Leitores - 24 de março.

sábado, 31 de julho de 2010
Retiraram o bode da sala. E agora? No momento em que o noticiário dá conta da transferência de um dos condenados pelo bárbaro assassinato do menino João Hélio, em 2007, vem a calhar o conto do bode. Dizem que um pai de muitos filhos, morando numa casinha muito pobre e pequena, foi pedir ajuda ao pároco. Chegando lá, contou o seu drama e o padre lhe deu um bode com a recomendação de que ele mantivesse o bode na sala. Passada uma semana, o cidadão voltou e o padre perguntou: – E então? As coisas melhoraram? Nada? Então, devolva o bode. O sujeito devolveu o bode e, passado algum tempo, o padre, então, perguntou: – E aí? As coisas melhoraram? – Agora sim – disse o homem – Sem o bode, a gente tem espaço na sala, acabou aquela fedentina... Assim como na anedota, é natural que ninguém queira saber para onde foi o bode. No entanto, chama a atenção a expressão do alívio coletivo diante da inócua medida, comparando ao tamanho do problema que, de fato, ameaça a todos. Conforme amplamente noticiado, a vulnerável unidade do Criaad em nossa cidade fica próxima a uma escola, ao lado da Apae, não possuindo nenhuma estrutura para desempenhar nenhum papel socioeducativo. No entanto, parece não ser importante para a população que essas péssimas condições ainda nos impeçam de controlar as dezenas de jovens que lá continuam depositados, muitos deles com acusações de crimes tão bárbaros quanto o que vitimou João Hélio, mas que, por não terem sido de conhecimento tão grande, acabam sendo ignorados pela opinião pública. Não é de hoje que os profissionais ligados à assistência à Infância e Juventude suplicam às autoridades maior atenção às políticas públicas de assistência à criança e ao adolescente. E a resposta do poder público tem sido sempre tímida, o que contrasta com a união das autoridades em prol da transferência de um apenado, quando entra em cena a mobilização popular. É claro que a transferência de indivíduos da região metropolitana do Rio de Janeiro para a nossa cidade inspira preocupação. No entanto, nossa atitude demonstra uma superficialidade, uma espécie de verniz que não tem muito valor e significado, porque não modifica as causas primeiras geradoras do grande problema. E até pior do que isso: as ações paliativas mascaram o que realmente precisa ser feito, protelando a solução. É preciso despertar um interesse real para um comprometimento mais sério com as verdadeiras causas. Essa enorme capacidade de mobilização de autoridades, políticos e sociedade civil, que, para alguns, parecia coisa perdida pela nossa sociedade, acaba de mostrar seu potencial para ações de maior responsabilidade. É preciso saber direitinho como funciona uma custódia, quais os programas de monitoramento dos custodiados, o que o poder público vem deixando de promover, quais os instrumentos que precisamos para estarmos verdadeiramente seguros, e quem especificamente é responsável pela falta disso. E, a julgar pela mobilização observada para retirar o bode da sala, a sociedade demonstrou que pode fazer muito mais pela paz e pela ordem social. Rodrigo Guimarães Advogado
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