Radiocomunicação pode ajudar no combate a situações de risco

quarta-feira, 08 de maio de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Radiocomunicação pode ajudar no combate a situações de risco
Radiocomunicação pode ajudar no combate a situações de risco

O rádio é a ferramenta de telecomunicação mais eficaz no combate a situações de emergência e catástrofe em geral. Esta é a conclusão a que chegou a União Internacional de Telecomunicações (UIT), agência da ONU. Há na UIT grupos de estudos específicos, dos diversos tipos de ferramentas de telecomunicações hoje disponíveis no mercado. 

Dentre as principais características do rádio a mais relevante de todas é o fato de ser instantânea. Simplesmente aperta-se um botão e transmite-se a mensagem, em tempo real. Não precisa discar, digitar sequências de números ou letras, nem depende de torres, que numa emergência podem não funcionar, caso da telefonia móvel, por exemplo.

Em uma situação onde segundos fazem a diferença entre a vida e a morte — e um minuto é uma eternidade — o uso da radiocomunicação pode mitigar danos e salvar vidas. Um exemplo são as tragédias ocorridas em casas de shows, em particular, a recente e triste situação da boate Kiss, onda grande parte dos jovens morreram asfixiados em razão de não terem conseguido acessar a saída rapidamente. Se os seguranças da boate utilizassem radiocomunicadores, os que estavam no palco poderiam ter avisado imediatamente aos que guardavam a porta de acesso à rua, que prontamente seria aberta para a saída das pessoas e também da fumaça.

O Brasil, signatário e participante da UIT, aplica em seu território muitas normas, decisões e recomendações emanadas por seus fóruns e grupo de estudo. Aeronaves e embarcações, por exemplo, devem obrigatoriamente possuir equipamento radiodifusores. 

O Granf

O Grupo de Radioamadores de Nova Friburgo (Granf) já tem 21 anos de atividade. Carlos Eduardo Fontão (Cacá) é associado há dez anos, dos quais dois como presidente. Ele diz que o rádio — que chegou a ser considerado ultrapassado, devido ao avanço dos demais meios de comunicação, sendo mantido apenas por alguns abnegados — ressurgiu com força total. Em Nova Friburgo ganhou muita importância, principalmente depois do desastre climático de janeiro de 2011, quando a cidade ficou dois a três dias sem energia elétrica e o bravo rádio funcionou apesar de todas as adversidades, facilitando as ações de socorro para quem precisava.

A posição do rádio, hoje, é irreversível, garante Cacá. Ele comenta que no Brasil não havia essa cultura de que o rádio era tão importante, ao contrário dos Estados Unidos, onde tem toda a importância e é levado a sério. Depois da catástrofe — período que mais ou menos coincide com sua gestão — o Granf conseguiu muito mais adeptos e Nova Friburgo hoje está praticamente todo tomado de radioamadores, junto com municípios vizinhos. Só em Nova Friburgo foram feitas três provas recentemente, habilitando mais cem pessoas para essa prática.

Outra conquista do Granf foi a repetidora no pico (altíssimo) da Caledônia, abrigada junto ao complexo da InterTV, que possui gerador de energia elétrica e cobertura contra intempéries, inclusive raios. “Hoje, Nova Friburgo está completamente coberto de rádio, os municípios e até estados vizinhos — Minas Gerais e Espírito Santo —, tudo a partir da torre da Caledônia”, afirma Cacá, que acentua haver outros equipamentos para distâncias menores, sem uso da repetidora, para cobertura no centro da cidade. 

Os radioamadores que têm estações em casa também melhoraram seus equipamentos porque viram a necessidade de estarem com todos eles funcionando perfeitamente. Cacá observa que em sua casa seu equipamento tem duas baterias de 115 amperes, que podem até ser carregadas no carro. 

Os associados do Granf conseguiram com a Cruz Vermelha de Nova Friburgo uma sala para reuniões, no primeiro andar do prédio situado na Praça Getúlio Vargas, 92, no Centro. É onde todos os domingos se reúnem para troca de informações e ideias. Há também um quiosque que permite participações em eventos, como correu no dia 21 de abril, no Dia de Olaria, divulgando o hobby e apresentando os equipamentos.

Mais informações no endereço citado, às quartas-feiras, às 19h, com Gabriel Domingos, ou aos domingos, às 10h, com toda a turma presente, ou pelos telefones 8160-1991 (Cacá) ou 9945-4503 (Carlinhos). O site é www.granf.com.br e o Facebook /granfradioamadorismo. 

Devido ao entrosamento com a Cruz Vermelha e Defesa Civil, sempre que há necessidade o pessoal do Granf é acionado. 

 

A Afra

 

A Associação Friburguense de Radioamadores (Afra) ainda não estava formada na tragédia climática de janeiro de 2011. Porém, os que hoje a integram atuaram de forma decisiva para que o socorro chegasse um pouco mais depressa a quem precisava. De acordo com o diretor de comunicação e divulgação Antônio Marcos da Rocha, os radioamadores trabalharam em conjunto com a Defesa Civil e o Granf. Foi um trabalho de grande importância num momento em que faltava elementos fundamentais, como a energia elétrica e outros tipos de comunicação. 

Os radioamadores se espalharam pelo município, mas não havia comunicação com o Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Bope, pois os rádios dessas corporações não funcionam na frequência dos radioamadores. Equipamentos foram cedidos a essas equipes e formou-se uma rede, o que facilitou o deslocamento aos locais mais necessitados.

Posteriormente, nas eleições de outubro de 2012, o juiz eleitoral Leonardo Telles formulou um convite aos radioamadores para colaborarem no pleito. O grupo ainda não estava oficialmente formado, documentado. Foi, então, criada a Afra e a Rede de Emergência de Radioamadores de Nova Friburgo (Renf), acionada sempre que há algum a emergência. Inclusive a Renf atuou na tragédia de Xerém, conforme solicitada via rádio.

A Afra também usa torres para repetidoras. Uma fica na Pedra do Imperador, outra em Cantagalo e mais uma em Santa Maria Madalena, cedida pelo radioamador Feijó. As três são interligadas e o alcance é grande, chegando até a cidade do Rio de Janeiro e outras 67 cidades. Mas, se a torre falhar, é possível fazer a comunicação ponto a ponto. Se um radioamador não conseguir falar direto para Lumiar, por exemplo, ele aciona um colega que consegue e é estabelecido um intercâmbio para a comunicação necessária.

 A Afra está mantendo entendimentos com a Prefeitura de Nova Friburgo e Ministério Público Federal solicitando autorização para uma emissora de rádio FM de emergência. Seria parecida com uma rádio comunitária, só que não há programação diária: entra no ar a qualquer momento para uma notícia relevante, das polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, eleições, campanhas de vacinação e outras situações — somente se for realmente necessário. Os entendimentos estão prosseguindo e será inédita no Brasil. 

 

 

 

 

 

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Rádio amador | Granf | tragédia
Publicidade