Psicólogas de Friburgo falam sobre impactos das redes sociais na depressão

Segundo elas, Instagram é a que mais influencia negativamente a saúde mental dos usuários
segunda-feira, 06 de novembro de 2017
por Guilherme Alt
(Foto:Tecmundo.com.br)
(Foto:Tecmundo.com.br)

É um silêncio ensurdecedor. É um respirar sufocado, é uma ansiedade, angústia e perda de interesse pela vida real. A depressão normalmente é causada por situações perturbadoras ou estressantes que ocorrem na vida, como morte de um familiar, problemas financeiros ou divórcio. No entanto, também pode ser provocada pelo uso de alguns medicamentos, ou em caso de doenças graves.

De acordo com especialistas, apesar de não estar diretamente relacionada e não ser o agente causador, as redes sociais podem contribuir para o aumento da depressão. São inúmeras redes que possibilitam a interação e exposição de detalhes da vida, às vezes particular. Uma fuga da realidade que causa uma dependência e uma falsa sensação de prazer.

A VOZ DA SERRA conversou com as psicólogas Yasmin Cunha, Helena Jacone e Fernanda Duarte para saber como as redes sociais podem influenciar pessoas pré-dispostas ou já diagnosticadas com depressão.

 

As redes sociais causam depressão?

Fernanda Duarte: Redes sociais por si só não levam ao quadro de depressão. As pessoas que já possuem depressão usam a internet para buscar formas de convívio social, uma vez que são incapazes de buscar relações no mundo real. É nesse momento, que as pessoas que tinham apenas predisposição, acabam desenvolvendo a doença.

Yasmin Cunha: Considero que a as redes sociais são como a ponta de um iceberg, ou seja, na internet, assim como o iceberg, nós não somos apenas o que mostramos ser. A internet pode ser angustiante para algumas pessoas por não conseguirem viver uma história editada na mesma intensidade do que seus seguidores ou sustentar no dia-a-dia essa ilusão de “vida perfeita”.

 

Como é diagnosticada a doença?

Yasmin Cunha: No diagnóstico da depressão levam-se em conta sintomas psíquicos fisiológicos e evidências comportamentais como: humor depressivo, sensação constante de tristeza, fadiga, alterações no sono ou alimentação, perda de confiança e autoestima, pensamento recorrente em morte, a perda da capacidade de experimentar prazer nas atividades em geral, redução do interesse pelo ambiente, entre outros sintomas.

Fernanda Duarte: Você percebe que o agente causador é uma rede social a partir do momento que a pessoa cada vez mais se afasta do convívio social, se refugia nas redes sociais e reforça seus problemas com o mundo real. Ao verificar que uma pessoa deixou de se dedicar aos amigos e família para passar muito tempo no computador ou celular, é o momento de acender um sinal de alerta.

 

E como perceber que o agente causador é a rede social?

Yasmin Cunha: A influência das redes sociais no diagnóstico da depressão tem ganhado cada vez mais espaço no que diz respeito às pesquisas. O Instituto Delete revelou que a depressão pode ser considerada um dos sintomas da dependência digital abusiva.

Helena Jacone: Em um indivíduo que já tem a predisposição para a doença, as chances são muito maiores se tiver o uso contínuo das redes sociais.

 

Como é o tratamento?

Yasmin Cunha: As medicações, principalmente combinadas à psicoterapia, constituem o tratamento mais utilizado na atualidade para depressão. Nesse sentido, o trabalho do psiquiatra e do psicólogo são complementares.

Helena Jacone: É importante identificar padrões de comportamento desse indivíduo. Quando associado às redes sociais o tratamento pode ser comparado ao feito em pessoas com dependência química. O terapeuta vai pensar em formas para que o paciente diminua a sua assiduidade nas redes sociais e fique menos dependente delas. A região do cérebro que é acionada quando o indivíduo expõe uma foto e tem um número de likes, esse “sistema de recompensa” é a mesma região acionada quando um usuário de drogas utiliza substâncias químicas que causam dependência. Ele fica dependente dessas respostas positivas.

 

O conteúdo de uma postagem nas redes sociais pode ajudar no diagnóstico de uma pessoa com depressão?

Helena Jacone: A gente até consegue identificar alguns traços que indiquem a depressão, mas não é um padrão. Já tivemos casos de pessoas que tentaram suicídio e a família fez uma rápida pesquisa nas redes sociais da pessoa e tinham várias mensagens de otimismo, coisas que apontavam para uma outra direção. Não podemos nos fixar somente no conteúdo, porque muitas postagens tem a ver com o momento.

Yasmin Cunha: Um estudo apontou que o tipo de fotografias que as pessoas colocam na rede social Instagram, por exemplo, podem indicar uma depressão e permitir, através de uma aplicação, a detectar a doença. Nesse estudo constatou-se que é possível diagnosticar a depressão por meio dos filtros utilizados nas fotos publicadas, considerando que as pessoas que sofrem dessa doença têm mais tendência para escolher um filtro que literalmente tira a cor das imagens que querem partilhar. As pessoas costumam compartilhar suas emoções e sentimentos através de suas postagens, então é importante ficar atento caso encontre mensagens com conteúdos frequentes de tristeza e solidão ou que possam sinalizar sintomas de depressão.

 

O número de postagens influencia nesse diagnóstico?

Yasmin Cunha: De acordo com essa mesma pesquisa, uma frequência maior de posts na rede social também pode ser associada à depressão.

Fernanda Duarte: O número de postagens demonstra o tempo que a pessoa passa nas redes sociais, e a falta de convívio com pessoas no mundo real.

 

Uma pessoa que se abre muito, compartilhando momentos da sua vida que “não interessam a ninguém”, é um comportamento de gente que não está feliz ou que precisa de notoriedade para se autopromover?

Yasmin Cunha: O feedback do mundo virtual é instantâneo, influenciando o sentimento de autoestima de acordo com as curtidas que se recebe, nem que para isso precise divulgar conteúdos que não interessam a alguém para tentar conseguir mais “likes”. Compartilhar informações sobre si mesmo ativa o mecanismo do prazer, estimulando uma determinada área do cérebro responsável pelo sistema de recompensa.

Helena Jacone: A rede social reflete muito o modelo da sociedade atual. Eu costumo citar o que Zygmunt Bauman fala sobre a “Sociedade Líquida”.  São os contatos superficiais e a exigência de que temos que estar bem, sempre. Postar isso nas redes sociais gera likes e ninguém posta e curte postagens de momentos difíceis. Isso gera uma falsa impressão de que as pessoas são felizes o tempo inteiro.

 

Existe um ranking de redes sociais que mais causam depressão?

Yasmin Cunha: De acordo com um estudo da Sociedade Real para Saúde Pública, do Reino Unido, o Instagram é a rede social que mais influencia negativamente na saúde mental dos usuários, em função do compartilhamento de fotos ter mais impacto do que a atualização de status. O A função “stories” do Instagram, pode gerar angústia e medo de perder alguma coisa, no sentido de que as fotos compartilhadas deixam de ser visualizadas em 24 horas, provocando a necessidade de estar conectado o tempo todo para saber o que as outras pessoas estão fazendo naquele exato momento.

Fernanda Duarte: Além do Instagram, o Snapchat é um aplicativo focado no culto à imagem. As duas redes foram indicados como os piores para saúde mental e bem-estar.  Eles estão ligados aos sentimentos de inadequação e ansiedade entre os mais jovens. Os dois aplicativos tem essa tendência mais recorrentes a forjar  a vida perfeita .A foto provoca comparação social imediata, o que pode desencadear sentimento de inferioridade, diz a pesquisa.

 

Existe uma busca constante e uma competição (mesmo que ninguém admita) entre os usuários das redes para mostrar quem está com a vida melhor?

Yasmin Cunha: Com certeza. Sabe aquele ditado “a grama do vizinho é sempre mais verde”?  Se o seu amigo posta fotos em lugares interessantes, festas ou até mesmo em restaurante caro, uma maneira de compensar é compartilhar fotos melhores. Podemos dizer que as redes sociais são construídas no modelo “você vale o que produz” e também o número de seguidores e "likes" que suas postagens conseguem receber.

Helena Jacone: Quando alguém faz uma viagem e posta fotos desses momentos prazerosos nas redes sociais, quem está vendo e não sabe fazer uma leitura correta, acaba desenvolvendo o pensamento de que todos estão felizes o tempo inteiro e ela não. Muitas pessoas não filtram o conteúdo postado e acaba se expondo demais o que pode gerar, por outros usuários, comentários maldosos e isso contribui para a baixo estima.

 

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