Vacinação contra sarampo e pólio é prorrogada até 15 de setembro

“As pessoas não conhecem mais essas doenças, como são sofridas, as sequelas que deixam”, diz coordenadora de Imunização em Friburgo, explicando baixa procura
quinta-feira, 30 de agosto de 2018
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Garotinha instantes antes de tomar a vacina no posto Sylvio Henrique Braune, na manhã desta quinta (Fotos: Adriana Oliveira)
Garotinha instantes antes de tomar a vacina no posto Sylvio Henrique Braune, na manhã desta quinta (Fotos: Adriana Oliveira)
A Secretaria estadual de Saúde decidiu prorrogar até 15 de setembro a campanha de vacinação contra sarampo e poliomielite em todo o estado, que apresenta a menor cobertura vacinal do país: apenas 55%. O anúncio foi feito um dia depois de a Coordenadoria de Imunização da Secretaria de Saúde de Nova Friburgo chegar a fazer um apelo diante de um posto de saúde (o Sylvio Henrique Braune, no Suspiro) às moscas. O movimento melhorou um pouco (foto) na manhã desta quinta, 30, quando o município dava como impossível atingir a meta de 95%. “Vamos ficar no máximo em 80%”, lamentava a coordenadora Ana Paula Lessa.

“Essa baixa cobertura vacinal é ruim porque a população inteira fica vulnerável”

Ana Paula Lessa

Segundo o Ministério da Saúde, a média nacional está em 72% e 12 estados estão abaixo desse índice. Estados e municípios que não atingiram a meta estão autorizados a fazer um novo Dia D neste sábado, 1º de setembro, mas, como o Rio está na pior situação, a decisão do estado foi prorrogar  a campanha.

Em Friburgo, a cobertura está em 60%. Para Ana Paula, o motivo do descaso é o desconhecimento: “Nossas avós conheciam muito bem essas doenças, mas as mães de hoje não”, disse ela em entrevista ao jornal A VOZ DA SERRA pouco antes de a secretaria anunciar a prorrogação da campanha.

AVS: Nos dê um argumento contundente para as pessoas partirem para a ação e vacinarem seus filhos.

Ana Paula Lessa: Sarampo é uma doença altamente contagiosa, se espalha muito rápido e é de alta gravidade. Já não existia mais no país, e hoje temos 14 estados com a doença, que  voltou com força. No estado do Rio já são 18 casos confirmados, todos contaminados por aquele primeiro caso, de Petrópolis, aqui na Região Serrana. No país são mais de mil casos confirmados e quase sete mil investigados. A campanha já estava prevista para evitar a reintrodução do vírus no Brasil, vindo da Europa, mas a doença acabou chegando antes da campanha. Essa baixa cobertura vacinal é ruim porque a população inteira fica vulnerável.

E a pólio?

A pólio ainda existe em vários países, e hoje as pessoas viajam muito, há muita circulação do vírus. A campanha anual hoje é importante para o Brasil continuar sem casos.

Então o sarampo é a maior preocupação?

Neste momento sim.

Por que precisa revacinar?

É uma dose de reforço. O sarampo voltou justamente porque a cobertura estava baixa, muitas crianças não vacinadas. Quando a doença se espalha muito rápido, a vacinação tem que ser efetiva e em curto prazo. A gente precisa atingir o maior número de crianças no menor tempo possível. Se a cobertura estivesse alta, teríamos apenas um ou outro caso isolado.

Como está a cobertura em Nova Friburgo neste exato momento?

O município hoje (30) está com 60%. Precisamos mais 35% para chegar à meta de 95%.

E você acha que vai dar?

Acho que não (se a campanha terminasse mesmo na sexta, 31). Estendemos o horário para abraçar a população que pega o filho na creche no final do dia, mas o nosso resultado foi muito ruim. Ontem (29), das 17h às 19h, nos três postos (Suspiro, Olaria e Conselheiro) não conseguimos vacinar nem 1% do que precisávamos, que seriam 80 crianças. A procura foi muito baixa. Hoje você já vê uma pequena fila, mas ontem estava totalmente vazio.

O posto aqui do Suspiro consegue vacinar quantas crianças?

De 130 a 150 por dia, durante campanha. Olaria e Conselheiro, de 30 a 50.

Se continuar esse movimento, dá para chegar a quanto da meta?

Umas 600 crianças. Não é nem 10%. Eu acredito que Friburgo chegue a 75%, 80% no máximo.

Mas no país todo está assim…

É uma questão de desacreditação nacional. Mas cada um tem que fazer sua parte. Se o nosso município ficar com uma cobertura alta, a doença não entra aqui, a gente cria uma barreira. A meta é alta porque, com 95% vacinados, eles protegem os 5% que não podem tomar a vacina.

Você é favorável à punição, como aplicação de multa, de pais que deixam de vacinar seus filhos?

Vacinar é uma obrigação dos pais e um direito da criança, da mesma forma que escola, alimentação. Se eu conversar com minha mãe, minha avó sobre sarampo, elas sabem o que é. Tenho 15 anos de profissão e, mesmo trabalhando na área de saúde, nunca vi nenhum caso. Há desacreditação porque as pessoas não conhecem essas doenças, como são sofridas, as sequelas que deixam. Nossos avós conhecem a poliomielite. Os pais das crianças de hoje não. Sarampo mata, houve óbitos de crianças no Brasil fora da faixa etária alvo (1 a 4 anos): são aqueles 5% que os 95% deveriam proteger.















 

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