Tradicional clube do futebol amador friburguense celebra centenário

Solenidade acontece no próximo sábado, na Rua José Eugênio Müller
terça-feira, 06 de dezembro de 2016
por Vinicius Gastin
Um dos primeiros times do Esperança em 1917 (Foto:
Um dos primeiros times do Esperança em 1917 (Foto:

Um momento para marcar 100 anos de uma bela trajetória. O sonho que virou Esperança, e a esperança que virou paixão. E foi eternizada quando houve a fusão com o Friburgo, para a formação do Nova Friburgo Futebol Clube. Um ano depois, os esperancistas se reúnem para comemorar o centenário de seu futebol, completado em 2015. A solenidade acontece no próximo sábado, 11, às 10h, na sede social do Nova Friburgo Futebol Clube, na Rua José Eugênio Müller, Centro. Estão programadas homenagens a algumas das personalidades que fizeram parte da história da equipe, além de atrações como confraternização e música.

O Esperança Futebol Clube foi fundado por operários, e tornou-se um dos clubes mais vitoriosos da história do futebol amador de Nova Friburgo. A equipe verde e branca foi campeã municipal em 1931, 1939, 1941, 1943, 1944, 1948, 1955, 1961 e 1976. 

Um pouco sobre a história

A história começa ainda no início do século 20, quando estudantes de várias partes do país migraram para Nova Friburgo e trouxeram a até então desconhecida bola de futebol. Os moradores do bairro Vilage passaram a frequentar o Colégio Anchieta e as tradicionais “peladas” (partidas amistosas de futebol) foram disputadas no campo da escola. Estes foram os primeiros registros de esporte na cidade.

A brincadeira tomou proporções maiores e acompanhou o iminente crescimento do futebol no estado. As famílias Sertã, Spinelli e Van Erven estreitaram as relações e passaram a organizar os jogos. No dia 26 de abril de 1914, uma reunião no Hotel Salusse fundou oficialmente o Friburgo Futebol Clube, alterando o nome Friburguense Futebol Clube, utilizado até então por aquele grupo de jogadores. Durante os primeiros anos, os duelos eram realizados na Avenida Galdino do Valle Filho e na Rua Oliveira Botelho. Em 4 de setembro de 1922, o Friburgo passou a utilizar o estádio Raul Sertã, um espaço de nove mil metros quadrados.

O esquadrão vermelho e branco tornou-se o time a ser batido. Em 1915, o Friburgo goleou o União pelo placar de 11 a 0 e os dirigentes, insatisfeitos, responderam à derrota com a criação do Esperança Futebol Clube. Junto ao time esperancista nasceu uma grande rivalidade que, mais tarde, curiosamente, desencadearia a fusão.

De fato, os operários criaram o seu próprio clube de futebol, o União Foot-Ball Club, em fins de 1914, sem a condescendência da classe dominante, até mesmo pelo processo de radicalização da luta de classes durante toda a década de 1910 até os anos de 1930.  

O clube mudaria de nome por causa de um fato inusitado. Em novembro de 1915, em um jogo amistoso contra o Friburgo F.C., o árbitro Peri Bartojo teria beneficiado o adversário. Ao término da confusão, proferiu uma ofensa ao União F.C., cuja camisa era preta e branca. Disse o juiz: “A camisa do União é preta e branca. Preto que quer ser branco não é uma coisa nem outra”.

O preconceito contra o negro era latente na sociedade da época, o que refletia no futebol. O futebol era tido como uma atividade fidalga. Clubes como Fluminense F.C. e C.A. Paulistano não os aceitavam em hipótese alguma. Então, por conta da confusão, em 5 de dezembro de 1915, criou-se o Esperança Foot-Ball Club , com as cores verde e branco.  O símbolo do clube, o Dragão Verde, foi escolhido por Sebastião Oliveira na edição de 26 de maio de 1955, no Programa Ondas Veredejantes na Rádio Sociedade de Friburgo AM. 

A explicação para as cores deve-se ao referencial verde da palavra esperança. Houve quem dissesse pelas ruas da cidade na época tratar-se de uma alusão à Fábrica de Rendas Arp S/A, empregadora da maioria dos jogadores do time. Note-se que o reduto deste era o bairro do Paissandu, ao lado da empresa, situada na Avenida Conselheiro Julius Arp. 

Foram fundadores do Esperança F.C. Adelino Salerno, Armando Ferreira, Antônio da Fonseca Coelho, Antônio Gonçalves de Mello, Alfredo Marques de Oliveira, Alfredo Pio de Oliveira, Admário Silva, Adolpho Ferreira Serpa, Arthur Guimarães, Carlos Rotay, Carlos Silvério, Contran Mury, Dídimo Manoel de Oliveira, Dionízio de Oliveira, Elias Marra da Silva, Elpídio Baltazar, Ernesto Tessarollo, Eugênio Costa, Ezídio de Assis, Feliciano Moreira, Francisco de Oliveira, Francisco Torres, Feliciano Moreira, Guilherme Bastos, Gumercindo de Oliveira, Horácio de Oliveira, Humberto Moraes, Henrique Raposo, Hermenegildo Falchetto, Januário Caputo, João Bazeti Júnior, João Ciarense, João Gonçalves, José Cordoeira Neto, José Gonçalves, Jorge de Carvalho, José Guadagnini, José Vasques, Juvenal Folly, Manoel Gonçalves Neto, Manoel Ventura, Nelson Knust, Oscar Gonçalves, Octacílio Carvalho, Onézio Warol, Ricardo de Oliveira e Waldemar Reis. Essas pessoas reuniram-se na Rua Visconde do Bom Retiro, atual Rua Moisés Amélio, Centro. O sócio contribuinte número 1 foi João Bazeti.  

A primeira diretoria foi constituída pela assembleia de fundação. O primeiro presidente foi Manoel Gonçalves Neto, o Zinho; o vice-presidente era Dídimo Manoel de Oliveira, o tesoureiro, Gumercindo de Oliveira; e o secretário, Francisco de Oliveira. Os primeiros anos de vida do Esperança F.C. foram muito difíceis. O clube não contava com a simpatia nem a aprovação da burguesia, reunida pelo Friburgo F.C. 

Dentre tantas histórias e curiosidades, há quem diga que a imprensa era contrária ao time. O Jornal A Paz, ligado ao grupo do político liberal Galdino do Valle, fazia distinções entre os eventos patrocinados pelos dois clubes. O meio de comunicação era pródigo em elogios ao Friburgo F.C., não tendo a mesma tratativa com o Esperança F.C.

Durante uma assembleia realizada em 16 de setembro de1973, foi aprovada a fusão com o E.C. Conselheiro Paulino. Exatamente seis anos depois (16 de setembro de 1979), uma nova fusão foi concretizada: Esperança F.C. e Friburgo F.C., dando origem ao Nova Friburgo F.C.

* Com informações, fotos e colaboração do pesquisador Fábio Nicoliell

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