Samba: a batida do coração

Pesquisador relaciona evolução das escolas friburguenses e cariocas, com suas paradinhas e surdos
sábado, 02 de dezembro de 2017
por Ana Borges
Desfile na Alberto Braune (Arquivo AVS)
Desfile na Alberto Braune (Arquivo AVS)

A palavra “samba” tem origem no iorubá, dialeto bantu, que significa “batida do coração”. Neste contexto, no século 19, o vocábulo se referia a toda e qualquer manifestação cultural descolada da tradição europeia clássica.

De acordo com o pesquisador friburguense Fábio Nicoliello, na primeira metade do século passado Nova Friburgo se transformou com a industrialização, que estimulou a migração, que, por sua vez, resultou em uma nova classe social: o operário.

“A nova realidade econômica promoveu o florescimento de relações sociais que originou novas manifestações culturais. Uma delas foi a criação das escolas de samba”, revela Nicoliello, acrescentando que Nova Friburgo sempre se destacou na área cultural, com o desenvolvimento de atividades em todos os segmentos artísticos.

Companhias nacionais e internacionais teatrais apresentavam-se por aqui, e foi nesta época que duas bandas musicais surgiram: a Sociedade Musical Beneficente Euterpe Friburguense (1863) e a Sociedade Musical Beneficente Campesina Friburguense (1870). Ambas, em plena atividade até hoje.

Essas associações, ao longo do tempo, transformaram-se em importantes centros de socialização. Em torno delas, a partir de concorridos bailes, formaram-se grupos de músicos que, ao ganharem as ruas, receberam a denominação de “blocos carnavalescos”. Desse modo, já em fins do século 19, a cidade contava com um importante carnaval no interior do estado, que resultou, ainda na primeira metade do século 20, na fundação das escolas de samba, das quais, quatro estão em atividade até hoje: Alunos do Samba, em 2 de fevereiro de 1946; Unidos da Saudade, em 7 de setembro de 1948; Vilage no Samba, em 23 de setembro de 1948; e Imperatriz de Olaria, em 29 de março de 1976.

E o carnaval tomou conta da avenida

Com a transferência da Alunos do Samba para Conselheiro Paulino, em 1976, surgiu a rivalidade entre bairros. Desde então, cada uma assumiu um estilo de fazer samba, conta Nicoliello. Segundo ele, na Alunos, à exceção da época do carnavalesco Elói Machado (1945-1991), os sambas-enredo receberam forte influência do samba de bumbo, típico das folias de reis.             

Já com a Saudade, a partir da década de 1970, os sambas-enredo receberam forte influência harmoniosa do samba-joia, vertente cujo maior ícone é o cantor e compositor friburguense Benito di Paula. “Nela, o gênero vai do bolero ao pop romântico, aproximando-se do ritmo dos salões e se afastando dos sambas de terreiro, de quadra e do partido-alto. Apresentava uma marcação mais lenta e uma rítmica melodiosa, com ênfase à sonoridade convidativa à dança”, explicou.

A Acadêmicos das Braunes, que deu lugar à Acadêmicos do Prado, seguia à risca a tradição da madrinha, a Estação Primeira de Mangueira, uma exigência de seu fundador Zequinha Damasceno. Funcionou entre 1968 e 1986. “A bateria do mestre Carlinhos Fogareiro, segundo a crítica da época, tinha a melhor ala de surdos, com marcação no primeiro surdo, aos moldes da Mangueira”, relembrou Nicoliello.

Quanto à vermelho-e-branca Imperatriz de Olaria, valia a tradição dos compositores do bairro, que debutaram nas extintas Império de Olaria e Unidos do Terreirão, especialmente o compositor Tião Mercedes. “Com ênfase na letra e na harmonia das formas, tendo a marcação das caixas como som preponderante, sob a forte influência de Xangô, orixá-chefe do vermelho”.

Por fim, a Vilage no Samba recebeu forte influência das verde-e-brancas cariocas Império Serrano, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente de Padre Miguel. “Essa influência se justifica pela histórica regência de Mestre André, o pai das paradinhas, na bateria da escola, na década de 1970”, completou o pesquisador.

O estilo variava a forma dos compositores cariocas. Mas, nos últimos anos, a Vilage consolidou seu próprio estilo ao exportar para o carnaval do Rio os compositores Jefferson Lima, o Jefinho, Estandarte de Ouro em vários carnavais, e seu parceiro, o saudoso Rubem Venezia.

 

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