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Conhecer os erros para não repeti-los
sábado, 21 de setembro de 2013
A imprensa divulgou, há poucos dias, uma parceria macabra entre as ditaduras do Brasil e do Chile na década de 70: militares brasileiros forneceram armas químicas — substâncias bacteriológicas e gases proibidos, como sarin e rabun — para o assassinato de adversários do regime pinochetista. O caso está sendo investigado pela Justiça chilena e há inclusive depoimentos de agentes do aparelho repressivo chileno que corroboram as denúncias.
Um dos adversários de Pinochet mortos por envenenamento foi o ex-presidente democrata-cristão Eduardo Frei, que governou o país entre 1964 e 1970. Frei apoiou o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende em 1973, mas ao perceber que os militares chilenos pretendiam se eternizar no poder, passou a opositor da ditadura. Em janeiro de 1982, seria submetido a uma cirurgia simples para a retirada de uma hérnia, mas surpreendentemente morreu por septicemia. As investigações, hoje em curso, apontam para o seu envenenamento.
O episódio da cessão de armas biológicas — proibidas por convenções internacionais e hoje usadas como pretexto pelo presidente americano Barack Obama para tentar legitimar um ataque à Síria — é apenas mais um exemplo da importância de que os crimes cometidos pelas ditaduras militares que assolaram a América Latina venham à tona.
Não há nisso qualquer sentimento revanchista, como temem alguns. Não se trata de ter os olhos voltados para o passado. Ao contrário: saber o que aconteceu ajuda à construção de uma democracia sólida, na qual os direitos de todos os cidadãos sejam respeitados, evitando-se a repetição da barbárie
que vivemos em nosso país.
*Presidente da Comissão da Verdade do Rio e da Comissão de Direitos Humanos da OAB Federal
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