Produtores rurais da região se unem contra preços abusivos de atravessadores

Grupo cria tabela de preços mínimos e pretende formar uma cooperativa para modernizar comercialização
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
Plantação em Salinas (Arquivo AVS)
Plantação em Salinas (Arquivo AVS)

Em busca de preços mais justos, pequenos produtores rurais de Nova Friburgo, Teresópolis e Sumidouro aprovaram na última quinta-feira, 22, uma tabela de preço mínimo para venda de hortaliças. Eles também pretendem criar uma cooperativa para reduzirem a dependência de atravessadores, como são chamados os distribuidores que comercializam as verduras e os legumes das propriedades rurais diretamente com o comércio varejista. 

A reunião aconteceu na Ceasa, em Conquista, distrito de Campo do Coelho, e atraiu dezenas de produtores da Região Serrana. O grupo, porém, é maior, reúne mais de 250 agricultores. Eles começaram a se mobilizar para tentar conter os prejuízos causados pelos custos impostos por atravessadores para escoarem a lavoura. Sem muitas alternativas de distribuição, os pequenos agricultores ficavam reféns e cediam às condições abusivas. 

O produtor rural, Cláudio Costa, exemplifica a situação. “Um molho de coentro é vendido a R$ 0,15 ao atravessador. Ele oferece o mesmo produto, ao consumidor final, a R$ 1. Uma diferença de mais de 500%”, disse ele, explicando que o preço que os atravessadores impõem para realizarem o serviço de entrega, muitas vezes, não cobre o custo de produção dos agricultores.

Além da imposição do preço, o agricultor ainda precisa lidar com o aumento recente no custo dos insumos necessários à produção das hortaliças e ainda disputa, no mercado, com produtos vindos de outros estados. Insatisfeitos com essa situação, os produtores da região decidiram se unir, e já na primeira reunião criaram uma tabela de preço mínimo dos produtos. Alguns já estão cobrando com base na nova tabela. 

“Conversei com alguns produtores que já estão praticando os preços tabelados. Outros ainda estão cobrando o preço anterior. Estamos fazendo um trabalho de conscientização para que todos pratiquem os valores da tabela”, disse Cláudio Costa, destacando que a ideia do grupo é constituir uma cooperativa de produtores para que juntos possam modernizar a distribuição e reduzirem a dependência dos atravessadores. 

De acordo com a tabela aprovada na última reunião do grupo, o preço do molho de coentro, que antes era cobrado a R$ 0,15, agora é R$ 0,35. O molho da couve foi tabelado a R$ 0,45. O do espinafre, a R$ 0,50. O molho do brócolis custa R$ 1. A unidade da couve flor é R$ 2. A caixa de alface lisa, com 24 unidades, sai por R$ 10. A caixa com 15 repolhos, a R$ 15. A tabela define o preço de mais de 30 produtos.  

Para a presidente do Conselho dos Dirigentes das Organizações Rurais de Nova Friburgo (Conrural), Pâmela Aparecida Costa da Silva, a adesão à tabela deve reduzir os prejuízos dos produtores. “Há uma insatisfação muito grande com o valor cobrado pelos atravessadores, o custo de produção e os produtos vindos de fora. Os agricultores terão menos perdas com os preços mínimos”, acredita ela. 

Pâmela também afirma que o tabelamento de preços não deve aumentar o custo das hortaliças para o consumidor. “Com a tabela, o consumidor vai saber o custo real da produção. Hoje, por exemplo, uma couve-flor que custa R$ 2 é vendida a R$ 5 pelo atravessador. Ou seja, o atravessador ganha mais do que o produtor. A tabela vai dar mais transparência a essa negociação”, disse Pâmela, que também integra o Sindicatos dos Agricultores Familiares da cidade.

R$ 60 milhões na safra passada

Em Nova Friburgo, há cerca de quatro mil famílias que vivem da agricultura familiar, produzindo couve-flor, brócolis, tomate, abobrinha, repolho, beterraba e alface, por exemplo. Esses produtos são vendidos, principalmente, para cidades das regiões Serrana e Centro-Norte fluminense e também para a capital. Parte da lavoura também é escoada para cidades de São Paulo. Na safra de 2017/2018, a produção local comercializou R$ 60 milhões. 

Procurada, a Secretaria municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural não comentou o tabelamento de preços feito pelos agricultores. Disse que “entende ser de fundamental importância a qualificação profissional dos agricultores e, por isso, realizou capacitações dos agricultores e microempreendedores individuais rurais sobre como destinar sua produção para merenda escolar”, diz a nota. 

A Emater, empresa de assistência técnica e extensão rural do estado, também foi procurada por A VOZ DA SERRA para comentar o assunto, mas não emitiu nenhum parecer, pois ainda estava se informando sobre a iniciativa junto aos produtores da região. 

 

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