Soro contra animais peçonhentos: estoque reposto, porém reduzido

Ministério da Saúde estaria enviando medicamento em menor volume. Cidade registrou 44 casos de picadas só este ano
quarta-feira, 27 de março de 2019
por Jornal A Voz da Serra
Escorpião encontrado em Friburgo no fim do ano passado (Arquivo AVS)
Escorpião encontrado em Friburgo no fim do ano passado (Arquivo AVS)

A Prefeitura de Nova Friburgo informou na manhã desta quarta-feira, 27, que as unidades de saúde da cidade estão sem soro utilizado para o tratamento de picadas de animais peçonhentos, como cobras, aranhas e escorpiões. Por isso, pede que a população redobre os cuidados para evitar acidentes até normalização do estoque.

No fim da tarde, porém, a Subsecretaria de Vigilância em Saúde informou à coluna do Massimo que, de fato, nas últimas semanas, faltou soro antiofídico, mas o estoque já foi reposto. Ainda assim, segundo a subsecretaria, ele não vem em grande quantidade como vinha no passado, houve uma redução na produção, e por isso o órgão pede à população para que se proteja e evite locais de maior incidência.

Segundo a subsecretaria, o soro é uma exclusividade do Hospital de Emergência, o Raul Sertã, não sendo oferecido em posto de saúde.

De acordo com a nota da prefeitura, o estoque do município foi zerado devido ao abastecimento irregular feito pelo Ministério da Saúde. “O órgão é o responsável por produzir e distribuir, via secretarias estaduais, o tratamento antipeçonhento. Nos últimos meses, a quantidade encaminhada para Nova Friburgo foi tão reduzida que o Hospital Municipal Raul Sertã não dispõe de estoque”.

De janeiro até esta terça-feira, 26, a Secretaria Municipal de Saúde já contabilizou 44 ocorrências de picadas de animais peçonhentos, sendo quatro envolvendo serpentes, 30 com aranhas, sete de escorpiões e três de lagartas. Houve ainda casos de picada de abelhas, mas nenhum demandou utilização de soro.

Moradores e turistas que forem frequentar locais como matas, trilhas e florestas devem usar equipamentos de proteção individual, como botas e luvas grossas. A secretaria ainda orienta que a população evite capturar animais peçonhentos e verifique sempre roupas e calçados antes de usá-los.

A VOZ DA SERRA entrou em contato com o Ministério da Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde para esclarecer a falta do soro na cidade e aguarda uma posição sobre o assunto.

Invasão de escorpiões

No final de 2018, escorpiões estavam invadindo imóveis em bairros como Cônego, Olaria e Tingly e também do distrito de Lumiar. No ano passado, seis pessoas haviam sido picadas por escorpiões em Nova Friburgo, segundo informou na época a Secretaria Municipal de Saúde. O verão e o aumento da umidade são propícios a escorpiões em áreas urbanas.

Presentes na natureza há mais de 400 milhões de anos, os escorpiões são os animais peçonhentos responsáveis pelo maior número de casos de intoxicação humana no Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, da Fundação Oswaldo Cruz (Sinitox/Fiocruz). As picadas de escorpiões correspondem a aproximadamente 60% dos acidentes com animais peçonhentos no país.

“Desse total, 97% são classificados como leves, porque os animais não inoculam veneno ou, quando o fazem, apenas uma fração do veneno é injetada, causando apenas dor. Mas entre os acidentes graves envolvendo crianças e idosos a letalidade é considerada alta devido à toxicidade desse veneno. O escorpião é uma praga urbana e em 2015 o número de óbitos por picadas de escorpião, nas áreas rurais e urbanas no país, superou o de mortes por picadas de serpente”, disse biólogo e pesquisador da Fiocruz, Claudio Maurício Vieira de Souza.

No Estado do Rio, são conhecidas nove espécies de escorpiões. Três aparecem com mais frequência próximas ao homem: Thestylus aurantiurusTityus costatus (consideradas causadoras de acidentes que não agravam) e Tityus serrulatus, o escorpião-amarelo, responsável por provocar acidentes graves, sobretudo, em crianças e idosos. “Essa é uma das espécies mais venenosas que existem e vem se espalhando em áreas urbanas porque, entre outras coisas, prolifera facilmente e estaria ocupando o lugar de escorpiões menos nocivos”, disse o biólogo.

Para Cláudio, as cidades não estão sendo invadidas por escorpiões. O que ocorre é que os modelos de alterações ambientais e de ocupação do espaço pelo homem promovem a criação de condições que favorecem várias espécies de animais que passam a viver em uma situação chamada de sinantropia, quando animais colonizam habitações humanas e seus arredores retirando vantagens em matéria de abrigo, acesso a alimentos e água. “Entre essas espécies estão algumas de escorpiões perigosos, que como vivem junto com o homem, causam os acidentes e são dispersadas pelas nossas atividades, aumentando o problema ou introduzindo-o em novas áreas. Não há uma migração espontânea de escorpiões para as cidades”.

O especialista  explica que o escorpião não costuma atacar sua presa e usa o veneno como instrumento de defesa. O animal é atraído por locais habitados por baratas, que são uma fonte de alimento e costumam aparecer com mais frequência durante o verão. Há uma correlação direta entre a ocorrência de acidentes e os meses mais quentes e úmidos do ano. Os escorpiões se adaptam muito bem à vida no subterrâneo das cidades e quando buscam um abrigo provisório, acabam subindo pelas tubulações, ocasiões em que podem terminar escondendo-se dentro de residências.

Como se proteger

O biólogo orienta que para a prevenção de acidentes com escorpiões são necessárias medidas que eliminem os abrigos úmidos onde vivem (entulhos, frestas, materiais de condução, forros, panos deixados no chão, encanamentos, entre outros); cuidados com as aberturas por onde possam ter acesso às casas (ralos, frestas de portas, janelas, vasos de plantas, materiais em geral que entram na residência) e; eliminação dos insetos domésticos (limpeza frequente, cuidados com o lixo, etc.).

“Existem inseticidas que são registrados nos órgãos competentes para controle de escorpiões, mas, embora testados em laboratório, ainda não foram avaliados com métodos científicos de campo no Brasil. Há também empresas de controle de pragas registradas que oferecem esse serviço com garantia”, disse.

  • Encontrei um escorpião em casa. O que fazer?

Cláudio destaca que mesmo perigosos, os escorpiões são protegidos pela Lei de Fauna Silvestre e somente podem ser controlados por órgãos públicos ou entes privados quando em sinantropia e oferecendo risco à saúde humana. A população deve, sem se expor a risco de acidente, tentar aprisionar o animal e informar ao órgão público municipal de saúde. Em Friburgo, deve-se ligar para Vigilância em Saúde Ambiental, telefone (22) 2543-6293.  
 

  • Fui picado, e agora? 
     

No caso de picada de escorpião a pessoa deve lavar o local com água e sabão e procurar socorro médico imediatamente, informa o especialista. “A pessoa picada pode procurar o primeiro atendimento em qualquer serviço de saúde, mas o tratamento específico, para aqueles acidentes classificados como moderados e graves, deve ser feito em centros de referência onde há soro específico para o tratamento”, afirmou o biólogo.

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