Leitores — 11/06/2016

sábado, 11 de junho de 2016

Coluna Saúde Mental & Você (1)

Este é um assunto de grande urgência e necessita de amplo debate. Ao optar por não publicar tal texto, o jornal não estaria censurando mas entendendo a seriedade e periculosidade do que tal profissional escreveu. Falar que a mulher deve ser submissa não é, em nenhuma instância, tolerável nos dias de hoje, ainda mais com os últimos dias pautados por assuntos sobre violência contra a mulher.

Friburgo ainda se comporta como cidade provinciana e o pensamento de muitos moradores acompanha isso. É de extrema importância e urgência que discutamos essas questões a fim de trazer mudança. Uma coisa é noticiar casos de estupro outra coisa é prever informação de tal forma que desperte o senso crítico e analítico de seus leitores.

Reitero aqui que esta coluna em específico é um desserviço. O autor foi extremamente infeliz em suas colocações e, certamente, nunca saberá o que é, mesmo que esteja com uma burca, ser assediado verbalmente na rua, não saberá o que é não poder ir a certos lugares ou ter medo de esperar o ônibus à noite por medo do que possa lhe acontecer. Isso tudo por cultivarmos as raízes da ideia de que a mulher deve ou não deve isso ou aquilo, da ideia de que o homem tem direito sobre ela.

Reflitamos sobre a real importância de um veículo de força na região e de como ele pode impactar, positiva ou negativamente, a comunidade que atende.

Suellen Ouverney

Coluna Saúde Mental & Você  (2)

Em tempos que as pautas pelo fim da cultura do estupro povoam as discussões nacionais e internacionais, o jornal A Voz da Serra, jornal de maior circulação na cidade de Nova Friburgo (RJ) na coluna do psiquiatra Cesar Vasconcellos de Souza caminha no sentido contrário.

Já no início do texto, o médico alerta que as reportagens e matérias que andam em circulação sobre a violência contra a mulher têm o intuito de ensinar as mulheres a se defender e o que fazer quando ocorrer violência contra elas. Não! As matérias e as manifestações de mulheres que ocorrem em todo o país, inclusive na cidade de Nova Friburgo, têm como objetivo dizer que a culpa pela violência contra a mulher não é da mulher. Não são as mulheres que precisam aprender a se defender, são os homens que precisam aprender a não agredir.

Em seguida ele questiona se existe delegacia do homem. Talvez ele não saiba que a delegacia das mulheres existe especialmente pelo fato de as demais delegacias não prestarem o atendimento necessário para uma mulher vítima de violência, já que não apenas as delegacias, mas parte considerável dos espaços de uma sociedade machista são pensados para os homens. Mas piora! Em seguida ele aponta como existem mulheres agressivas nos relacionamentos que agridem seus maridos, são “facilmente irritáveis” e “acham que os outros devem obediência”, entre outros. Desafio o psiquiatra a apresentar quantos homens e quantas mulheres morrem por ano vítimas de agressão por parte do seu cônjuge.

A seguir ele aponta que também existem homens autoritários, mas que ele gostaria de tratar das mulheres autoritárias.No parágrafo seguinte:

“Uma esposa autoritária tem muita dificuldade de ser sadiamente submissa ao marido porque confunde respeito e humildade com perda da individualidade”. Em pleno século 21 ainda precisamos ouvir que a mulher precisa ser sadiamente submissa ao homem? Um relacionamento saudável é justamente aquele que preserva a individualidade de cada um. Nenhuma mulher e nenhum homem deve ser submisso!

Como se não bastasse, nos aponta que o comportamento autoritário pode ser fruto de uma “tendência genética” que curiosamente só pode ser transmitida pelas antecedentes femininas da mulher, como a mãe e a avó.

Por fim, imaginem a quem cabe controlar o comportamento autoritário da mulher? Claro que ao seu marido, que “terá que ser firme e colocar limites para os abusos dela” e se ela não admitir os limites o caso fica sem esperança. Em outras palavras, nem sobre seu “comportamento autoritário” a mulher pode decidir, para isso existe o homem.

Nós mulheres não permitiremos mais esses abusos sobre os nossos corpos! Essa coluna é um desserviço para a sociedade. Estamos escrevendo um belo capítulo na sociedade sobre o respeito à mulher, a coluna de hoje deste jornal e seu autor ficarão marcadas nessa história como mais um reflexo dessa cultura machista e conservadora que não representa as mulheres brasileiras.

O machismo não passará!

Fernanda Novaes Cruz

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