou uma derrota que envergonhou o PMDB e restabeleceu a confiança da população em dias melhores. Sem o PMDB, claro.

Glauber carregou consigo o sonho de milhares de jovens idealistas, mas pagou pela vinculação à gestão de Saudade Braga, de quem foi secretário aos 19 anos e filho desde sempre. Inclusive, pessoas que, à época, mostravam-se escandalizadas com o nepotismo, hoje defendem que foi por pura competência. E vice-versa. Pagou também pelo voto por ocasião do impeachment de Dilma, em que pautou sua defesa no poeta, político e guerrilheiro Carlos Marighella. 

Ok. Você não sabe quem foi, quase ninguém sabe. Mas a oposição se encarregou de fazer memes mostrando que, seja lá quem tenha sido Marighella, não era flor que se cheirasse. E pegou.

Renato Abi-Râmia chegou ao mercado para ser o fiel da balança, roubando votos preciosos de um ou outro. Não teria condições de se eleger, mas fez o seu comercial. Embora tenha sido complicado falar em solução para a decadente saúde do município após ter sido secretário da área e nada mudar.  

Hugo Moreno é do PSTU. Então a principal missão era mostrar ao Psol que eles é que representam o verdadeiro partido de esquerda, numa briga interna, que às vezes resvala em piada interna entre ambos.  

Enquanto pesquisas independentes eram publicadas mostrando ora Rogério, ora Glauber à frente das preferências, Renato Bravo veio correndo por fora e abriu larga vantagem. Provavelmente, largou bem atrás, sem a mesma visibilidade dos concorrentes famosos. Fosse um páreo equino, diríamos que Rogério, Grace e Glauber foram verdadeiros cavalos paraguaios e Renato veio correndo por fora e ultrapassando a todos na linha de chegada, com mais de dois corpos de vantagem.

Renato Bravo teve a seu favor a baixa rejeição, a vontade de mudança por parte da população (recado que nem todos ainda entenderam) e não ter flanco aberto para pancada, ao contrário dos demais, a não ser, claro, o fato de vir pelo PP, partido atolado até o pescoço em denúncias de corrupção na Lava Jato, o que parece ser de menos importância para o povo de Friburgo, que ainda vota em pessoas em quem confia e não em partidos ou ideologias.

Também pesou a seu favor o carisma do vice, Marcelo Braune, figura conhecidíssima de família idem e o apoio do empresariado local, que investiu pesado em sua campanha. Esperamos que a sociedade toda colha os frutos, com uma gestão digna dos moradores de Friburgo, que não aguentam mais sofrer com disputas  intermináveis entre clãs de políticos tradicionais.

Como Renato Bravo pediu-me voto através de rede social, tomei a liberdade de, assim que ele foi eleito, fazer três sugestões iniciais: pagar, pelo amor de Deus, um salário decente aos servidores municipais, cercar-se de pessoas honestas e criar uma corregedoria que centralize e fiscalize todos os contratos e licitações do município, principalmente na área de saúde. 

Com isso, reduzirá em 90% a chance de fraudes, desvios e superfaturamentos, disponibilizando um site para que toda a população possa acompanhar as compras e licitações a qualquer momento. E Friburgo precisa que esta gestão dê certo. Então, boa sorte para todos nós.

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Alzimar Andrade

Alzimar Andrade

Alzimar Andrade é Analista Judiciário do Tribunal de Justiça, Diretor Geral do Sind-Justiça e escreve todas as quintas-feiras sobre tudo aquilo que envolve a justiça e a injustiça, nos tribunais e na vida...

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