Sorvetes refrescam calor e aquecem negócios em Friburgo

Da fábrica que produz 8 mil picolés por dia à novidade do sorvete artesanal, produtos viram mania todo verão
sábado, 26 de janeiro de 2019
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)

Quem não tem cão caça com gato, quem não tem praia vai de cachoeira e quem não tem os dois toma sorvete. Ainda bem que Friburgo tem os dois: cachoeiras e sorvetes aos montes.

Direto da terrinha, há 38 anos, a sorveteria Fribourg é sinônimo de tradição. Com uma fábrica modesta, mas com um maquinário de primeira qualidade, tem uma produção em larga escala que não só abastece o nosso município, como também outras cidades do estado. Nossa equipe foi conferir de perto como são feitas essas delícias refrescantes que amenizam o calor, em dias de sol de rachar.

Muito conhecida em Friburgo, a sorveteria passou por um momento difícil há dois anos. “Nossa sorveteria começou com o meu marido, Sebastião (Miler). Depois que ele faleceu eu pensei em parar com a produção, mas meus filhos Cristiano e Everton me deram muita força e pediram que eu continuasse. Eles assumiram a fábrica e eu fiquei por trás, ajudando e comandando, também. Então, vamos tocando a vida conforme ela vai nos presenteando, com esse calorão”, brinca, Vera Lúcia.

Depois de um 2018 com muita chuva e um verão moderado, de acordo com ela, 2019 ‘chegou com tudo’. “Graça a Deus a produção está em alta. Nós estamos bombando, porque o verão está aí. É alta temporada, muita procura, muito consumo, e assim, nosso produto tem muita saída. O sorvete nunca sai de moda e ele não é só algo que refresca, ele é um alimento feito de leite, tem proteínas. Sem contar que o sorvete pode livrar as pessoas de gripes”, afirma a proprietária.

De fato, especialistas dizem que o alimento gelado ou água fria não causam gripe nem influenciam na gravidade dos sintomas. A gripe é causada por vírus e não por diferenças na temperatura dos alimentos.

De variados sabores, a produção é intensa. Segundo Vera Lúcia, milhares de unidades de picolés são produzidas diariamente. “São 38 sabores de sorvete e 18 de picolé. Os mais recentes são o Floresta Negra, Ninho Trufado e  Churros. Os que saem mais são chocolate, chocolate nevado, chocolate suíço, pistache e amarena. No verão, chegamos a produzir cerca de oito mil picolés e cerca de 860 litros de sorvete por dia. Estamos em algumas cidades do estado como Macuco, Cachoeiras de Macacu, Santa Maria Madalena e também há pedidos em Vitória (ES)”, lista.

Qualidade é fundamental e para a produção de sorvetes da Fribourg é prioridade. Tanto que Vera Lúcia nos confidenciou que prefere ter um custo mais caro, para não perder a qualidade de seus produtos.

“Todos os nossos produtos são pasteurizados, tudo é de primeira qualidade e o mais importante, sem repassar ao consumidor, que compra nossos sorvetes e picolés a um preço bem em conta. Nos nossos produtos não usamos gordura trans e sim a gordura palma (extraído da polpa do fruto da palmeira oleaginosa sem uso de solventes ou outras substâncias químicas). Isso deixa a gente tranquila no que diz respeito ao cuidado com a saúde dos nossos clientes. Vendemos sabor com qualidade”, finaliza.

Néctar produz 18 sabores de sorvete e 25 de picolés naturais

Quando você quer fazer alguma coisa bem feita tem que fazer você mesmo. Pensando nisso, Filipe e seu pai, José Carlos Xavier, resolveram fabricar sorvetes e picolés, artesanalmente. O processo é todo feito à mão, da confecção dos produtos à embalagem. Desde 1984, Filipe e seu pai fazem da Néctar uma sorveteria diferenciada que adoça e refresca o verão friburguense.

“Quando a gente fala que o produto é artesanal, a pessoa tem mais confiança no que estamos vendendo. Inclusive, por sermos uma empresa relativamente pequena, nossa produção, às vezes, não acompanha a demanda. Eu explico pro pessoal que chega aqui e pede um determinado sabor que está em falta, que nós vendemos o produto o mais natural possível. Tudo que está aqui foi produzido há poucos dias. Se eu quisesse congelar e vender daqui a uns meses, até poderia, mas a diferença de sabor seria enorme e eu não quero isso. Quero que as pessoas sintam o real gosto do sorvete”, explicou Filipe.

Ao visitar a sorveteria, localizada na General Osório, 154, Centro – percebemos o quão trabalhoso é manter a qualidade dos produtos. “Eu e meu pai fazemos o sorvete, embalamos, cuidamos da propaganda, fazemos tudo.  Hoje, a minha namorada ajuda também e tem a Larissa que trabalha com a gente e dá uma força com o açaí. É comum ficarmos até de madrugada na fábrica, fazendo os sorvetes e picolés para chegar no dia seguinte e colocar a produção na loja. Tudo é feito manualmente. No sabor torrone, por exemplo, a gente torra o amendoim, mistura os outros ingredientes, extraindo a polpa da fruta. Somos todos artesanais”, reiterou.

Torrone e queijo com goiabada são as apostas de Filipe para o verão 2019, sem contar os outros 16 sabores de sorvetes e os 25 de picolés. “Os nossos sabores são intensos porque usamos muito da matéria-prima. Um exemplo é o picolé de acerola, no qual usamos 40% da fruta mais 60% dos demais ingredientes.

No caso das frutas, são sabores veganos, nenhum produto tem origem animal. Muitos clientes me agradecem porque a maior parte dos picolés ou sorvetes levam ovos e/ou leite. Não usamos corantes, aromatizantes, essências, enfim, nada que remeta à industrialização”, revelou.

E brincou: “Nossos produtos são tão naturais que aqui na sorveteria não tem aquelas caldas e coberturas justamente para que a pessoa sinta o gosto da fruta. Muitos pais até me agradecem por não ter esses produtos. Imagina você colocar uma cobertura artificial de morango em um sorvete feito com 40% de morango? Perde a graça, né?”, encerrou Filipe, sorrindo.

História

Contam que já no século I o imperador romano Nero comia uma mistura que lembra o sorvete, feito com a neve e o gelo transportados das montanhas para Roma. O gelo era misturado com coberturas de frutas e tornou-se a sobremesa favorita das elites daqueles tempos. Mais tarde, entre os anos 618 e 697, o imperador chinês King Tang misturava leite com o gelo, criando uma espécie de sorvete parecido com os atuais.

Este hábito de misturar gelo com as sobremesas foi trazido para a Europa pelo explorador veneziano Marco Polo, quando voltou do Oriente trazendo uma receita para fazer sorvetes de água. Surgiram assim novas receitas de misturas geladas com leite e ingredientes aromáticos, servidos nas cortes reais francesa e italiana.

No século 17, quando o monarca Francisco I esteve em campanha na Itália, decidiu levar para seu filho, o Duque de Orleans, uma noiva: Catarina de Médicis. A ela atribui-se a introdução do sorvete na França. Em 1660, Procopio Coltelli inaugurou, em Paris, a primeira sorveteria do mundo.

A neta de Catarina de Médicis, casada com Carlos I, da Inglaterra, seguiu a tradição da avó e também introduziu o sorvete entre os ingleses. Mais tarde, os colonizadores britânicos levaram o sorvete para os Estados Unidos onde a “sobremesa” ganhou a mesma aceitação. Personalidades americanas como Thomas Jefferson, George Washington e outros, aderiram. Em 1776, NY inaugurou um ponto comercial de sorvetes e criou o termo “ice cream”.

A primeira máquina

Em 1846, a americana Nancy Johnson inventou uma espécie de congelador que funcionava com uma manivela que agitava uma mistura de ingredientes. Na parte de baixo havia uma mistura de sal e gelo que ajudava no congelamento. Era a máquina percursora da produção industrial de sorvete.

Em 1851, também nos EUA, o sorvete viveu um dos momentos mais importantes da sua história. O leiteiro Jacob Fussel abriu a primeira fábrica de sorvetes em Baltimore, começando a produzir em grande escala. Foi copiado por empresários de Boston, Washington e Nova York. O cone foi inventado pelo italiano Italo Marcioni, que registou a sua patente em 1903.

Por volta de 1920, um salsicheiro britânico se preocupava com a queda das vendas no verão. Foi quando decidiu produzir gelados embalados e vendê-los a um preço acessível. A venda era feita nas ruas usando um carrinho de três rodas com o cartaz: “Stop me and buy one” (Me pare e compre um). Assim nasceu a venda ambulante de gelados.

Tantas variações de diferentes povos e culturas resultaram num dos produtos mais consumidos em todo o planeta. Com a enorme variedade de sabores, cores e formatos, o sorvete deixou de ser uma iguaria exclusiva do verão e passou a estar presente ao longo do ano.

No Brasil

No Brasil, os cariocas foram os primeiros a experimentar a delícia gelada. Em 1834, um navio americano aportou no Rio com 200 toneladas de gelo em blocos, para fazer sorvete. Os blocos foram armazenados com serragem em depósitos subterrâneos e conservados por aproximadamente cinco meses.

Não havendo como conservar o sorvete depois de pronto, as sorveterias anunciavam o horário das vendas. Como as mulheres eram proibidas de entrar em bares, cafés e confeitarias, elas quebraram o protocolo e passaram a fazer fila para desfrutar da novidade.

Em 1941, com o sorvete sendo distribuído em escala industrial, a U.S. Harkson do Brasil, a primeira indústria brasileira se instalou nos galpões alugados da falida fábrica de sorvetes Gato Preto, no Rio. O primeiro lançamento (1942) foi o Eski-bon, seguido pelo Chicabon, e 18 anos depois (1960), mudou o nome para Kibon.

Segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (ABIS), o consumo de sorvetes no Brasil tem aumentado consideravelmente. Em 2003 foram consumidos 683 milhões de litros. Em 2014, os números saltaram para mais de 1,3 bilhão, um crescimento de 67%. Nos últimos 5 anos, o consumo cresceu 300 milhões de litros anuais: mais de 6 litros por pessoa.

Atualmente, o Brasil conta com oito mil empresas ligadas à produção e comercialização de sorvete. O setor gera 75 mil empregos diretos e 200 mil indiretos, com um faturamento anual acima de R$ 12 bi.

 

 

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