A escritora Yedda Pereira dos Santos começou a carreira participando de concursos de poesia. Em 2003, foi premiada com um 2º lugar no Concurso de Contos Comemorativos aos 800 anos do Floral de Alhandra, em Portugal. Já publicou quatro romances: "O Peregrino da Eternidade”, "O Portal dos Tempos”, "Fronteiras da Alma” e "O Segredo da Lua”. Em 2012, lançou "Dicionário de Alquimia—A Chave da Vida” (Ed. Madras), na Bienal de São Paulo. A obra é um aprofundamento de pistas encontradas em mistérios e misticismos ao longo da história dos povos. Hoje, Yedda homenageia Nova Friburgo com este belo poema.
Sou fonte que, em letras,
jorra na serra
o Amor pela terra.
Por todo esse verde,
de todos os tons
e todas as cores
de todas as flores.
Pelo céu azul profundo,
o mais belo do mundo.
Por suas estrelas,
tão fulgurantes,
piscando hesitantes,
quase ao alcance da mão.
Amor pela praça
cheia de graça,
que velhos eucaliptos
dão proteção.
Amor pelo rio.
Amor pelo frio,
fiel itinerante
em qualquer estação.
Ao negro perfil
de suas montanhas
na tarde a findar.
Amor ao luar.
Amor a seu ar
balsâmico e puro
onde, cada inalada,
é sua, exclusiva,
não foi respirada.
Amor à neblina,
filtrada de sol,
nos dias de inverno
a cada arrebol.
Amor a seu chão
que o visgo do encanto
faz livre prisão.
Sou fonte que, em letras,
jorra na serra
A Saudade da terra.
Friburgo da infância
diluída em passado.
De ruas tão brancas,
sem sinais de trânsito,
sem faixas pintadas,
sem guardas, sem nada.
De raro jornal
trazendo registro policial.
Saudade dos donos
de quitanda e armazém,
com atenção
e individualidades
por trás do balcão.
De ver a retreta
no velho coreto
fronteiro à Matriz.
Do footing ao sábado,
do namorado,
do Cinema Eldorado,
na matinê de domingo
ou dos feriados.
De morangos e amoras
nos muitos terrenos
sem construção.
Saudade da missa,
da ladainha,
da procissão.
De antigas mansões
que a magia do tempo
deu novas feições.
Saudade do trem
orgulhoso, barulhento,
apitando nas curvas,
soltando fumaça,
trazendo visitas,
levando mensagens,
que um dia parou
deixando Saudade.
Sou fonte que, em letras,
jorra na serra
o Ciúme da terra.
Dói dividir,
quando se gosta tanto,
com tantos
que a querem possuir.
Ciúme doentio
de vê-la expandir-se
perdendo a meiguice.
De vê-la elevar-se,
cobrindo horizontes,
eu, que a queria sentada
em papo amistoso,
no rés das calçadas.
Ciúme ao cruzar
a rua apinhada,
vendo tanta gente
que não nos diz nada.
Secreto Ciúme de sua
popularidade
de grande cidade.
De sua paz,
nos tempos atuais,
tão cobiçada,
aos poucos violada.
De suas noites claras,
das manhãs radiantes
que aumentam o cortejo
de novos amantes.
Um Ciúme, tão apaixonado
que, se eu pudesse,
a retornaria Vila
de Morro Queimado.
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