Um poema para celebrar o aniversário de Nova Friburgo

segunda-feira, 19 de maio de 2014
por Jornal A Voz da Serra
Um poema para celebrar o  aniversário de Nova Friburgo
Um poema para celebrar o aniversário de Nova Friburgo

A escritora Yedda Pereira dos Santos começou a carreira participando de concursos de poesia. Em 2003, foi premiada com um 2º lugar no Concurso de Contos Comemorativos aos 800 anos do Floral de Alhandra, em Portugal. Já publicou quatro romances: "O Peregrino da Eternidade”, "O Portal dos Tempos”, "Fronteiras da Alma” e "O Segredo da Lua”. Em 2012, lançou "Dicionário de Alquimia—A Chave da Vida” (Ed. Madras), na Bienal de São Paulo. A obra é um aprofundamento de pistas encontradas em mistérios e misticismos ao longo da história dos povos. Hoje, Yedda homenageia Nova Friburgo com este belo poema.


Sou fonte que, em letras,

jorra na serra

o Amor pela terra.

Por todo esse verde,

de todos os tons

e todas as cores

de todas as flores.

Pelo céu azul profundo,

o mais belo do mundo.

Por suas estrelas,

tão fulgurantes,

piscando hesitantes,

quase ao alcance da mão.

Amor pela praça

cheia de graça,

que velhos eucaliptos

dão proteção.

Amor pelo rio.

Amor pelo frio,

fiel itinerante

em qualquer estação.

Ao negro perfil

de suas montanhas

na tarde a findar.

Amor ao luar.

Amor a seu ar

balsâmico e puro

onde, cada inalada,

é sua, exclusiva,

não foi respirada.

Amor à neblina,

filtrada de sol,

nos dias de inverno

a cada arrebol.

Amor a seu chão

que o visgo do encanto

faz livre prisão.

 

Sou fonte que, em letras,

jorra na serra

A Saudade da terra.

Friburgo da infância

diluída em passado.

De ruas tão brancas,

sem sinais de trânsito,

sem faixas pintadas,

sem guardas, sem nada.

De raro jornal

trazendo registro policial.

Saudade dos donos

de quitanda e armazém,

com atenção

e individualidades

por trás do balcão.

De ver a retreta

no velho coreto

fronteiro à Matriz.

Do footing ao sábado,

do namorado,

do Cinema Eldorado,

na matinê de domingo

ou dos feriados.

De morangos e amoras

nos muitos terrenos

sem construção.

Saudade da missa,

da ladainha,

da procissão.

De antigas mansões

que a magia do tempo

deu novas feições.

Saudade do trem

orgulhoso, barulhento,

apitando nas curvas,

soltando fumaça,

trazendo visitas,

levando mensagens,

que um dia parou

deixando Saudade.

Sou fonte que, em letras,

jorra na serra

o Ciúme da terra.

Dói dividir,

quando se gosta tanto,

com tantos

que a querem possuir.

Ciúme doentio

de vê-la expandir-se

perdendo a meiguice.

De vê-la elevar-se,

cobrindo horizontes,

eu, que a queria sentada

em papo amistoso,

no rés das calçadas.

Ciúme ao cruzar

a rua apinhada,

vendo tanta gente

que não nos diz nada.

Secreto Ciúme de sua 

popularidade

de grande cidade.

De sua paz,

nos tempos atuais,

tão cobiçada,

aos poucos violada.

De suas noites claras,

das manhãs radiantes

que aumentam o cortejo

de novos amantes.

Um Ciúme, tão apaixonado

que, se eu pudesse,

a retornaria Vila

de Morro Queimado.

 

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