A (triste) temporada das queimadas continua destruindo as matas friburguenses. Desde a última terça-feira, 17, um dos locais mais atingidos pelas chamas é o Pico do Caledônia, um dos pontos turísticos mais importantes de Nova Friburgo e berço de inúmeras espécies da fauna e da flora locais. São pelo menos três focos de incêndio distintos apenas nesse curto período, o que tem preocupado o Corpo de Bombeiros, os brigadistas do Parque Estadual dos Três Picos, voluntários e amantes da natureza. Ainda não foi contabilizada a área total atingida pelo fogo.
Segundo o comandante do 6º Grupamento de Bombeiro Militar (GBM) de Nova Friburgo, tenente-coronel Thiago Nunes Alecrim, por ser uma área muito íngreme e de difícil acesso, em algumas partes o combate direto às chamas só é possível com o auxílio de helicópteros, principalmente na parte conhecida como “costão de pedras”.
“Nosso trabalho está limitado nas regiões onde o acesso é possível por terra. Na parte baixa, criamos uma linha de proteção próxima a um condomínio para evitar que o incêndio atinja as casas. Estamos tentando conduzir o fogo para uma parte de pedra exposta e onde tem também um filete d’água. Se conseguirmos reduzir a intensidade do incêndio direcionando o fogo para esse local, tudo indica que ele possa se encerrar”, disse o comandante Alecrim. Devido a topografia complicada e a dificuldade de combater o fogo por terra, a esperança é que a própria natureza auxilie nesse trabalho.
“Precisamos torcer para que alguns fatores ajudem. O ideal é que a temperatura, a umidade relativa do ar e o vento não fiquem em situações classificadas como desfavoráveis. Caso contrário, tudo leva a crer que o incêndio pode voltar”, projeta o comandante.
Bombeiros e voluntários combatem as chamas
O 6º GBM trabalha com uma equipe de dez bombeiros em terra e outros quatro a bordo do helicóptero. Mas as operações também contam com o apoio de equipes do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), de guarda-parques do Parque Estadual dos Três Picos, além de quatro voluntários amantes da natureza: Valmir Tavares, Vagner Morais, Alex Correia e Webster Melo.
O montanhista Valmir Tavares é um dos maiores defensores da preservação do Pico do Caledônia. Ele sempre registra as belezas locais em fotos e vídeos e dessa vez, além da tristeza de constatar a destruição, também está auxiliando no combate ao incêndio. “O que está acontecendo é um grande desastre ambiental. Ver o Pico do Caledônia em chamas é uma tristeza profunda. É como a morte de um parente. Estamos torcendo por uma chuva senão a situação vai ficar ainda mais difícil”, afirmou Valmir.
2019: o ano dos incêndios
Somente de janeiro a agosto o 6º GBM já registrou 670 focos de incêndio em Nova Friburgo. É o maior registro da história, desde que a região passou a ser monitorada, em 2014. Para o comandante Alecrim, as causas dos incêndios geralmente são ações humanas: “Às vezes a pessoa acha que colocar fogo em lixo não vai gerar problema, mas um vento pode levar uma faísca, levando a proporções absurdas. Estamos na pior época do ano, com pouca chuva e baixa umidade do ar. Além de atacar a natureza, afeta também quem tem problemas respiratórios e alergias”, afirmou.
Conforme a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), os culpados podem ser multados ou presos. O grande problema, entretanto, é que praticamente não há investigação. Além disso, até os próprios afetados – no caso, os vizinhos – não costumam denunciar os infratores.
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