Toque friburguense dá vitória à Mancha Verde, em São Paulo

Carnavalesco Jorge Freitas assumiu a escola paulistana em 2018 e levou para a avenida produtos de Friburgo
quarta-feira, 06 de março de 2019
por Paula Valviesse (paula@avozdaserra.com.br)
Jorge Freitas durante o desfile da Mancha Verde (Fotos de divulgação)
Jorge Freitas durante o desfile da Mancha Verde (Fotos de divulgação)
Uma lista de grandes conquistas pontuam o caminho do friburguense Jorge Freitas desde o seu ingresso como carnavalesco da Unidos do Amparo, escola criada com a sua ajuda, no 4º distrito de Nova Friburgo, na década de 1980, até a conquista do primeiro título da Mancha Verde, este ano, no carnaval paulista.

"Nova Friburgo é um celeiro de grandes artistas, ´grande exportadora de talentos"

Jorge Freitas

O reconhecimento pelo trabalho e também pelas vitórias no carnaval do município o levaram primeiro para o Rio de Janeiro, onde não demorou muito para se tornar um grande nome do carnaval carioca, depois para a “Terra da Garoa”, onde já acumula diversos títulos.

Tão logo foi divulgado o resultado da campeã do carnaval de São Paulo, A VOZ DA SERRA entrou em contato com o carnavalesco nascido em Friburgo, e marcou esta entrevista, realizada por telefone.

Jorge Freitas é cenógrafo, artista plástico, diretor artístico e carnavalesco. No município, além do trabalho com as escolas de samba, que lhe renderam quatro títulos, ele também atuou como professor e foi regente da banda do Colégio Nossa Senhora das Mercês, por 25 anos.

Foram oito carnavais assinando desfiles das escolas do Rio de Janeiro, onde em 1996 conquistou o primeiro título com o Grêmio Recreativo Escola de Samba Arranco, na Série B, sendo também responsável pela organização de outras grandes escolas, como Vila Isabel e Portela. São 19 anos brilhando no carnaval paulista, chegando em 2019 ao 7º campeonato conquistado.

O compromisso de organizar o desfile deste ano do Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Mancha Verde foi firmado no início de 2018. Por se tratar de uma escola originada da torcida organizada do Palmeiras, Jorge conta que o desafio começou na estruturação dos componentes, sendo necessário trabalhar essa mistura torcida/escola:

“A Mancha é uma escola muito nova e era preciso, primeiro, obter uma estrutura antes de dar início a um projeto audacioso de carnaval. Eu usei a minha formação e a experiência adquirida em Nova Friburgo como professor e regente, como um diferencial no carnaval paulista. Foram dez meses de muito trabalho, mas o compromisso dos componentes com o projeto, a compreensão de que eles são a principal parte da escola foi o que nos trouxe esse resultado”, conta o carnavalesco.

Resolvida a estruturação, Jorge não mediu esforços e nem audácia ao trabalhar o enredo escolhido pela Mancha, este ano. “Oxalá, salve a princesa! A saga de uma princesa negra”, falou de temas atuais, como a violência contra a mulher, a escravidão e a intolerância religiosa, através da história de Aqualtune, avó de Zumbi dos Palmares, a quem foi feita uma grande homenagem à sua luta pelos direitos de negros e mulheres.

“Queríamos um tema atual e, infelizmente, as questões da intolerância, da violência contra a mulher são muito atuais. Pude ajudar a contar a história de uma protagonista guerreira, que nasceu princesa, foi trazida para o Brasil como escrava, mas que apesar disso lutou bravamente por toda uma comunidade. O enredo incentiva as mulheres a se manifestarem contra a violência, prega o respeito a todas as religiões, são questões sociais que fazem parte do carnaval, porque nesse movimento conseguimos alertar para os problemas e cobrar soluções. É mais do que a beleza das alegorias, é uma responsabilidade social”, explica Jorge.

Acostumado com o clima friburguense, a adaptação de Jorge em São Paulo foi fácil, como ele mesmo conta. A grande diferença entre os carnavais cariocas e paulistas para ele é o tamanho do evento, a dimensão das alegorias. No desfile da Mancha Verde a ousadia estava também nos carros: “As alegorias vão 15 dias antes para o sambódromo e chegam a medir 20 metros de altura. Este ano confeccionamos o maior carro alegórico, uma estrutura de 80 metros, cuja montagem foi toda feita embaixo de muita chuva. O clima é bem parecido com o de Nova Friburgo, já estou acostumado”, brinca.

Para contar essa história no Sambódromo do Anhembi, Jorge revela que teve mais uma ajuda de sua cidade natal. Segundo ele, toda a decoração usada no desfile foi confeccionada em Nova Friburgo, com exclusividade, por uma fábrica de aviamentos de grande porte, localizada em Conselheiro Paulino. “Estive na cidade em maio para fazer o pedido. Todos os aviamentos, que foram o ponto alto do desfile, pela perfeição dos acabamentos, foram produzidos no município, um material que agora só estará disponível no mercado para o carnaval do ano que vem”.

Após a vitória, Jorge diz que irá tirar alguns dias para viajar. Pretende em breve voltar ao município, onde mantém residência, para passar alguns dias com familiares e amigos. Ele conta também que, apesar da distância, acompanha com muito orgulho o carnaval friburguense:

“Nova Friburgo é um celeiro de grandes artistas, temos representantes em vários segmentos do carnaval e em várias escolas, tanto no Rio quanto em São Paulo. No mundo das artes, falando em especial das artes carnavalescas, nossa cidade é grande exportadora de talentos”, concluiu Jorge.

 

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